Fanfics Brasil - Farsa. Strike - AyD

Fanfic: Strike - AyD | Tema: Portiñon


Capítulo: Farsa.

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Dulce Espinosa POV.


Quando ouvi aquelas palavras juntas, Anahí e morte, foi como se eu sentisse o chão desabando embaixo dos meus pés. As forças que eu tinha nas pernas sumiram e eu caí no sofá subitamente. Fraca.


Eu não conseguia – nem queria – controlar as lágrimas que escapavam dos meus olhos de forma descontrolada e enlouquecedora. De repente, tudo ficou embaçado. Não só por causa do conjunto de lágrimas, mas também devido a uma tontura que me atingiu em cheio. Eu queria falar com a tal madrasta da Anahí. Queria perguntar como, onde e quando ela morreu, mas não tinha voz para isso. Eu só conseguia chorar e pensar em como iria viver sem Anahí a partir de agora…


Por Deus! Eu não vou aguentar.


— Tente se acalmar, por favor. Você não pode perder o controle assim. — Sylvie pede em um tom de voz “mais baixo que o normal”. Apesar de não conhecê-la, pela forma como ela sussurrava eu podia jurar que ela estava se sentindo tão fraca quanto eu. — Querida, me diga seu endereço. Vou mandar o motorista da família ir buscá-la. Temos que conversar cara a cara. Você e eu.


— Mo-motorista?


— Anahí não te contou que nós temos um motorista? — Funga. — Bom, caso ela não tenha contado, sim, nós temos.


— N… Não. — Meu coração se aperta, ficando pequenininho. A dor que eu sinto é tão avassaladora que está se tornando física. Eu realmente sinto o meu coração dando pontadas cada vez mais fortes. — Isso deve ser mentira. A Anahí não pode ter morrido. Quem é a senhora, afinal? Por que está fazendo isso comigo?


— Querida… — A mulher volta a chorar copiosamente, e eu embargo no choro junto com ela, entregando-me de vez ao meu sofrimento. No fundo, eu sei que não se trata de um trote ou de uma brincadeira de muito mal gosto. Nenhuma atriz, seja ela profissional ou não, consegue demonstrar que está sofrendo, ainda que seja por telefone, tão bem quanto essa mulher. O que ela está me contando só pode ser verdade. No entanto, uma parte de mim, aquela que é ingênua e acredita que a esperança é a última que morre, se recusa a aceitar que a minha Anahí já não está mais aqui. — Por favor, não aumente a minha dor com as suas desconfianças. Eu sei que você está no seu direito, mas… Me dê seu endereço logo, ou venha pra cá por conta própria. Quando você chegar, vai poder tirar suas próprias conclusões. De todo modo, eu preciso ver você. Preciso ver a mulher que a minha enteada escolheu pra se casar, embora tenha feito isso as escondidas.


— Tudo bem. Me diga seu endereço e eu dou um jeito de ir até aí. Agradeço pela sugestão do motorista, mas eu não quero abusar da sua boa vontade. — Falo com pesar enquanto tento, inutilmente, impedir que meus olhos continuem marejando, utilizando as palmas das mãos. — Ok. O endereço está anotado na minha cabeça. Em breve estarei na sua casa.


Sylvie não falou mais nada. Talvez estivesse fragilizada demais para continuar com a conversa… Não sei. Só sei que desde que ela encerrou a ligação, eu fiquei estática. Totalmente incapacitada de me mexer.


Senti-me a pessoa mais enfraquecida de todas.


Por quê, meu Deus? Por que isso está acontecendo comigo? Eu sei que erro muito e que sou cheia de defeitos, mas essa dor é demais para mim. Eu simplesmente não suporto a ideia de ter perdido a minha esposa dois dias depois de ter me casado com ela.


Aproximo a cabeça do encosto do sofá e tento controlar a minha respiração, que agora parece querer falhar. Me afogo tanto em tudo que estou sentindo que não percebo quando minha irmã e meu pai chegam – haviam ido comprar comida para nós – e sentam ao meu lado, no sofá. Ambos apoiam suas mãos em meus ombros e me olham com preocupação.


— O que aconteceu, filha? Por que está chorando assim? — Meu pai pergunta, preocupado. Em vez de respondê-lo, apenas me jogo em seus braços e me encolho contra seu peito. Ele entende o recado. Entende que, por enquanto, eu não estou com condições de falar. Por isso, ele me abraça. É um abraço forte, apertado e cheio de carinho. Tudo que eu estava precisando.


— Seja lá o que tenha acontecido, nós vamos enfrentar isso juntos, como uma família. — Claudia murmura, tentando me consolar. Ela me abraça de lado e alisa as minhas costas com as pontas dos dedos. — Vai ficar tudo bem, Dul.


Eu não tenho certeza disso, irmã. Mas admito que ter vocês comigo é a única coisa que me faz não querer morrer também.


(…)


— Você tem certeza que estamos no lugar certo? — Pergunto para Claudia, olhando ora para ela, ora para a casa à minha frente. Ou será que devo chamar aquilo de mansão? Juro que nunca vi algo tão bonito em toda a minha vida. Nem nos meus sonhos mais insanos eu podia imaginar que Anahí morava ‘num espaço tão grande.


— Segundo o taxista, sim. — Claudia responde e me encara. Ela tenta disfarçar, mas eu percebo sua expressão embasbacada. Não a julgo. Essa casa/mansão com certeza é de uma família muito rica, e Anahí nunca nos falou nada sobre ser herdeira de uma fortuna, muito pelo contrário. Quais são as chances de tudo não passar de uma puta confusão e não ser a minha Anahí a pessoa que morreu? — E aquela gente toda no portão? Quem são? — Aponta para uma multidão.


— Eu não sei. São… Repórteres? Por que repórteres estariam aqui? — Questiono, confusa. Claudia morde o lábio inferior e parece pensar ‘numa explicação. Todavia, acho que não será com ela que eu encontrarei as respostas que me faltam. Só a madrasta da Anahí pode esclarecer todas as minhas dúvidas, uma por uma.


— Eu realmente não sei, Dul. Mas vem comigo. — Me puxa pela mão, arrastando-me para mais perto daquele acúmulo exagerado de pessoas. Suspiro, sentindo meu coração acelerado. Claudia foi incrível comigo desde que eu arranjei forças para contar o ocorrido. Ela secou todas as minhas lágrimas, me disse palavras de apoio e largou vários de seus compromissos para me acompanhar até aqui. Eu tenho uma irmã incrível. Vagarosamente, ela e eu, juntas e de mãos dadas, vamos passando pelos repórteres. — Olá, boa tarde. Essa é a casa da senhora Anahí Portilla?


O segurança nos olha da cabeça aos pés, com desprezo.


— É, é sim. Mas a família não quer receber nenhuma visita. Por favor, se retirem. — Pede, tentando parecer educado – talvez por causa dos jornalistas –, mas eu não sou ingênua ao ponto de não perceber sua arrogância contida, acompanhada de uma expressão de superioridade.


— Eu sou Dulce Espinosa, esposa da Anahí. — Imediatamente, milhares de murmúrios surgem atrás de mim. — Tem certeza que vai me barrar? — Cruzo os braços na altura dos seios e encaro o segurança com uma sobrancelha arqueada. Sinto o olhar assustado de Claudia queimando em mim e engulo seco. Céus! O que foi que me deu? Eu não sou esse tipo de pessoa. Não sou de querer “medir forças” com ninguém… Merda. Acho que essa situação está mexendo comigo muito mais do que eu achei que seria possível. Estou derrotada. Fisica e psicologicamente.


— Desculpe, senhora Espinosa. Eu não sabia… — Mudando totalmente de postura, o homem de estatura alta, cheio de músculos e cabelos negros, abre o portão e nos dá espaço. Alguns repórteres tentam me puxar pela manga da camisa, buscando receber informações do meu casamento, mas com a ajuda de Claudia eu saio de perto deles sem precisar responder nenhuma pergunta. Povinho sem noção. — O mordomo está esperando. Basta seguirem em frente.


— Obrigada. — Dou um sorrisinho cínico e viro de costas para ele, traçando meu caminho.


— Sujeitinho arrogante. — Claudia reclama.


— Nem me fale.


Logo mais, demos de cara com um homem moreno, não muito alto, nem muito baixo, com um pouco mais de 30 anos – aparentemente –, usando um uniforme meio gay, mas fofo. Era o mordomo, com certeza.


— Qual de vocês é a viúva da senhora Portilla? — Ele indaga quando nos aproximamos o bastante. — É você? — Aponta para mim e eu assinto. Ele sorri de canto, transmitindo uma falsa simpatia. — Não sei como ainda me surpreendo com o bom gosto da minha patroa. — Esse comentário faz Claudia e eu olharmos uma para a outra. — E você? Quem é?


— Sou Claudia, irmã da Dulce. — Ela responde, envergonhada.


— Ah, é claro. Eu me chamo Cristian. — Se apresenta. — Por favor, me sigam.


Claudia e eu passamos a andar atrás dele, devagar, admirando cada mínimo lugar da casa. Por mais que eu não conheça tudo, não é difícil perceber que ele está nos fazendo entrar pela porta dos fundos. Por que sinto que todo mundo nos trata como se fôssemos inferior a eles? Até o mordomo.


— Podem se instalar aqui, senhoras. — O homem abre a porta de um dos vários quartos existentes em um único corredor e eu o olho com os olhos arregalados. — O que foi?


— Nada demais. É só que… — Passo a língua pelos lábios, umedecendo-os. — Não tem um quarto menos luxuoso que esse?


Não é como se eu não gostasse de luxo. Eu gosto… Muito. Mas estou assustada. Se Anahí mora em um lugar como esse, então ela me enganou esse tempo todo?


Que seja só uma confusão. Que seja só uma confusão.


— Senhora, esse é só o quarto de hóspedes. — Ele fala com um meio sorriso. — Não há quarto menos luxuoso que esse. Então, por favor, entre e se acomode. — Pede e eu coro, constrangida. Se esse é o quarto “menos luxuoso”, não quero nem imaginar um que seja pura ostentação.


Vencidas, Claudia e eu entramos no quarto. Cristian fecha a porta e nos deixa sozinhas. Minha irmã se joga sobre uma das camas e me encara.


Dul, essa casa é puro luxo. Como Anahí morava ‘num lugar como esse sem nos contar nada?


— Eu não sei. Tem algo muito, muito estranho nessa história. Vamos entender melhor quando a madrasta dela chegar. — Coloco as duas mãos dentro dos bolsos da calça. — Anahí não mentiria assim… Mentiria? — Foi uma pergunta mais para mim do que para ela.


Claudia abre a boca para responder, mas é interrompida por uma batida na porta. Um arrepio percorre a minha espinha. Será que já é a madrasta da minha esposa?


— Eu vou abrir. — Claudia avisa e caminha até a porta. Ao abri-la, uma senhora muito bonita passa por ela e vem na minha direção.


— Qual de vocês duas é a Dulce? — Ela quebra o silêncio, depois de passarmos tempo demais apenas nos encarando.


— Eu. — Digo em um fio de voz. — Essa é Claudia, minha irmã. — Apresento. — Desculpa, mas acho que isso é um engano. Anahí me disse que os pais moravam no exterior. E além do mais, ela tinha um bom emprego, mas nada tão grandioso que a fizesse morar em uma casa como essa.


— Querida… — A mulher limpa algumas lágrimas com a palma de uma única mão. — Reconhece? — Com a outra, ela me estende um papel. O seguro rapidamente e me obrigo a lê-lo. Sinto o mundo desabar sobre a minha cabeça no mesmo instante. Merda. Merda. Merda. — É o comprovante do registro civil para retirar a certidão de casamento, não é?


— Onde a senhora conseguiu isso?


— No escritório dela. — Fecha os olhos e novas lágrimas descem por seu rosto, apesar de seu tremendo esforço para contê-las. — Dulce, eu não sei os motivos que fizeram a Anahí mentir pra você sobre a forma que vivemos, porque isso não é do feitio dela, de verdade. Mas alguma razão ela deve ter tido. Talvez quisesse que você a amasse pelo que ela é, não pelo que ela tem… Não sei. Não sei mesmo.


— Eu não acredito que isso ‘tá acontecendo. — Admito. Meu corpo é jogado para trás e eu me sento na cama, com as mãos apoiadas no colchão. Claudia chega mais perto e me abraça, dando-me suporte e carinho.


— Eu também estou desolada, filha. — Sylvie cobre o rosto com as mãos. — Mas temos que ser fortes. Escute… — Ela se ajoelha diante de mim. — Anahí sempre zelou pela boa reputação da nossa família. Em nome disso, peço que tente se controlar na frente de todos. O velório estará repleto de jornalistas e… Bom, não podemos sofrer tanto na frente deles. Acha que consegue fazer isso?


— Eu não sei, dona Sylvie. Não sei se consigo ser tão fria e calculista assim. — Confesso e aperto o corpo de Claudia contra o meu. A madrasta da minha esposa abaixa a cabeça, meio magoada. Droga, Espinosa.


— Eu entendo. Eu era assim antes de me casar com Enrique… Guiada pelas emoções. — Dá um meio sorriso, lembrando-se de si mesma anos atrás. — Mas com o passar do tempo, eu fui obrigada a mudar. E não só por ele, por mim também. Você vai entender melhor depois. — Volta a ficar de pé. — Ainda sim, peço que tente se controlar ao máximo.


— Tu-tudo b-bem. — Digo em meio a soluços.


— Ok. — Seca suas lágrimas e mexe nos cabelos, ajeitando-os. Anda até o telefone posicionado em cima de um criado-mudo, coloca o aparelho na orelha e suspira. Olho cada movimento que ela faz, sem nem ousar piscar. — Cristian, peça a ajuda da Marichelo e procure roupas adequadas para Dulce e sua irmã, por favor. Não quero que elas apareçam no velório com as roupas que você as viu. — Sylvie nos analisa. — Aproveita e traz dois pares de sapatos também. Obrigada. — E assim, coloca o telefone no seu devido lugar. — Me perdoem por isso, mas eu não podia deixar vocês irem assim… — Aponta para a forma como estamos vestidas. — Vocês entendem, não é?


— É claro. — Claudia responde por nós duas. Admito que essa situação não me agrada nem um pouco. No entanto, não posso me queixar de suas palavras, pois não estou devidamente vestida mesmo. Saí de casa com tanta pressa que nem pensei direito no velório. Além do mais, eu tinha esperanças que isso era só uma confusão. Oh, merda. Eu ainda não posso acreditar.


— De agora em diante, peço que não respondam nenhuma pergunta que os repórteres fizerem. — Seu pedido soa como uma ordem. — Já para os amigos mais próximos, vamos dizer que já nos conhecíamos e que o casamento foi mantido em segredo por vontade da Anahí.


— Certo.


Eu não tinha forças para relutar. Na verdade, eu não tinha mais forças para nada.


Nem mesmo para continuar respirando.


Angelique Boyer POV.


Enquanto o velório da minha irmãzinha acontecia, eu me deslocava à casa do meu querido sogro, atrás de bater um papo com ele. Tenho que deixar algumas coisas claras. Não vou permitir que ninguém estrague os meus planos.


Por mais que eu me sinta meio mal com tudo que está acontecendo, não posso me dar ao luxo de ficar me lamentando. Preciso seguir com o combinado até não dar mais.


Bato na porta. Uma, duas, três vezes. Quando estou prestes a bater novamente, Fernando aparece no meu campo de visão. Suas reações a seguir me deixam um pouco preocupada. Ele fica branco e começa a tremer, como se estivesse levando um choque.


— Fernando? O senhor está bem? — Pergunto, encostando em seu ombro com a palma da mão direita.


— Oh, eu sabia que você não estava morta. Eu sabia… Eu sabia… — Ele me abraça, emocionado. Engulo seco, apreensiva. Meu coração aperta, mas disfarço. Desvencilho-me de seus braços e entro na casa, pouco me importando com a falta de permissão. Chega de ser boazinha, Angelique. — Por que Dulce e Claudia não voltaram com você?


— Porque elas estão no velório da Anahí. — Fernando levanta as sobrancelhas e faz uma careta, demonstrando confusão. Cruzo os braços ‘numa pose poderosa e não consigo conter uma risada cínica. — Temos muito o que conversar, Fernando. Mas antes de tocarmos nesse assunto, quero perguntar uma coisa a você. — Sento-me numa cadeira e ele fecha a porta. Sem mais nem menos, incorporo uma nova Angelique. Essa é uma versão um milhão de vezes menos sentimental. Uma que foca, exclusivamente, em todos os sentimentos ruins que sente por Anahí. São eles que me fazem querer seguir adiante. — Por acaso, suas filhas sabem que você internou a mãe delas num hospício? — Imediatamente, os olhos de Fernando se arregalam. — E que isso aconteceu mesmo ela não sendo nenhuma louca?


— Do qu-que vo-você est-está falan-ndo? — Gagueja, o ar foge dos seus pulmões. Acho que tenho você na palma da minha mão agora, Espinosa. Rio escandalosamente com o pensamento e aponto para uma cadeira à minha frente.


— Acho melhor você se sentar.


— Eu não qu…


— Senta. Agora. — Meu tom de voz sai rude e firme. Ele me fita, espantado e nervoso. Seu olhar transmite tanto medo que eu até posso jurar que sei o que está passando pela sua cabeça no momento. Ele está pensando que eu não sou mais a mesma que ele conheceu, aquela que ele permitiu que entrasse em sua casa e se casasse com uma de suas filhas. Ah, se ele soubesse que boa parte da personalidade que eu mostrava a ele não passava de uma farsa desde o começo… É claro, não vou negar que com o passar do tempo algumas coisas foram ficando sinceras, mas é óbvio que não tudo.


O meu sogro se aproxima e puxa brutalmente uma cadeira para atrás de seu corpo. Em poucos segundos, ele se senta e nós ficamos frente a frente. Gosto de gente que me obedece.


— Quando eu descobri tudo que você fez, primeiro eu fiquei surpresa, sabe? Eu te achava um homem correto, íntegro e cheio de valores. Não foi fácil ver que tudo que eu pensava não passava de uma mera ilusão. Você me entende, não entende? — Começo a falar, sentindo a adrenalina passeando pelas minhas veias. Fernando se mexe na cadeira, desconfortável. — Depois do impacto, sabe o que eu senti? Felicidade. Percebi que poderia usar isso contra você quando chegasse a hora certa.


— Como assim? Por que quer usar isso contra mim? Além do mais, você não tem provas do que está falando. Se ousar contar isso para as minhas filhas, eu nego.


— Oh, como você é ingênuo, sogrão. Você acha mesmo que eu iria tocar nesse assunto com você se não tivesse nenhuma prova? — Mordo o lábio inferior e jogo os cabelos para trás. — Eu fui atrás do hospício que você internou a sua mulher. Foi complicado encontrá-lo, mas eu consegui. Ele mudou de nome, não é? Agora se chama Eloíse.


— Como…


— Não perca seu tempo me pedindo respostas que eu não tenho pretensão nenhuma de dar. A única coisa que você precisa saber é que eu estou com o prontuário que comprova que Blanca Espinosa foi internada a pedido seu. — Arrasto minha cadeira, ficando mais próxima dele. — Mas fica tranquilo, Fer. A parte interessante ainda não chegou. — Esboço um sorriso maquiavélico. — Como se não bastasse tê-la internado, você… — Coloco o dedo indicador em seu peito. — Estava presente quando ela se matou. E pouco antes desse suicídio, você a fez ouvir coisas horríveis, não foi? Você foi quem a destruiu psicologicamente, até que ela sentisse vontade de morrer.


— Você não sabe o que está falando…


— Eu sei. Você sabe que eu sei. — Levanto-me e caminho pela pequena sala. Examino aquele muquifo que ele insistia em chamar de casa e balanço a cabeça negativamente. Dulce merece mais… E eu vou dar a ela. — E sei também que você pagou pelo silêncio do rapaz que ficava responsável pela vigilância do hospício. Um gesto inteligente, tenho que admitir.


— Mas que merda! Você não pode estar sabendo disso tudo… Não pode. — Ele explode.


— Posso, posso sim. E quer saber o que mais eu posso? Eu posso te colocar na cadeia e te fazer ficar muito tempo por lá. — Volto a me aproximar dele e agacho diante de seu corpo. Ponho uma mão na sua coxa esquerda para me apoiar e o olho fixamente. — Eu consegui a gravação que contém a sua conversa com a Blanca. Tenho sorte daquele lugar arquivar tudo, sabe? — Aliso sua coxa. Um ato descarado e perverso. — Com a ajuda de um amigo, eu modifiquei a conversa um pouquinho, para que você pareça uma pessoa ainda mais ruim do que já é. Induzir alguém a se suicidar é crim…


— O que eu preciso fazer? — Se dá por vencido e abaixa a cabeça. Sorrio com a língua entre os dentes, vitoriosa. Foi mais fácil do que eu imaginava.


— Nada demais. Eu só preciso que você esteja do meu lado quando a Dulce vier procurá-lo precisando de colo. — Fico de pé. Rodeio a cadeira que ele está sentado e paro atrás dele, soltando minha respiração quente na sua nuca. — Quero que a convença a não me largar em hipótese alguma.


— Ela quer te largar?


— Não, mas vai querer. Depois de tudo que eu fiz, no mínimo ela vai me mandar fazer companhia ao capeta no inferno. — Rio sem humor.


— Eu não estou entendendo. — Avisa e treme, do mesmo jeito que tremeu quando me viu parada na sua porta. Mas agora, em vez de me preocupar, ver seu corpo tão terrivelmente tenso me divertiu.


— Eu menti esse tempo todo. Eu não me chamo Anahí Portilla. Meu nome verdadeiro é Angelique Boyer. A pessoa que eu dizia que era, na verdade era a minha ir… — Pigarreio. — Parente. Minha mãe se casou com o pai dela, sabe como é. — Fernando também fica de pé e me olha incrédulo. Ele devia estar achando que eu sou um monstro. — Mas nada disso é o que importa pra gente. O que importa mesmo é que a Dulce se casou no papel com uma das mulheres mais ricas do México. E agora que a Anahí morreu, sua filha está bilionária, meu caro. Tem noção disso? Bilhões de dólares jorrando na conta de vocês, sem prazo pra acabar e…


— Cala a boca! — Me interrompe. — Que tipo de psicopata é você? Você enganou a minha filha! Enganou a todos nós! — Esbraveja. Sua respiração está desgovernada, enquanto eu apenas reprimo um riso.


— Tá reclamando? Eu fiz de vocês bilionários. — Digo com desprezo. — E o meu plano poderia ter ido por água abaixo se vocês fossem um pouquinho mais atentos à televisão e aos jornais. Anahí e eu somos conhecidas mundialmente, sabia? Mas graças a Deus vocês sempre se preocuparam com outros tipos de coisas. Foi fácil enganar vocês, principalmente a sua filha. — Debocho e Fernando se aproxima, segurando-me pelos braços com força, ao mesmo tempo em que me balança. Em seus olhos, vejo a raiva que ele guarda por mim.


— Você é um monstro, garota. Um monstro. Eu nunca devia ter permitido que você se casasse com a minha Dulce. — Não falei? Ele me acha um monstro.


— Ou você tira as suas mãos de mim agora, ou eu juro que te denuncio por agressão. Para um pouco e pensa em como suas filhas ficarão orgulhosas de te ver atrás das grades pagando por dois crimes. — Digo teatralmente e o ouço gemer de fúria. Aos poucos, ele vai recobrando a sanidade e se afasta. Passo as mãos pelos braços, limpando-os, em um sinal de claro de nojo e superioridade. — Muito bem.


— Como você sabia que essa tal Anahí ia morrer? — Tenta saber, seus olhos se fecham.


Eu não sabiaPor incrível que pareça, não era isso que eu queria.


— Ela tinha muitas inimizades. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, a morte dela ia acontecer. — Minto. — E aí, posso contar com o seu apoio? — Mudo de assunto.


— Eu tenho outra alternativa?


Mais um sorriso surge em meus lábios. Um mais demoníaco que o outro.


— É claro que não.


— Então eu aceito. — Ele abre os olhos. — Mas quero que saiba de uma coisa, Angelique. Eu não sou a pessoa ruim que você pintou. Eu nunca quis me livrar da Blanca, pois eu a amava e a queria comigo. Quando tive que interná-la num hospício, eu me senti o pior dos homens. Só que… — Suspira. — Com o passar dos dias, eu acabei me convencendo que fiz o que era necessário.


— Pra quê?


 Blanca queria se divorciar e pretendia levar as minhas filhas. Eu enlouqueci com a possibilidade de viver sozinho. Agi por amor e desespero.


— As suas razões não me interessam, Fer. Eu não quero nem imaginar o que você foi capaz de fazer para que a internassem sem motivo. Você deve ter feito muita merda.


— Eu… — Ousou falar, mas eu o impedi.


— Com que dinheiro conseguiu comprar o rapaz que vigiava o hospício?


— Eu tinha as minhas economias… — Vejo lágrimas descendo do seu rosto. — E ao contrário do que você disse, eu não a induzi a se suicidar. Eu fui até o hospício para conversar com ela e tentar uma espécie de reconciliação… Sei lá. Mas quando me dei conta, estávamos gritando um com o outro e falando palavras pesadas demais. Eu agi como um bosta com ela, reconheço isso acima de tudo e de todos. Deus sabe que não há um dia que eu não me arrependa do que eu fiz. Eu não queria que ela se matasse. Juro, eu não queria… — Chora arrebatadoramente.


Tentando não me sentir abalada com o seu choro, eu murmurei:


— Não foi o que eu fiz parecer. Na gravação modificada, você parece um monstro. Pior do que aqueles que as crianças têm medo, sabe? Pior até do que eu.


— Você é nojenta. Sabia que eu também posso te colocar na cadeia, uh? Você se passou por alguém que não é. Isso é crime.


— Bom, você pode tentar, mas eu garanto que você não vai conseguir nada. A polícia é louca pela minha família e come na palma da nossa mão. Fora isso, quando eu planejei essa merda toda, eu pensei em cada detalhe. Dei um jeito de tudo sair ao meu favor. Não há prova nenhuma contra mim. Já contra você e sua filha…


— Como você é desprezível… — Mais um xingamento pra conta.


— Tá, tá, já sei de tudo isso. E você também já sabe o que tem que fazer, então tchau. — Dou as costas para ele e saio porta à fora. Ao sentir o ar puro invadindo meus pulmões, sinto-me aliviada. Algumas lágrimas desabam por minha face, alcançando meus lábios, e eu me questiono o porquê disso. Merda. Por que eu tenho que dar uma de fraca toda vez que esbanjo que sou forte? Que inferno! Eu preciso anular a empatia que lá no fundo eu ainda sinto por essa família. Preciso, também, destruir o amor que carrego por Dulce. No começo, antes de conhecê-la, foi tudo minimamente planejado por Alfonso e por mim. Eu a usaria, a faria passar a fortuna da Anahí para mim e pronto. Só que eu fui me rendendo aos seus encantos, aos seus olhos cor de mel, a sua forma doce e gentil de me tratar… Porra. Eu me apaixonei antes mesmo de fazê-la se apaixonar.


Poderia eu fugir disso?


Dulce Espinosa POV.


Acabo de chegar novamente na mansão dos Portilla. Meus olhos doíam de tanto que eu havia chorado no enterro. Claro que foi um choro baixinho e contido, por causa do que dona Sylvie e eu conversamos, mas eu chorei – e muito – agarrada com a minha irmã. Não tenho como explicar o que Claudia representou para mim. Eu teria me afundado no meu próprio abismo de dor se não a tivesse comigo.


— Querida, vá descansar. Você precisa. — Sylvie murmura para mim. Seu sofrimento é colocado e notado em cada palavra que sai de sua boca. — Você também, Claudia. Amanhã conversamos.


— Obrigada. — Falo e seguro a mão de Claudia. Juntas, nos conduzimos até o quarto que nos foi dado por essa noite. Ao passarmos pela porta dele, procuro uma das camas e me jogo nela. Sinto-me exausta, como se um trator tivesse passado em cima do meu corpo.


Dul? — Me chama e eu faço um som nasal. — Você se importaria se eu saísse para ir atrás de comer alguma coisa? Estou faminta. Se quiser, posso trazer algo pra você também.


— Não precisa, eu não estou com fome. Mas você pode ir. Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem.


— Tem certeza? — Assinto. — Ok. Eu não demoro.


Ela sai do quarto e eu me viro, afundando minha cabeça no travesseiro. Tento esquecer, tento não me lembrar de tudo que Anahí e eu passamos, mas não consigo. Ela não me sai da lembrança. E é assim, com Anahí em meus pensamentos, que eu adormeço.


(…)


O meu corpo é balançado de um lado para o outro insistentemente. Acho estranho, mas permaneço de olhos fechados. Em seguida, sinto duas mãos apertarem a minha cintura com um pouco mais de firmeza e uma voz – que eu conhecia demasiadamente bem – soar razoavelmente alta no fundo:


Acorda, amor. Ei, Dul… Acorda.”


De imediato, abro os olhos. Nos primeiros segundos, a minha vista fica embaçada. Acho que por causa do tanto que chorei hoje. Contudo, devagarzinho eu vou podendo enxergar melhor e… PUTA QUE PARIU!


— O QUÊ? ANAHÍ? NÃO! SAI DAQUI, ASSOMBRAÇÃO! SAI, SAI DE PERTO DE MIM! — O meu coração dá sinais de que vai fugir pela boca, mas, na verdade, quem deveria fugir dali era eu. E eu o faria, se a porra do pânico não tivesse me paralisado.


Anahí coloca uma mão em meus lábios e força seus dedos ali, impedindo que eu continue gritando e corra o risco de chamar à atenção de alguém.


— Amor, calma. Eu tô viva. Ei! Eu não sou nenhuma assombração. Trata de ficar calma, pelo amor de Deus. — Embola as palavras, angustiada. Fecho os olhos e me obrigo a pensar que tudo isso não passa de uma loucura da minha cabeça. Porém, quando eu os abro novamente, ela continua ali, me olhando com aqueles olhos azuis tão lindos e brilhantes. Mas que porra!


Ela afrouxa os dedos, que ainda estavam contra a minha boca, e eu volto a respirar.


— Você tá morta… Você tá…


— Não, meu amor. Eu não estou. Olha… — Pega uma das minhas mãos e a desliza por seu corpo, parando no quadril. — Tá vendo? Eu tô aqui.


— É você mesmo? — Indago, desacreditada. Ela assente e eu começo a chorar de novo, mas dessa vez é de puro alívio. A abraço desesperadamente, quase nos machucando. Ela respira fundo e nos aperta uma na outra, como se quisesse nos fundir. — Amor, eu… Eu sofri tanto.


— Eu sei, Dul. Me desculpa por te fazer passar por isso. — Ela funga e então eu percebo que ela também está chorando. — Eu amo você. Acredita em mim, por favor. Eu te amo tanto… — Fala, sem forças. A voz sai como um sussurro. Anahí demonstra estar sufocada com os próprios sentimentos.


— O que aconteceu com você? Me explica. — Não pude deixar de pedir.


— Vem comigo. Aqui não é um bom lugar pra gente conversar. — Ela me dá a mão e me puxa para fora do quarto. No corredor, olha de um lado para o outro, conferindo se tem alguém se aproximando. Como vê que não, me puxa de novo. Agora para um outro quarto, que fica de frente ao que eu estava. — No meu quarto é melhor. Aqui ninguém entra, e lá a sua irmã pode entrar a qualquer momento e…


— Tudo bem. Sem enrolações, Anahí. Só me explica.


— Você sabe que eu tenho uma espécie de meia-irmã, não sabe? Quer dizer…


— É, eu sei. Seu pai se casou com a dona Sylvie, né? Tá, continua. — Ordeno, autoritária. Não dá para controlar a minha maneira ríspida de falar, estou apreensiva demais pra isso.


— Ela e eu nunca nos demos bem, amor. Ela sempre foi má comigo. Agia o tempo todo com arrogância e superioridade, e isso me feria muito. O nosso pai, inclusive, colaborava com isso, já que nunca negou sua preferência absurda por ela. Isso é tão comprovado que quando ele morreu, ele deixou tudo pra ela. Marichelo e eu ficamos praticamente na miséria. — Expõe sua mágoa e eu a escuto atentamente. — Há alguns meses, ela criou uma rivalidade com uma mulher que jurou matá-la. Só ela e eu sabíamos disso. E então, eu tive uma ideia… — Morde o lábio inferior e respira fundo. Suas próximas palavras pareciam afetá-la antes mesmo de serem soltadas. — A Anahí Portilla realmente morreu, Dulce. Eu me chamo Angelique Boyer e a dona Sylvie, a senhora que você conheceu, é a minha mãe. — Arregalo os olhos. — Eu preciso que você me ajude, amor. Essa farsa tem que continuar. Você tem que continuar agindo como a viúva da Anahí… Por mim. Por nós.


 


— Mas que merda você tá falando?


 


 


GENTE AKSKASAS
Capítulo pesado, né? As coisas tão melhorando.
Dul sofreu demais, tadinha. E por alguém que não vale um pão.
O que vocês acham do pai da Dulce? É vilão ou é um mocinho incompreendido?
E com relação a Angelique? Vocês acham ela psicopata, fria e calculista, ou alguém que tem traços bons, mas que se deixou corromper pela inveja e pela raiva?
ME CONTEM TUDO, QUERO LER OS COMENTÁRIOS DE VOCÊS!
Tomara que tenham se entretido. Até o próximo.



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Autor(a): arquivoportinon

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • Lene Jauregui Postado em 25/09/2019 - 22:57:15

    Caramba. Que história viciante amoré. Não creio que a Annie morreu. Diga que não por favor

  • Lene Jauregui Postado em 25/09/2019 - 11:34:42

    *Caramba

  • Lene Jauregui Postado em 25/09/2019 - 11:34:12

    Cantava. Só por 1 capítulo já dar de perceber que há muitos mistérios nessa web. E isso é bom. Continua amoré

    • arquivoportinon Postado em 25/09/2019 - 19:13:07

      MUITOS MISTÉRIOS MESMO! HAHAHAHA. Já continuei, amor. Dá uma olhadinha.

  • DreamPortinon Postado em 25/09/2019 - 01:04:50

    Adorei... Continua

    • arquivoportinon Postado em 25/09/2019 - 19:12:38

      Continuei, amor. Que bom que gostou.


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