Fanfic: Um Conto de Dois Corações | Tema: Romance, Guerra, Medieval, Drama
Há muito tempo, houve guerra, entre dois tiranos, não era uma guerra justa, não havia honra envolvida, apenas um duelo das vontades dos reis, uma guerra rasa por um motivo fútil, como disputa de terras ou algo do tipo, nenhum dos dois lembrava, pois queriam apenas medir seus egos e seus falos como se nada além de sua mesa repleta de vaidade e sua dama jovem, normalmente sequestrada, tirada do seio de seu lar para que servisse ao rei em tudo o que ele quisesse. Todos os meses soldados enviados pelos tiranos iam buscar jovens para servir em batalha e morrer sem motivo para saciar o gosto pelo sangue do povo que ele deveria proteger, não vale a pena dar nomes aos reis, pois descrevendo suas ações é impossível de diferencia-los, apenas dois cadáveres ambulantes que nunca ajudariam ninguém.
Em uma das vezes que os soldados eles levaram uma jovem, não devia ter mais de dezesseis anos, porém, não era bonita, não era carismática, não tinha nada de especial, por isso fora levada para os campos de batalha, levada de seu vilarejo dentro de uma jaula com outros jovens, seus olhos verdes e profundos demonstravam apenas pavor e corriam lagrimas pelo seu rosto incessantemente, os outros jovens eram todos apáticos e seus olhos careciam de sentimento, eram como zumbis caminhando obedientes, como se os deuses tivessem tirado seus sentidos, como se nada mais importasse pois sua sentença de morte houvera sido assinada nada mais importava se não o sonho que sua vida fosse poupada com um fim prematuro, fosse de suas vidas, fosse da guerra, não tinham nada além de suas esperança, sem empatia, amor, raiva, nervosismo, não havia espaço em seus corações, era como se seus sorrisos tivessem sido arrancados de suas bocas e suas lagrimas arrancadas de seus olhos, seu corpo só abrigava uma pequena fagulha de esperança.
Ela não queria aquilo, a apatia à amedrontava, seus sonhos e seus medos tomavam conta de seu corpo, o fogo a qual ela tinha dentro de si aquecia todos ao seu redor, sem que eles nem percebessem sem que ela falasse uma palavra. A carruagem seguiu sua jornada por diversas horas, até que chegaram em uma fortaleza de pedras, era gigante, porém completamente cinza e sem vida, era algo pavoroso, o cinza de suas rochas eram como se um dia o que houvera de cor ali tivesse sido assassinado e substituído, a vida era escassa assim como a comida e o afeto, todos ali eram movidos apenas por uma raiva e os recém eram movidos apenas pelo medo, a carruagem entrou e havia apenas um pátio, muita areia muitas armas porém poucas pessoas, haviam pequenas cabanas de madeira com coberturas era uma manhã cinza de inverno e as pessoas começavam a sair, com seus rostos inexpressivos, enquanto ela descia da carruagem e já era empurrada para um quarto apertado com três beliches. O oficial responsável discursou com sua voz cansada e rouca
- Vocês dormirão aqui, se alguém tentar fugir, morre. Se alguém se envolver romanticamente com um irmão de arma, ambos morrem e se tentarem uma rebelião todos morrem.
Eles, sentaram se ali e haviam algumas peças de roupa e uma armadura leve. Eles vestiram aquela armadura cuja as placas eram manchadas de sangue e amassadas e as cotas de malha remendadas e furadas, o que indicava que estavam sendo reaproveitadas, mostrava que suas vidas não valiam mais nada. Eles andaram para o pátio e viram diversos soldados treinando em duplas, com armas de verdade, não os pedaços de madeira que brincava quando criança, lanças, espadas, clava, escudos, ela percebeu que não havia o que fazer. Aquele medo novamente tomou seu coração e ao final do dia suas mãos estavam doloridas e seus dedos roxos por causa das inúmeras pancadas que tomaram por dentro da manopla. Ela foi até a sua cama para deitar após seu pedido para tomar um banho ser negado, pois não haviam banheiros para mulheres e o fato dela e das outras mulheres se despirem para se banhar, seria a gota d’agua para atrair o instinto dos homens. Mesmo que ela odiasse tudo ali, precisava descansar, pois insolência era punida com a fome, assim como qualquer coisa que desagradasse os guardas.
A rotina seguiu por meses, ela não sabia o que acontecia lá fora, aquele muro era sua prisão e aquela armadura suas grades, eles à humiliavam, faziam ela se sentir como nada, como se sua existência tivesse como único proposito servir às vontades de um homem que nunca havia sido visto por ela. Muito tempo depois seu espirito estava quebrado e seu corpo forte o suficiente, conveniente ou inconveniente mente nesta época houve uma batalha em um vilarejo vizinho, ela foi uma das selecionadas para conter aquela invasão do exército inimigo. Vestiram-na numa armadura, colocaram em suas mãos uma lança e um escudo e a ordenaram que marchasse, ela, sem nenhuma vontade própria restante apenas obedeceu, assim como seus irmãos de arma. Após dois dias marchando chegaram até o local determinado pelo seu oficial comandante. Chovia pesadamente e havia pouca grama e muita lama, o som alto dos tambores e das trombetas injetava morte em seu pensamento, o cheiro daquelas terras era um odor podre, de corpos em decomposição, sangue seco e estrume, o batalhão que havia se responsabilizado pela invasão era chamado de Batalhão Dos Homens Sem Rosto, todos usavam máscaras e capacetes com gravuras de um rosto inexpressivo que causava estranheza e exalava dor, a dor da batalha, a dor de uma ferida, a dor de um osso quebrado... A dor interna, da perda de vontade, da falta de sensibilidade, da demora da tão ansiada morte, que livra todos do sofrimento e do vazio, que fora escavado no peito de todos, menos dos responsáveis pelas morte. O pelotão de assassinos já estava pronto e marchava em direção do exercito inimigo e ela esperava com seu escudo levantado ouvindo apenas a chuva e o tambor. Ouviu-se um som mais alto de uma trombeta de batalha e ela olhou para os lados e todos, exceto os arqueiros começaram a correr, ao se aproximarem era possível ouvir os gritos e o impacto das flechas, um som surdo veio de sua frente e ela viu um homem ajoelhado, com uma flecha na coxa, ela sabia qual era o destino dele, mas do fundo de seu ser uma ordem foi dadam ela largou suas armas e ajoelhou-se de frente para ele, ele resmungava alto de dor, mesmo que quase inaudível com os barulhos ao seus lados. Ela se aproximou do homem mascarado e tirou seu elmo, logo depois tirou sua máscara e se surpreendeu... Lagrimas! Como podia alguém ainda te-las dentro de si, como podia alguém ser tão transparente e sustentar algum sentimento, ao ver as lagrimas do inimigo seu espirito se remendou e o vazio dos olhos sumiu, ela segurou na mão direita dele, olhou fundo naqueles olhos e disse:
- Não se preocupe, vai ficar tudo bem, eu vou cuidar de você.
- Saia daqui, você vai morrer como todo mundo aqui.
Mas ela não ligava, há muito tempo não compartilhava seus sentimentos com ninguém e o seu adversário, comovido pela compaixão daquela moça largou sua espada, porém uma espada a a mais uma a menos não faria diferença, tamanha era sua insignificância.
- Você lembra o que é amor? – Perguntou ele.
- Não, há muito tempo não sei o que é sentir algo.
Ele então segura o rosto gelado dela com suas mãos molhadas, olha naqueles olhos antes vazios agora cheios de vida e a beija ela segura a sua nuca e fecha os olhos, aquele calor esquecido havia retornado, o sentimento antes morto agora havia renascido, ela sentia, podia sentir, graças àquele homem estranho ela podia sentir, ela não sabia o que era amor, mas tinha certeza que aquilo era amor, pois nada criaria um calor tão confortável e em meio a terras vazias e tempos que careciam de sentimento, o fogo das duas línguas dançando pela boca e como fagulhas que dançam ao vendo ao chão e ao ar quando arrancadas de uma fogueira pelo vento, fazia ela feliz e naquele momento a morte não pareceu uma esperança e sim um medo. Após afastar seu rosto ela olha para os olhos dele e pode ver alegria, felicidade, aquilo era amor a primeira vista e ela sabia que sentia e seu sentimento tomava o corpo, o dia não era mais cinza havia cor havia vida, em contraste com a morte que ocorria bem ao seu lado, ela o abraçou ainda de joelhos mas seu sentimento foi interrompido por uma flecha que entrou pelas suas costas e perfurou o peito dele, ela não entendia o que estava acontecendo, mas ela não o largaria mesmo se pudesse.
- Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem – Ela cochichava repetidamente no ouvido dele.
- Me perdoe, queria tê-la conhecido em uma situação melhor, em uma outra vida.
A pele dela começou a ficar pálida e quanto mais pálida ficava mais forte eles se abraçavam, até que sua visão começou a escurecer. Ela afastou sua cabeça para que pudesse vislumbrar o rosto daquele que havia despertado ela novamente e percebeu que ele fazia o mesmo, ambos se olharam amavelmente enquanto a vida ia embora de seus corpos.
Os olhos dela se fecharam, ela adormeceu e ele sangrou até sua morte, preservou um olhar vazio em seu cadáver, tratados como vergonha pelos seus companheiros de batalha ambos ficaram ali jogados ao chão abraçados, ligados por uma flecha, por seus corpos e seus sentimentos. Alguns dizem que a guerra continuou por longas décadas outros dizem que ficou mais branda, mas não parou de levar vidas para o pós morte Dizem que eles, por uma dadiva dos deuses puderam ficar juntos e recebem no pós morte aqueles que morrem ao lado de seu amor.
Autor(a): sirjonmathew
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