Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: ficção literária
Ele era o velhinho da esquina, da banca de jornal mais próxima do bairro, a julgar pela aparência, uma boa pessoa, carismático, bem-educado e exime vendedor.Tratava sua clientela da melhor forma possível, para que na manhã seguinte, estivessem ali, novamente, a fim de se atualizarem das novas notícias, fofocas, tomando o caminho do trabalho, de café, revista ou jornal nas mãos. Mas nada disto me interessava; nada de jornais, notícias, coisas exclusivas e de gente grande. O que me levava a observar atentamente todas as manhãs bem cedinho, aquela banca, o vai e vem das pessoas, era o conteúdo pouco procurado pelo público adulto, que me fazia ocultamente ser o “cliente vip”, o primeiro até mesmo a chegar antes das portas se abrirem, todas os dias, exceto nos domingos de descanso: As histórias em quadrinhos que tinham ali.
Era o primeiro momento nostálgico do meu dia, quando as portas se abriam, corria como se alguém competia ali, comigo, para chegar ao setor da minha grande obsessão. Empunhava o livrinho colorido que continha poucas unidades e saia em direção ao caixa, para debitar o meu clichê. Me despedia dali, e então tomava o caminho de casa, feliz, contente, sabendo que nas minhas mãos, tinha conteúdo para as próximas 24 horas, para alimentar a insaciável sede por leitura.
Não tinha infância melhor, como era bom ler, reler aqueles contos, a cada segundo viajar na escrita das palavras, me submeter aos delírios heroicos das histórias de “O cavaleiro das trevas”. Era mágico e sem dúvidas a melhor história em quadrinhos existente. Não cessava o meu interesse em devorar aquele livro, mas, fazia isto de forma cautelosa, pois sabia eu, que a qualquer instante poderia chegar a virar a última página, então se iniciar sobre mim uma tortura chinesa, até que amanhecesse o dia seguinte, para novamente eu ir ao encontro da banca buscar a próxima edição. E, não era qualquer edição, tratava-se simplesmente do GRANDE desfecho de toda trama, de o herói se sagrar o grande justiceiro, derrotando de uma vez por todas o vilão e seguir como o protetor da sua cidade.
Quando dei por visto já era noite, o luar surgiu, a movimentação urbana se acalmou e calmamente como o pôr do sol, terminei de ler os últimos versos da penúltima temporada. Coloquei a cabeça sobre o travesseiro, e então me pus a pensar no GRANDE dia, mal esperaria para que amanhecesse, para realizar o enredo do meu fetiche, e descobrir aquilo que já me parecia óbvio, o desfecho da última temporada o que viera a acontecer no final, aniquilar de uma vez por todas a minha ânsia, que mais parecia ser eterna, como àquela noite. De repente, me dei por vencido ao sono, e adormeci.
Mas, mal sabia eu que àquela felicidade clandestina poderia tomar um outro rumo. Então desejaria que, simultaneamente o tempo parasse, para não sofrer o delírio que me esperava naquele sábado de manhã, quando acordaria para ir buscar o meu grande troféu, a cereja do bolo, e teria uma grande decepção.
Finalmente o sol se sobrepôs nas nuvens, meio acanhado, trazendo para mim a esperança de um novo dia. Depressa me levantei da cama, como todos os dias bem cedinho, nem esperei o café da manhã, que mamãe acabará de preparar, para assegurar que seria eu o primeiro a chegar na banca de jornais: corria com o sorriso de orelha a orelha ao encontro da minha felicidade. Já pressentia algo de errado pairando no ar; mas, como poderia uma bela manhã de sábado que tinha tudo para ser esplendorosa, se tornar em um grande pesadelo? Era o destino que me esperava a poucos passos, do outro lado da rua, quando avistará a banca de jornal fechada.
Passaram mil cenas na minha cabecinha; o que teria acontecido para a banca que sempre, pontualmente como eu, não ter aberto as portas ainda? A ansiedade me dominava, enquanto esperava mais alguns minutos, na certeza de que talvez o velhinho teria apenas se atrasado, já que era um sábado de manhã. A cada giro do relógio, minhas esperanças viam a se desvanecer, meu semblante mudou, então depois de uma longa espera, sem respostas, dei meia volta e regressei para casa.
Cabisbaixo e quase sem reações, entrei no meu quarto e fui apressadamente me arrumar, jogo rápido e sem muita demora, para ir ao colégio. Se já não me bastasse ter um péssimo início de dia, ainda teria que ir para a escola, tornando o meu sábado mais tedioso. Pelo lado de adolescente que odiava aula não era bom estar ali, mas por outro lado seria bom, pelo menos poderia me distrair com outros conteúdos, esquecer por algumas horas a frustração que me ocorreu.
Tomei todo o material para estudo daquele dia, o pus na mochila e sai do quarto. Mamãe a caminho do trabalho, naquela manhã se encarregou de me levar a escola, de carro. Não como rotineiramente, que eu fazia o percurso a pé mesmo, era perto e, muito prazeroso, pois o caminho era um ambiente perfeito para ler algumas páginas do livro; só lembranças dos dias passados, pois naquele sábado, tomando o caminho da escola, somente observava pela janela o dia que se iniciava, e sem ânimo a banca de jornais sorrindo para mim, não sendo correspondida. Algumas quadras passadas e então lá estava eu pronto para uma realidade nem tanto normativa, á entrar no colégio.
Como se todos pudessem ver o tamanho da minha tristeza; ao passar nos corredores, eu percebia que me notavam e lhes causavam estranhamento, por que eu Viera a ser um menino contente e brincalhão. Avancei rumo a minha classe de aula e logo tomei assento, esperando o primeiro horário de aula vir a iniciar.
Autor(a): jucinaldo_de_castro
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Loading...
Autor(a) ainda não publicou o próximo capítulo