Quando ele saiu do quarto já era bem tarde, tentei dormir mas com tudo o que aconteceu demorei a pegar no sono, como minha mãe pôde fazer isso comigo? Com ele?

Se ela queria se vingar dele, que não me usasse pra isso. Ela me impediu de ter um pai, impediu ele de conviver com a própria filha. Que tipo de pessoa a minha mãe era? Por mais magoada e chateada estivesse, eu não tinha culpa de nada e ela jamais deveria ter misturado as coisas.

Uma coisa é relação de pai e filha.

Outra era relação de homem e mulher.

Chorei mais um pouco lembrando que minha mãe via eu sofrer e mesmo assim, continuava com isso. Que espécie de mulher e mãe ela é? Toquei no colar e quis muito que ela me respondesse.

Estava muito triste e decepcionada com ela. E com Jimmy também, ele mentiu pra mim igual ela. Dois mentirosos. Foi pensando nisso, que consegui dormir um pouco, mas mal fechei os olhos e meu celular voltou a tocar.

Olhei as horas. 

05:44 da manhã.

Acabei sorrindo olhando o número.

Dulce: Por quê me acorda tão cedo? - olhei o teto branco.

Christopher: Está tarde. Hora de acordar. Você não me respondeu ontem, nem visualizou minhas mensagens, está tudo bem? - se preocupou.

Suspirei.

Dulce: Eu descobri uma coisa muito séria que me fez ficar sem chão..

Ele ficou calada por um tempo.

Christopher: Que é?

Dulce: Falo pessoalmente. Onde podemos nos encontrar? 

Christopher: Além do vestiário da quadra, conheço um lugar que ninguém vai naquele colégio e que podemos nos encontrar todas as vezes lá.

Dulce: Onde?

Christopher: No porão, lá é bem mais arrumado e limpo do que você imagina. E ninguém lembra dele. Melhor lugar não tem. - garantiu.

Dulce: Vou sair bem mais cedo. Te encontro lá. - avisei.

Christopher: Seu tornozelo melhorou?

Dulce: Muito! 

Christopher: Ótimo!

Fiquei conversando mais um pouco com ele e logo desliguei. Tomei um banho e coloquei a farda, arrumei meu cabelo e já estava descendo as escadas quando ouvi Camila me chamar.

Ela saia do quarto dela.

Camila: Carlos Daniel não para de sorrir - se aproximou com seus saltos fazendo barulho no piso - Parece que a conversa foi tudo bem afinal.

Dulce: Vai me provocar?

Camila: Não. Sempre te odiei e você é cara da sua mãe. A mulher por quem ele me traiu - torceu a boca.

Dulce: Estavam separados.

Ela negou.

Camila: Separação pra mim é no papel, ele ainda era meu marido quando resolveu dormir com sua mãe. Consegui relevar, mas quando me contou sobre você te odiei no mesmo instante.

Dulce: Eu não tenho culpa.

Camila: Tem sim. - desceu uma escada - Você é sim fruto de uma traição, você foi a primeira filha dele na qual ele nunca esqueceu...- negou - Mesmo quando Marian nasceu perfeita, linda e cheia de saúde ele não parava de pensar em você, nem quando ele jurava amor a nossa filha, ele esquecia de você. Desde de sempre foi uma sombra em nossa vida.

Dulce: Continuo não tendo culpa.

Camila: Tem. Ele queria tanto você, que sofria por não conseguir. Eu fiquei muito satisfeita quando sua mãe nunca deixou ele chegar perto de você. Nossa família é apenas Eu, Marian, Olivia e os gêmeos, você não faz parte dela. - seus olhos brilharam de ódio - E nunca fará.

Dulce: E nem quero. Obrigada! - sorri.

Ela se irritou.

Camila: Como mãe vou te dar um aviso, não tente roubar Carlos Daniel da Marian, ele a ama, é minha filha com ele e se fizer minha filha chorar, você vai me conhecer de verdade.

Dulce: É uma ameaça?

Camila: Um aviso da sua querida madrasta. - sorriu.

Dulce: Não vou roubar nada de ninguém. Ele é meu pai e eu sou a filha dele, terão que conviver com isso - voltei a descer as escadas.

Camila: Só mais uma coisa, tome mais cuidado quando for atravessar a rua, não queremos que se machuque, Carlos Daniel se preocupa com sua segurança. 

A encarei.

Ela sorriu.

Voltei a andar.

A mesa estava posta quando entrei na sala, coloquei apenas um café pra mim e pedi para Henrique me deixar mais cedo no colégio, ele foi buscar o carro quando Carlos Daniel entrou na sala.

Carlos: Bom dia.

Dulce: Bom dia. - sorri.

Ficamos nos encarando.

Carlos: Então...

Dulce: Então..- ri.

Carlos: Quer conhecer a empresa hoje? Podíamos almoçar juntos. - convidou.

Dulce: Vou adorar. Mas depois da aula tenho aula extra de espanhol, pode ser despois? - avisei.

Carlos: Perfeito. Te pego quando terminar e vamos almoçar.

Henrique apareceu.

Dulce: Tenho que ir. - deixei a xícara na mesa e comecei a andar.

Carlos: Tão cedo?

Dulce: Preciso ver umas coisas no colégio. Até depois! - sai.

...................

Não foi difícil achar o porão daquele colégio, era bem escondido e pelo visto ninguém ia nele à um bom tempo, desci a pequena escada e percebi que apesar de ninguém entrar nele, era limpo e organizado.

Christopher estava mexendo no celular quando me viu. Me aproximei dele e ele não perdeu tempo e foi logo me beijando intensamente. Retribui o beijo colocando minhas pernas em sua cintura, ele sentou no sofá e eu fiquei no colo dele sem parar o beijo.

Suas mãos apertavam minha cintura.

Segurei sua nuca aprofundado mais o beijo, nós afastamos apenas para respirar, Christopher tocou no meu cabelo sorrindo.

Por que a pessoa do sexo masculino senpre ficam mexendo no meu cabelo? Carlos Daniel, Christopher e até Jimmy fazem isso quando me vêem.

Christopher: Bom dia.

Dulce: Bom dia. - passei meus braços em volta de seus ombros.

Christopher: Agora me fala, o que você descobriu que tirou seu chão?

Suspirei.

Dulce: O quê eu mais odeio nessa vida é a mentira. - comecei a falar - Todos que me conhecem sabem disso. - olhei em seus olhos - E ontem, descobri que passei dezessete anos vivendo em uma mentira e que as duas pessoas que mais confiava são mentirosas.

Christopher: Como assim ruivinha? 

Dulce: Minha mãe passou a vida toda falando que Carlos Daniel nunca me quis e nunca se importou comigo e apenas ontem, descobri que era mentira. Que ela que nunca quis que ele fosse meu pai, que se aproximasse de mim.  Tem noção como fiquei? Ela e meu tio mentiram pra mim e eu fui crescendo com mágoa e raiva dele, sendo que ele fez de tudo para ficar comigo?

Christopher me abraçou.

Christopher: Sua mãe deve ter tido um motivo pra isso, não? Todo mundo tem um motivo. - murmurou.

Dulce: Ela têm sim. Por vingança, ela quis se vingar dele e achou que a melhor forma foi me impedindo de ter um pai e ele de conhecer a filha.

Christopher: Por isso está com essa carinha triste? - beijou meu rosto.

Dulce: É. 

Christopher: Sua mãe não estar aqui, mas seu pai sim. Se aproxima dele, tenta dar um chance pra relação de vocês e conversa com seu tio. - segurou no meu rosto para me encarar - É sempre bom ouvir a outra versão. - falou olhando nos meus olhos e me deu um selinho.

Dulce: Descobri isso ontem mesmo. Mas não quero falar sobre isso. - o abracei mais - Quero falar da gente..- sorri.

Christopher: Já falou com aquele garotinho atrevido? 

Dulce: Não. Mas hoje ou amanhã eu falo. Prometo! - garanti.

Christopher fechou a cara.

Christopher: Ele vai te beijar...

Dulce: Vai não. 

Christopher: Vai sim. 

Me afastei um pouco.

Dulce: Vai não.

Christopher: Se ele encostar em você de novo, vou reprovar ele. - falou sério.

Dulce: Christopher! - o repreendi.

Christopher: Quem manda ele tocar no que é meu - revirou os olhos.

Dulce: Gosto quando fala assim...

Christopher: Assim como? - voltou a tocar no meu cabelo.

Dulce: Que eu sou sua - sorri.

Christopher: Mas você é minha. Só minha...- falou antes de me beijar.

Ficamos nos agarrando no sofá por um bom tempo. Ter Christopher era a melhor coisa que aconteceu na minha vida, sem sombra de dúvida a melhor.

Quem ainda odeia o Carlos Daniel?

Senti pena dele...

Essa mãe da Dulce foi um monstro de fazer isso.

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