Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Aventura
Felicidade Clandestina
Athena era loira, corpinho pequeno, mas com formas arredondadas que a diferenciava das meninas da mesma idade. Quem olhava aquele rostinho bonito, sequer imaginava a maldade que guardava em seu coração.
Nascida em berço d’ouro, tinha personalidade arrogante e cruel. Seus pais eram ricos empresários no ramo de livros, em Recife. Nunca sentiu falta de nada material tampouco amor dos pais.
Recebeu educação exemplar, contudo todo este cuidado não impediu que tornasse uma menina que desprezava seus colegas e pessoas ao redor. Seu pai, Pedro era dono da maior livraria da capital, famosa pela diversividade e ambiente descolado para a leitura.
Isso proporcionava a Athena contato direito com os livros, em especial, os infantis. Era comum, vê-la desfilar com livros de capas brilhantes para as coleguinhas, e não deixava sequer que tocassem na relíquia literária. Todas tinham medo de Athena pela sua opulência, exceto a frágil, Esther.
Esther era uma menina franzina com perninhas finas e traços delicados. Era a candura em pessoa e apaixonada pela leitura. Oriunda de família simples e de parcos recursos financeiros. Almeja ser professora. Seu sonho infantil era ter o livro: “As reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato. Imaginava acariciando o encarte, beijando e abraçando suas folhas. Era algo impossível para ela. Até o dia que viu Athena, entrar na escola, gloriosa em um vestido amarelo, brilhava como o sol do meio dia e levantava o livro objeto dos sonhos de Esther.
A partir de então, iniciou-se a dura impreitada de Esther para convencer a opositora emprestar o livro amado.
Na manhã seguinte, Esther sentou-se ao lado da menina loira no recreio e puxou conversa: assuntos triviais. Queria conquistar a amizade até chegar o momento oportuno para pedir o livro.
Athena, também era muito inteligente e tirou de letra o intuito de Esther e não se fez de rogada e começou a tortura com a pequena. . O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava Esther à porta de Athena, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso.
A romaria das idas e vindas à casa da Athena duraram semanas. Um dia a menina filha do livreiro, marcava um horário, chegando Esther dizia: “que pena acabei de emprestar para Rebeca”. Noutro dia, dava a desculpa que o livro caira na banheira e tinha que secar no sol para poder levá-lo. E assim, sucessiivamente foram às diabólicas desculpas, uma mais cruel a outra.
Mas como na vida, não há mal que perdure para sempre. A penúria de Esther teve fim. A ladainha diária foi interrompida quando a mãe da megera desceu as escadas e perguntou a filha o motivo da menina franzida vir todos os dias e sequer entrar na casa.
Quando ficou ciente das maldades da filha a decepção foi imensa. O coração de mãe quebrou-se, como um cristal fino, diante do desvendar da perversidade requintada daquela que criou com os maiores mimos e amor.
Foi então que,finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para Esther: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
A ousadia de querer trouxe uma nova perspectiva para Esther. Andava leve pelas ruas, o sol acariciava seus cabelos, tudo era música ao seu redor. O perfume das flores estava mais evidente.
Por dias, Esther não conseguiu folhear o livro amado, apenas tocar a capa, sentir o cheiro, a maciez, trazia um prazer inigualável. A ousadia de ter.
Horas depois abriu, leu algumas linhas maravilhosas, fechou de novo, foi passear pela casa, adiou ainda mais indo comer pão com manteiga, fingiu que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.
A felicidade sempre ia ser clandestina para Esther. Parece que já pressentia. Como demorou! Ela vivia no ar... Havia orgulho e pudor nela. Era uma rainha delicada. Às vezes sentava na rede, balançando com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Autor(a): ana_paula_correa_toniolo
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