Fanfics Brasil - Confidencial Felicidade Confidencial Felicidade

Fanfic: Confidencial Felicidade | Tema: Aventura, sonhos, reinações de Narizinho


Capítulo: Confidencial Felicidade

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Confidencial Felicidade


     Sua cara sardenta e cabelos excessivamente ruivos somados ao corpo roliço entregavam seu padrão de vida. Vivia com os bolsos repletos de balas e a mochila repleta de livros, contudo só costumava consumir as balas, os livros eram somente para apreciação do público. Mesmo conhecendo o gosto dos doces apenas nas comemorações sagradas, o que mais me apetecia e cobiçava eram os livros e, em minha inocência de criança, não sabia o quão sôfrego isso poderia vir a se tornar.


     Sendo ela a herdeira da mais cara livraria da cidade, usava os livros como forma de simbolizar o intelecto que não possuía, e eu, não dispondo de herança, mas sendo uma devoradora de histórias, fui submetida à cadeira de tortura quando em uma segunda-feira pela manhã ela veio exibir-se com meu mais alto desejo, uma edição completa de As reinações de Narizinho.


     Assim, passei dias sujeitando-me as mais variadas humilhações para conseguir o apreço daquela que tanto se contrastava comigo, sua maldade era refletida naqueles olhos, e sua cara arredondada tornava-se vermelha ao rir-se das promessas que eu, em minha ignorância, fazia-lhe para possuir tamanha preciosidade. Contudo, depois de tanto desgaste, desisti de meu empreendimento e consolei-me com minhas surradas edições e idas regulares a biblioteca.


     Mesmo assim, sonhava todas as noites com aquele mundo escondido naquelas tantas páginas e me irritava ao pensar que tal luxo estava sendo desperdiçado nas mãos de quem apenas tinha paladar para balas caras, comecei achar a vida injusta, afinal, nem para as balas me sobrava. Mas logo surgiu uma oportunidade capaz de virar o jogo.


     Era época de nossos exames finais, e minha vilã não estava nada confortável com sua situação escolar. Como bolsista, sempre precisei manter boas notas e certa dedicação aos estudos, o que me rendia o patamar de primeira da classe, assim, resolvi aproveitar-me da situação. Prometi a minha rival que lhe safaria de passar as férias na escola se em troca eu me tornasse possuidora de seu exemplar de As reinações de Narizinho, e ela, desesperada por livrar-se de um bom castigo, aceitou o acordo, entretanto senti que não faria o mesmo se a moeda de troca fossem suas estimadas balas.


     Tendo cumprido minha parte do acordo, esperei ansiosa pelo troféu. Este me foi entregue na porta de sua casa, pois logo que soube que ela havia sido aprovada, graças as minhas aulas particulares, fui pessoalmente cobra-lo. Com o livro em mãos, cheguei em casa aos tropeços, não queria perder nem um segundo, mas achava estranho o peso do livro que carregava e, quando olhei-o de esguelha ainda no meio da rua, tive a impressão de que suas figuras se movimentavam e que pingos de água acompanhavam meu caminho. Porém, em minha excitação, não liguei para o fato e corri para casa.


     Depois de finalizar as tarefas diárias, senti que era hora de me recompensar por tanto esforço, afinal, eu havia dado duro para conseguir aquele livro. Sentei na cama e comecei a apreciá-lo, percebi que livro possuía certa umidade e apressei-me em abri-lo para ver se o tinha danificado. Em minha surpresa, logo ao correr os olhos pelas primeiras páginas, percebi que todo meu quarto começava a ser alagado e desesperada tentei sair da cama, mas como a água subia de forma muito rápida, eu precisaria dar um grande mergulho para sair dali e ir ao encontro da porta, comecei a nadar naquele mar que se formou a minha volta e quando dei por mim, estava sendo acompanhada por uma imensidão de animais marinhos. Achei que delirava, pois logo percebi que não sentia mais a necessidade de segurar a respiração e quando dei por mim estava literalmente no meio de uma cerimônia matrimonial em pleno fundo do mar, e para meu espanto maior, quem se casava era a própria Narizinho. Fiquei aturdida, todos me olhavam espantados e eu não sabia o que era pior, estar a mil léguas submarinas ou interromper um casamento.


     Após minutos de silencio acompanhados de certa expectativa, uma boneca de pano que segurava um cesto com duas alianças veio ao meu encontro, logo a reconheci, era a própria Emília. Tinha um porto altivo e disparou uma série de perguntas e apresentações. Não tive nem tempo de respondê-las, pois logo estava me puxando pelo braço e conduzindo-me até o seu posto no altar, compreendi que na falta de uma das madrinhas escolhidas, sobraria para eu representa-la. Balbuciando as mais inapropriadas desculpas, fui sendo conduzida, não sabia o que estava acontecendo e desesperava-me por uma explicação, mas afinal, o casamento precisava continuar.


     Ao findar da cerimônia senti um misto de fascinação e desalento. A noiva, após suas obrigações para com os convivas, correu até mim, desesperou-se ao me ver chorando e disse para não me preocupar, pois tudo seria esclarecido. Entre lágrimas e soluços fui levada até um imenso palácio, lá me esperava Pedrinho acompanhado do sábio Visconde de Sabugosa e Emília que tinha corrido para procura-los. Visconde pediu para que eu lhe contasse meu caso e após grandes pausas e observações, ele me deixou a par dos fatos.


     O livro que eu havia possuído com muito esforço, era uma raridade, pois estava encantado com pó de pirlimpimpim, assim, qualquer criança que fosse pura de coração e merecedora poderia usá-lo para se transportar literalmente para dentro da história. Me senti deslumbrada, extremamente realizada com todo aquele mundo que havia me sugado de maneira tão inesperada. Todos ali se mostravam gentis comigo como se me conhecessem há anos. Assim, findadas as formalidades adentramos nas mais variadas conversas, um relato de primeira sobre as aventuras daqueles que eu tanto admirava. Eles decidiram que já era hora de voltar para a casa do sítio, Narizinho, apesar de recém-casada, tinha obrigações para com a avó, afinal, todos tinham obrigações com Dona Benta da mesma maneira que todos ali queriam me apresentar a ela e as guloseimas de tia Nastácia. Quando estávamos prontos para subirmos para o solo, senti uma coceira desagradável no nariz, que foi aumentando progressivamente até que ATCHIM... acordei de um pulo só em minha cama.


     Meus olhos estavam arregalados e senti uma certa ponta de tristeza ao perceber que minha viagem não havia passado de um sonho e que ainda me encontrava em meu quarto, conclui que deveria ter dormido durante a leitura e de tanto me deixar absorver por ela, sucumbi ao seu mundo. Porém, o livro ainda estava ali comigo e isso significava que eu poderia me deixar entregar a aquela felicidade clandestina todas as vezes que bem entendesse.



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Autor(a): raisssa_

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