Fanfics Brasil - | 16 | Lick ADP Levyrroni

Fanfic: Lick ADP Levyrroni | Tema: Levyrroni


Capítulo: | 16 |

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Adrian ficou furioso com os hematomas no rosto de William. Tampouco pareceu contente em me ver novamente. Tive um breve vislumbre de dentes de tubarão antes que ele se apressasse para um canto do vestiário bem longe de mim. Os seguranças ficaram do lado de fora, permitindo a entrada apenas daqueles convidados no santuário interno.


O show era num salão de baile de um dos hotéis mais chiques da cidade. Muitos candelabros reluzentes e mesas com toalhas de seda vermelha tomadas por estrelas e pela gente bonita que as acompanhava. Ainda bem que eu usava um vestido azul, o único que cobria tudo remotamente, e um par de sapatos de salto altíssimos que Martha encomendara. Kaetrin, a Garota do Biquíni, a antiga amiga de William, estava do outro lado da sala com um vestido vermelho e uma carranca. Ela acabaria com rugas se continuasse assim. Felizmente, ela se cansou de fazer beicinho depois de um tempo, e se afastou. Não a culpava por estar brava. Se eu perdesse William, também ficaria furiosa. Mulheres pairavam próximas a William, na esperança de chamar a atenção dele. O modo como ele as ignorou foi louvável.


Não havia sinal de Jimmy. Mal estava sentado com uma asiática maravilhosa num joelho e uma loira peituda no outro, ocupado demais para conversar comigo. Eu ainda não conhecera o quarto membro da banda, Ben.


–Ei –disse William, trocando minha taça intocada de Cristal por uma garrafa de água –Pensei que você preferiria isto. Está tudo bem?


–Obrigada. Sim. Está tudo bem.


Que homem maravilhoso, ele bem sabia que eu ainda não tinha me recuperado por completo do episódio de Vegas para me arriscar a beber alguma coisa alcóolica. Ele assentiu e colocou a taça de champanhe na bandeja de um garçom que passava. Depois, tirou a jaqueta de couro. Outras pessoas podiam vestir um smoking, mas William era fiel aos seus jeans e botas. Sua única concessão para a ocasião foi vestir uma camisa social preta.


–Faça-me um favor e vista isto.


–Não gosta do meu vestido?


–Claro que sim. Mas o ar-condicionado está um pouco forte aqui –disse ele, passando a jaqueta ao redor dos meus ombros.


–Não está, não.


Ele me lançou um sorriso maroto que teria derretido o mais duro dos corações. O meu não tinha a mínima chance de sobreviver. Com um braço em cada lado da minha cabeça, ele se inclinou bloqueando a vista de tudo e de todos.


–Acredite em mim, você está achando o ar um pouco frio. –O olhar dele caiu para os meus seios e eu entendi o que ele dizia. O vestido era feito de um tecido fino, leve. Lindo, mas nem um pouco sutil de certa forma. E, evidentemente, o meu sutiã não estava ajudando em nada.


–Puxa.


–Hum. E lá estou eu, tentando tratar de negócios com Adrian, mas sem sucesso. Estou absolutamente distraído porque amo o seu equipamento.


–Excelente. –Passei o braço sobre o peito da mais sutil das maneiras.


–Eles são lindos e preenchem minhas mãos do jeito certo.


É como se tivéssemos sido feitos um para o outro, sabe?


–William.... –Sorri como a tola excitada que era.


–Às vezes, vejo esse quase sorriso nos seus lábios. E fico imaginando o que você está pensando, parada aqui, observando tudo.


–Nada em especial, só absorvendo tudo. Ansiosa para vê-lo no palco.


–Está?


–Claro que estou. Mal posso esperar.


Ele me beijou de leve nos lábios.


–Depois que isso acabar, vamos dar o fora daqui, está bem? Vamos para algum lugar, só você e eu. Podemos fazer o que você bem entender. Sair de carro e ir comer alguma coisa, quem sabe.


–Só nós dois?


–Isso mesmo. Fazer o que você quiser. 


–Ótima ideia.


O olhar dele derrapou no meu peito.


–Você ainda está com pouco de frio. Eu poderia aquecê-la. Qual a sua opinião quanto a eu aquecê-la com as mãos em público?


–É não. –Virei o rosto para tomar um gole de água. Mesmo que o ar estivesse ártico, eu precisava me refrescar.


–É, foi o que pensei. Venha. Peitos grandes trazem grandes responsabilidades. –Ele me pegou pela mão e me conduziu em meio a uma pequena multidão enquanto eu ria. Ele não parou para falar com ninguém.


Havia uma pequena sala contigua nos fundos com uma arara de roupas e maquiagem espalhada. Espelhos nas paredes, um grande buquê de flores e um sofá muito bem ocupado. Jimmy estava sentado, vestido com mais um dos ternos elegantes, pernas esticadas e uma mulher ajoelhada entre elas. O rosto dela estava no colo dele, a cabeça subindo e descendo. Nenhum prêmio para quem adivinhasse o que eles estavam fazendo. O vestido vermelho me indicou a identidade dela, embora eu pudesse viver uma vida longa e feliz sem saber disso. Os cabelos escuros longos de Kaetrin estavam amarrados ao pulso de Jimmy. Na outra mão, ele trazia uma garrafa de uísque.


Duas carreiras de um pó branco estavam sobre uma mesinha lateral junto de um canudinho de prata.


Puxa vida. Então era assim o estilo de vida rock and roll. Subitamente, minhas palmas ficaram úmidas. Mas William não estava metido nisso. Ele não era assim. Eu sabia disso.


–May –disse Jimmy numa voz rouca, lenta, um sorriso preguiçoso se espalhando em seu rosto –Você está linda, querida.


Fechei a boca.


–Vamos. –As mãos de William me seguraram pelos ombros, afastando-me daquela cena. Ele estava pálido, a boca numa linha firme.


–O quê, não vai cumprimentar Kaetrin, Will? Que dureza. Pensei que vocês fossem bons amigos.


–Vá à merda, Jimmy.


Atrás de nós, Jimmy gemeu longamente conforme o espetáculo no sofá chegava à sua obvia conclusão. Meu marido bateu a porta com força. A festa continuava, a música ecoando nos alto falantes, taças brindando e muita conversa alta. Tínhamos saido de lá, mas William fitava ao longe, alheio a tudo, ao que tudo levava a crer. O rosto dele estava marcado de tensão.


–William?


–Cinco minutos –berrou Adrian, batendo palmas bem no alto –Hora do espetáculo. Vamos em frente.


As pálpebras de William piscaram rapidamente como se ele estivesse despertando de um sonho ruim.


A atmosfera da sala subitamente pareceu carregada de eletricidade. A multidão aclamou e Jimmy cambaleou para ali com Kaetrin a reboque. Mais palmas e gritos de encorajamento para que a banda subisse ao palco, além das risadas de quem sabia o que Jimmy e a garota estiveram fazendo.


–Vamos lá! –gritou Jimmy, cumprimentando as pessoas com apertos de mãos e tapinhas nas costas, conforme atravessava a sala –Vamos, Will.


Os ombros do meu marido se ergueram.


–Martha.


A mulher se aproximou, o rosto escondido numa máscara atenta.


–O que posso fazer por você?


–Cuide de May enquanto estiver no palco.


–Claro.


–Olha só, tenho que ir, mas volto logo –disse ele para mim.


–Claro. Vai lá.


Com um ultimo beijo em minha testa, ele seguiu, os ombros tensos de modo protetor. Senti um impulso de segui-lo. De detê-lo. De fazer algo. Mal se juntou a ele perto da porta e passou um braço ao redor do seu pescoço. William não olhou para trás. Grande parte das pessoas o seguiu. Fiquei sozinha, observando o êxodo. Ele tinha razão, a sala estava fria. Apertei sua jaqueta ao meu redor, permitindo que sua fragrância me acalmasse. Tudo estava bem. Se eu continuasse a repetir, cedo ou tarde, isso se tornaria verdade. Mesmo as partes que eu não entendia dariam certo. Eu tinha que ter fé. E, maldição, eu tinha. Mas há muito meu sorriso desaparecera.


Martha me observava, sua expressão imaculada inalterada. Depois de um instante, seus lábios rubros se abriram.


–Faz muito tempo que conheço William.


–Que bom –disse eu, recusando-me a me acovardar ante seu olhar gélido.


–Sim. Ele é talentoso e determinado demais. Isso o torna intenso em relação às coisas, apaixonado.


Eu nada disse.


–Às vezes, ele se deixa levar. Não quer dizer nada. –Martha olhou para a minha aliança. Com um movimento elegante, ela ajeitou os cabelos atrás da orelha. Acima de um lindo brinco de rubis, havia um único diamante pequeno, cintilante. Não passava de um pedrisco, um que não parecia combinar com os gostos refinados de Martha. –Quando quiser, posso mostrar onde ficar para assistir ao show.


A sensação de espiral que se iniciara quando William se afastou de mim ficou mais forte. Ao meu lado, Martha aguardava com paciência, sem dizer nada e, só por isso, me senti grata. Ela já dissera coisas demais. Apenas um brinco de rubis pendia na outra orelha. A paranoia não era nada bela. Será que aquele brinco era o par do diamante de William? Não. Isso não fazia sentido.


Muitas pessoas usavam brinco solitário de diamante. Mesmo os milionários. Deixei minha agua de lado, forçando um sorriso.


–Vamos?


 


*


 


Assistir ao show foi algo fantastico. Martha me levou para uma das laterais do palco, atrás das cortinas, mas a sensação era de que eu estava no meio de tudo aquilo. E tudo aquilo era bem alto e excitante. A música reverberava no meu peito, fazendo meu coração acelerar. A musica foi uma ótima distração das minhas preocupações a respeito do brinco. William e eu precisavamos conversar. Eu estivera mais do que disposta a esperar que ele se sentisse bem para contar coisas, mas minhas perguntas estavam saindo do controle. Eu não queria ficar duvidando dele desse jeito. Precisavamos de honestidade.


Com uma guitarra nas mãos, William era um deus. Não era de admirar que as pessoas o idolatrassem. As mãos se moviam sobre as cordas do instrumento com absoluta precisão, com total concentração. Os músculos dos braços se contraiam fazendo com que as tatuagens ganhassem vida. Fiquei parada em total admiração, de boca aberta. Havia outras pessoas no palco, mas William me mantinha cativa. Eu só conhecia sua parte particular, quem ele era quando estava comigo. Aquilo parecia ser quase outra entidade. Um desconhecido. Meu marido cedera seu lugar para o músico. Para a estrela do rock. Isso era algo de fato atemorizador. Mas, naquele instante, a paixão dele fez todo o sentido para mim. Seu talento era um verdadeiro dom.


Tocaram cinco canções, depois foi anunciada a entrada de outro artista famoso. Os quatro membros da banda saíram do palco pelo outro lado. Martha tinha desaparecido. Era difícil ficar chateada com isso, apesar de o caminho até os vestiários ser um labirinto. A mulher era um monstro. Eu estava bem melhor sem ela.


Encontrei o caminho sozinha, dando passos pequenos a delicados por causa dos sapatos estúpidos que estavam me matando. Bolhas já se formavam em meus dedos onde a tira fina machucava minha pele. Não importava, minha felicidade não seria maculada. A lembrança da música ainda estava comigo. O modo como William parecia abstraído pela sua execução. Tanto excitada quanto desconhecida. Quanta emoção.


Sorri e praguejei, baixinho, ignorando meus pobres pezinhos e abrindo caminho em meio a uma mistura de fãs, de técnicos de som, maquiadores e pessoas que não tinham nenhuma atribuição especifica.


–Noiva criança. –Mal estalou um beijo em minha bochecha. –Vou para uma boate. Vocês também vêm ou vão para o ninho de amor?


–Não sei. Só preciso encontrar com William. A propósito, o show foi maravilhoso. Vocês foram incríveis.


–Que bom que gostou. Mas não conte a William que fui eu quem carregou o show. Ele é muito melindroso com esse tipo de coisa.


–Meus lábios são um túmulo.


Ele gargalhou.


–Ele está muito melhor com você, sabia? Tipos artísticos têm o mau hábito de desaparecerem em seus egos. Ele sorriu mais nestes poucos dias com você do que o vi sorrindo nos últimos cinco anos. Você faz bem a ele.


–Acha mesmo?


Mal sorriu.


–Acho. Diga a ele que vamos para o Charlotte’s. Até mais, talvez.


–Ok.


Mal se afastou e segui o caminho até o vestiário, em meio à multidão ainda maior do que antes. Dentro do camarim, porém, estava mais tranquilo. Jimmy e Adrian estavam num canto, entretidos numa conversa enquanto eu passava. Eu não iria parar ali de jeito nenhum. Sam e outro segurança acenaram quando passei.


A porta para a saleta dos fundos onde Jimmy estivera ocupado antes estava parcialmente aberta. A voz de William me alcançou. Bem nítida, apesar do barulho de fora. Era como se eu estivesse em sintonia com ele em algum nível cósmico. Assustador, mas também excitante. Eu nem conseguia esperar até que pudéssemos sair dali para fazer qualquer coisa. Encontrar Mal ou sair da cidade. Eu não me importava, desde que estivéssemos juntos.


Eu só queria estar com ele.


O som alto da voz de Martha vindo do mesmo cômodo diminuiu minha felicidade.


–Não –disse alguém de trás de mim, fazendo-me parar na porta. Virei-me e vi o quarto membro da manda: Ben. Eu agora me lembrava dele de um show que Lauren me fizera ficar assistindo na TV há alguns anos. Ele era o baixista e fazia Sam, o guarda costas, parecer um gatinho fofinho. Cabelos escuros curtos e pescoço de touro. Atraente de maneira estranha, como um assassino serial. Ainda que isso talvez se devesse apenas ao modo como ele olhava para mim, com olhos azuis sérios, e o maxilar rijo. Outro sob a influência de drogas, talvez. Para mim, ele só parecia mau.


–Deixe-os resolverem as coisas –disse ele num tom baixo. O olhar dele disparou para a porta parcialmente aberta –Você não sabe como eles eram quando estavam juntos. 


–O quê? –Recuei um pouco e ele notou, dando um passo para o lado para se aproximar da porta. Tentando me manobrar para longe.


Ben apenas olhou para mim, o braço grosso barrando o caminho.


–Mal disse que você é legal e tenho certeza de que é. Mas ela é minha irmã. William e ela sempre foram loucos um pelo outro, desde que éramos jovens.


–Não estou entendendo. –Retraí-me, a cabeça balançando.


–Sei disso.


–Saia da frente, Ben.


–Desculpe. Não posso fazer isso.


A verdade era que ele não precisava. Sustentei seu olhar, certificando-me de ter toda a sua atenção. Em seguida, equilibrei meu peso num dos saltos assassinos e usei o outro para abrir a porta. Visto que ela não estivera de fato fechada, oscilou para dentro com facilidade.


William estava de pé com as costas parcialmente viradas para nós. As mãos de Martha estavam em seus cabelos, segurando-o junto dela. As bocas estavam unidas. Era um beijo firme, rude. Ou, quem sabe, não era assim que parecia para quem estava do lado de fora.


Não senti nada. Ver aquilo deveria ser algo importante, mas não foi. Apenas me diminuiu e fez com que me trancasse dentro de mim. Pareceu, senão outra coisa, como aquilo fosse inevitável. As peças estivera, todas alii. Fui tão idiota, tentando não enxergar aquilo. Pensando que tudo terminaria bem.


Um barulho escapou da minha garganta e William se afastou dela. Olhou por sobre o ombro para mim.


–May –disse ele, com o rosto contraído e os olhos brilhantes.


Meu coração deve ter desistido. O sangue não fluía. Que estranho. Minhas mãos e meus pés estavam gelados. Balancei a cabeça; eu não tinha nada. Dei um passo para trás e ele esticou a mão na minha direção.


–Não –disse ele.


–William –Martha lhe lançou um sorriso perigoso. Não havia outra palavra para descrevê-lo. A mão dela afagou seu braço como se fosse fincar as unhas nele a qualquer instante. Acho que até poderia.


William veio na minha direçao. Recuei diversos passos, cambaleando nos saltos. Ele parou e me encarou como se fosse um estranho.


–Gata, isso não foi nada –disse ele. Esticou a mão na minha direção de novo.


Abracei meu corpo com força, protegendo-me do perigo. Tarde demais.


–Era ela? Ela é a sua namoradinha de adolescência?


O conhecido musculo no maxilar se mostrou.


–Isso faz muito tempo. Não é importante.


–Jesus, William.


–Não tem nada a ver com a gente.


Quanto mais ele falava, mais gelada eu me sentia. Fiz o que pude para ignorar Martha e Ben aguardando as imediações.


William praguejou.


–Venha, vamos sair daqui.


Balancei a cabeça devagar. Ele agarrou meu braço, impedindo-me de retroceder ainda mais.


–Que porra você está fazendo, Maite?


–O que você está fazendo, William? O que foi que fez?


–Nada –disse ele entredentes. –Não fiz porra nenhuma. Você disse que confiava em mim.


–Por que vocês dois ainda usam os brincos se não é nada?


A mão voou para a orelha, cobrindo o maldito objeto.


–Não é nada disso.


–Por que ela ainda trabalha para você?


–Você disse que confiava em mim –repetiu ele.


–Por que manter a casa em Monterrey por todos esses anos?


–Não –disse ele e depois parou.


 Fiquei olhando para ele, incrédula.


–Não? Só isso? Isso não basta. Não era para eu ter visto isso? Ou só fazer de conta que não vi?


–Você não entende.


–Então, explique para mim –implorei. Seus olhos me atravessaram. Eu bem que podia ficar sem dizer nada. Minhas perguntas não eram respondidas –Você não consegue, não é?


Dei mais um passo para trás e seu rosto endureceu, tomado pela fúria. Os punhos ficaram cerrados ao longo do corpo.


–Não ouse me deixar. Você prometeu!


Eu não o conhecia. Encarei-o, paralisada, permitindo que a raiva dele me assolasse. Ela não tinha chances de vencer minha dor. Nem um pouco.


–Se sair daqui, acabou. Não ouse voltar.


–Tudo bem.


–Estou falando sério. Você não vi significar nada para mim.


Atrás de William, a boca de Benn se abriu, mas nada foi dito. Melhor assim. Até mesmo o torpor tinha seus limites.


–Maite! –William grunhiu.


Tirei os malditos sapatos dos pés e fiz minha saída triunfal descalça. Melhor ficar confortável. Normalmente, eu jamais usaria saltos como aqueles. Não havia nada de errado em ser normal. Eu estava mais do que atrasada para uma bela dose de normalidade. Eu me envolveria nela como se fosse algodão macio, protegendo-me de tudo. Eu tinha o trabalho no café para voltar, a faculdade logo recomeçando. Eu tinha uma vida à minha espera.


Uma porta bateu atrás de mim. Alguma coisa bateu nela pelo lado de dentro. O som de gritos foi abafado.


Do outro lado do camarim, Jimmy e Adrian ainda conversavam. Isto é, Adrian falava e Jimmy fitava o teto, com um sorriso de lunático estampado. Duvido que a aparição de um foguete passasse percebida a Jimmy, de tão louco que ele estava.


–Com licença –disse eu, intrometendo-me.


Adrian se virou e fraziu o cenho, os dentes luminoso fazendo sua aparição somente um instante depois.


–Maite, meu bem, estou no meio de...


–Eu gostaria de voltar para Portland agora.


–Gostaria? Ok. –Ele esfregou as mãos. Ah, eu o deixara contente. Seu sorriso foi imenso e brilhante, genuíno, para variar. Faróis de carro perdiam para ele, que, ao que tudo levava a crer, estivera se contendo previamente.


–Sam! –berrou.


O segurança apareceu, surgindo em meio ao povo com certa felicidade.


–Senhora Levy.


–Senhorita Perroni –Adrian o corrigiu. –Você se importaria de leva-la em segurança para casa, Sam? Obrigado.


A expressão profissional educada não titubeou sequer um segundo.


–Sim, senhor. Claro.


–Excelente.


Jimmy começou a rir, gargalhadas que faziam o corpo tremer. Depois passou a quase cacarejar, o barulho vagamente semelhante ao da Bruxa Má do Oeste no Mágico de Oz. Isso se ela estivesse sob efeitos de crack ou de cocaína ou o que quer que Jimmy tivesse consumido, claro.


Aquelas pessoas não faziam nenhum sentido.


Eu não me encaixava ali. Nunca me encaixei.


–Por aqui. –Sam pressionou uma mão em minhas costas, o que bastou para que eu me mexesse. Hora de ir para casa, acordar daquele sonho bom demais para ser verdade que se transformara num maldito pesadelo.


O riso aumentou cada vez mais, ecoando em meus ouvidos, até subitamente desaparecer. Virei a tempo de ver Jimmy desabando no chão, seu terno caro um desastre. Uma mulher arfou. Outra riu e revirou os olhos.


–Pelo amor de Deus! –resmungou Adrian, ajoelhando-se ante o homem inconsciente. Deu um tapa em seu rosto –Jimmy, Jimmy!


Mais seguranças parrudos apareceram, circundando o cantor desmaiado, bloqueando-o de vistas.


–De novo, não! –ralhou Adrian –Chamem um médico. Maldição, Jimmy!


–Senhora Levy? –chamou Sam.


–Ele está bem?


Sam franziu o cenho ante a cena


–Ele só deve ter desmaiado. Isso vem acontecendo bastante. Vamos?


–Tire-me daqui, Sam. Por favor.


Cheguei a Portland antes do nascer do sol. Não chorei durante a viagem. Era como se meu cérebro tivesse diagnosticado uma emergência e cauterizado minhas emoções. Senti-me entorpecida, como se Sam pudesse entrar na contramão e eu não fosse dizer nada para impedi-lo. Eu estava acabada, imobilizada. Antes de irmos até o aeroporto, passamos pela mansão para que eu pegasse minhas coisas. Ele me colocou no jatinho e voamos até Portland. Ele me fez descer da aeronave e me levou de carro para casa.


Sam insistiu em carregar minha mala, assim como insistiu em me chamar pelo meu sobrenome de casada. O homem conseguia lançar o mais sutil dos olhares de esguelha. Não disse muita coisa, motivo pelo qual lhe fui muito grata.


Carreguei minha carcaça escada acima até o apartamento que dividia com Lauren. Meu lar tinha cheiro de alho, cortesia da senhora Lucia do andar de baixo, que estava sempre cozinhando. Papel de parede verde descascando e tábuas de madeira gastas, manchadas e arranhadas. Anda bem que calcei os tênis ou meus pés acabariam cheios de farpas. Aquele piso em nada se parecia com o reluzente da casa de William. Era possivel ver seu reflexo nele.


Droga. Eu não queria pensar nele. Todas aquelas lembranças pertenciam a uma caixinha no fundi da minha mente. Nunca mais elas veriam a luz do dia.


Minha chave ainda se encaixava na fechadura. Era como se eu estivesse ausente há anos e não dias. E nem fazia uma semana. Eu saira na quinta-feira cedo e agora era terça. Menos do que meros seis dias. Aquilo era insano. Tudo parecia diferente. Abri a porta, sem fazer barulho porque ainda era muito cedo. Lauren poderia estar dormindo. Ou talvez nem estivesse em casa. Ouvi risadas.


Ela poderia, na verdade, estar deitada na mesa da cozinha, rindo porque algum cara estava com a cabeça escondida dentro de uma das camisetas enormes que ela usava como camisola. Ele tinha o rosto enterrado no decote dela e fazia cocegas. Lauren se contorceu, emitindo toda sorte de ruídos de contentamento. Eles estavam tão envolvidos naquilo que nem perceberam a nossa entrada.


Sam desviou o olhar para a parede, evitando a cena. Pobre cara, as coisas que ele deve ter testemunhado ao longo dos anos...


–Olá –disse eu –Lauren?


Lauren gritou e rolou, acidentalmente retorcendo o cara em sua camiseta enquanto tentava se desvencilhar. Se o matasse sem querer, pelo mens ele morreria feliz, considerando-se a vista.


–May –ela arfou –Você voltou.


O cara finalmente libertou o rosto.


–Nathan? –perguntei, atordoada. Inclinei a cabeça só para ter certeza, estreitando o olhar.


–Oi. –Meu irmão levantou uma mão enquanto abaixava a camiseta de Lauren com a outra. –Tudo bom com você?


–Tudo –assenti –Sam, estes são a minha amiga Lauren e o meu irmão Nate. Gente, este é o Sam.


Sam acenou com educação e apoiou minha mala no chão.


–Posso fazer mais alguma coisa, senhora Levy?


–Não, Sam. Obrigada por me acompanhar até em casa.


–De nada. –Ele olhou para a porta, depois de novo para mim, com uma ruguinha entre as sobrancelhas. Eu não tinha certeza, mas achei que isso era o que mais se aproximava a um ar preocupado provavelmente a palavra mais adequada. Ele esticou a mão e me deu um tapinha duro nas costas. Depois foi embora, fechando a porta atrás de si.


Meus olhos arderam com a ameaça de lágrimas. Pisquei como uma louca, contendo-as. A gentileza dele quase rompeu meu torpor, maldição. Eu ainda não podia me dar a esse luxo.


–Então, vocês dois....? –perguntei.


–Estamos juntos –confirmou Lauren, levando a mão às costas. Nate a pegou e segurou com firmeza.


Eles ficavam bem juntos. Apesar de que eu me perguntava como mais a situação poderia ficar estranha. Meu mundo mudara. Eu me sentia diferente, ainda que o pequeno apartamento estivesse igual. As coisas estavam basicamente onde eu as deixara. A coleção maluca de gatos de porcelana de Lauren ainda estava na prateleira juntando poeira. Nossa mobília barata, ou de segunda mão, e as paredes azuis-turquesa não mudaram. Embora eu talvez nunca mais usasse aquela mesa, considerando-se o que testemunhara. Só Deus sabia o que mais acontecera ali.


Flexionei os dedos, obrigando meus membros a voltarem à vida.


–Pensei que vocês se odiassem.


–E odiávamos –confirmou Lauren –Mas, sabe como é.... agora não nos odiamos mais. Na verdade, é uma história surpreendentemente simples. Meio que aconteceu enquanto você esteve fora.


–Puxa.


–Belo vestido –disse Lauren, admirando-me.


–Obrigada.


–Valentino?


Alisei o tecido macio sobre meu abdômen.


–Não sei.


–Ficou bem marcante com esse par de tênis –disse Lauren antes de lançar um olhar para Nate. Ao que tudo levava a crer, eles já estavam na fase da comunicação silenciosa, porque ele saiu de fininho para o quarto dela. Interessante....


Minha melhor amiga e meu irmão. E ela não disse nada. Mas, pensando bem, havia muitas coisas que eu também não tinha cotado para ela. Talvez tivéssemos ultrapassado a idade de partilhar cada detalhezinho das nossas vidas. Que triste.


A solidão e uma dose saudável de autopiedade me gelaram de súbito e eu passei os braços ao redor do corpo.


Lauren se aproximou e soltou uma das minhas mãos.


–Querida, o que aconteceu?


Balancei a cabeça, afastando qualquer tipo de pergunta.


–Não posso falar. Ainda não.


Ela se juntou a mim, encostando-se na parede.


–Eu tenho sorvete.


–Que sabor?


–Chocolate triplo. Pensei em torturar seu irmão com ele mais tarde, de uma maneira explicitamente sexual.


E lá se foi meu vago interesse pelo chocolate. Esfreguei o rosto com as mãos.


–Lauren, se você me ama, nunca mais diga esse tipo de coisa para mim.


–Desculpe.


Eu quase sorri. Minha boca chegou bem perto disso, mas, só falseou.


–Nate te faz feliz?


–Faz. Parece, sei lá.... Parece que a gente está em sintonia um com o outro ou algo assim. Desde a noite em que ele foi me buscar na casa dos seus pais temos ficado juntos. Parece certo. Ele não é mais todo irritado como na época da escola. Ele também deixou de ser um galinha. Ele se acalmou e amadureceu. Caramba, de nós dois ele aprece ser o mais ajuizado. –Ela fez um beiço fingido. –Mas os nossos dias de contar cada coisinha uma para a outra chegaram ao fim, não?


–Acho que sim.


–Ah, tudo bem. Sempre teremos o Ensino Médio.


–É. –Consegui sorrir.


–Ah, meu bem, sinto muito que as coisas não tenham dado certo. Quero dizer, isso está na cara já que voltou e está um terror mesmo nesse vestido maravilhoso. –Ela fitou meu vestido com grande interesse.


–Pode ficar com ele. –Inferno, ela podia ficar com todo o resto também. Eu nunca mais queria tocar em nada daquilo de novo. A jaqueta dele eu entreguei para Sam com o anel dentro do bolso. Sam faria com que chegasse às mãos dele. Minha mão parecia nua sem ele, mais leve. Mais leve e mais livre deveriam andar de mãos dadas, mas não. Dentro de mim existia um peso enorme. Já fazia horas que eu vinha arrastando meu pobre traseiro por ai. Entrando no avião. Saindo do avião. Entrando no carro. Subindo as escadas. Nem o temo nem a distância ajudaram até o momento.


–Quero te abraçar, mas você está emanando aquela vibração “fique longe de mim” –disse ela, colocando as mãos nos quadris –Diga para eu saber. –Mais tarde?


–Quanto mais tarde? Porque, sejamos francas, você parece estar precisando muito de um abraço.


Dessa vez, não consegui conter as lágrimas. Elas simplesmente começaram a jorrar, e depois que começaram, não consegui detê-las. Tentei enxuga-las, mas acabei desistindo e cobri o rosto com as mãos.


–Droga.


Lauren passou os braços ao meu redor.


–Pode chorar.


E foi o que fiz.                


 



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Autor(a): felevyrroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 12



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  • poly_ Postado em 19/08/2019 - 15:40:25

    Ansiosa para o próximo capítulo. Continuaa

    • felevyrroni Postado em 03/10/2019 - 23:10:08

      Oiiie ^^ Voltei amore, desculpe o sumiço Vamos para os capítulos

  • poly_ Postado em 12/08/2019 - 13:23:40

    Q amorzinho, ainda bem que estão se entendendo. Continuaa

    • felevyrroni Postado em 14/08/2019 - 00:39:10

      Sim, uns fofos ^^ Postando amore

  • poly_ Postado em 10/08/2019 - 01:40:26

    Cadê vc mulher? Não me mate de curiosidade assim

    • felevyrroni Postado em 11/08/2019 - 22:55:21

      Voltei, desculpe fiquei sem wifi rs Postando amore ^~^

  • poly_ Postado em 05/08/2019 - 13:24:24

    Não vejo a hora de acontecer esse reencontro. Continuaaa. Bjuss!!!

    • felevyrroni Postado em 06/08/2019 - 23:49:12

      Vai ser tenso kkkkk

  • poly_ Postado em 03/08/2019 - 23:25:58

    Não sei se sinto pena ou fico feliz pela Mai, não é todo dia q consegue se casar com William Levy né? Kkkkkkkk. Continuaa logooo

    • felevyrroni Postado em 06/08/2019 - 23:50:13

      kkkkkk então né, ela deveria levantar as maos para o céu e agradecer q ela se casou com esse deus grego kkkkkkk

  • poly_ Postado em 02/08/2019 - 12:46:59

    Ja gostei, continuaaa. Bjuss!!

    • felevyrroni Postado em 02/08/2019 - 12:56:04

      Obaaa :)


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