Fanfics Brasil - CONCEITO CLANDESTINO CONCEITO CLANDESTINO

Fanfic: CONCEITO CLANDESTINO | Tema: gênero conto


Capítulo: CONCEITO CLANDESTINO

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CONCEITO CLANDESTINO


Ela tinha o aspecto que as passarelas do modismo têm aversões: era redonda, a estatura de pigmeu, os cabelos denunciavam a sua descendência afro, a cor deles eram meia cor de fogo. Quem tentasse encontrar a linha divisória do busto com o abdômen não conseguiria nem com os melhores microscópios da atualidade. Seguia todos os faces dos fabricantes de balas e bolachas. Sabia de cor o nome de cada produto. A sua Mochila escolar parecia um baleiro de armazém.


Meninas que erámos, gostávamos de nos reunir para competirmos quanto o diâmetro de nossa cintura. Eu sou tricampeã. Tenho as três fitas métricas até hoje como troféu. Sou muito orgulhosa disso. Era colecionadora de cartão postal da nossa cidade. Adorava presentear os professores com seus cartões. Conhecíamos a rua da cidade só de alguém dar a arquitetura de alguma casa. Até hoje acredito que os cartões postais era sobra de venda da livraria do seu pai ou aqueles repetidos de sua coleção.  Fora advertida várias vezes porque chupava as suas balas em sala de aula. Quando estava no seu auge alimentício, ou melhor..., punha a balinha na boca para brincar de pingue-pongue com ela dentro da boca. Nunca a víamos dentro de qualquer igreja da nossa cidade. Ela era o personagem principal da nossa escola, principalmente na hora do recreio. Ela se sentava no canto da sala da diretora, e nós reuniam para participar do próximo concurso. O juiz era o espelho. Muito rigoroso por sinal. Ela nos odiava, tínhamos certeza disso.


Terminávamos o nono ano quando li de longe o nome fixado no mural da escola: CONCURSO. Imagina se eu o temeria-. Era tricampeã. Acostumada com o paquímetro do juiz espelho. Parei no antepenúltimo degrau da escada e entrei no Fantástico mundo de Bobby, ou melhor, no mundo da passarela. Reeepirei! Reepirei! Oxigenei bem o celebro. Aproximei do mural sem sentir os pés. Comecei a lê do que se tratava. Só por desencargo de consciência. Para minha surpresa: concurso de bolsa para estudo universitário. Terminar o meu ensino médio e começar o curso universitário de Estética era o meu sonho. Caí em prantos. Só tinha este curso na faculdade particular da cidade vizinha. O extinto levou-me ao canto que Sândala sentava para chupar as suas balas. Com a cabeça entre as pernas, senti alguém tocar em meu ombro. Quando olhei, sentir ser reprimida, porque eu invadira área privada. Framboesa, por que está chorando? Meu Deus! Como ela sabe o meu apelido? Nunca conversei com ela. A minha mãe prometeu segredo quanto ao meu apelido. Ela estendeu a sua mão para que eu aceitasse ajuda para me levantar. Fiquei contaminada por aquele gesto.


Por que está chorando? Levei-a ao mural para entender o meu desespero. Cada passo nosso, era um olhar de espanto que recebíamos.  Veja a exigência do edital: fazer uma redação dissertativa argumentativa, tendo como tema: O poder da empatia e uma prova tendo como referência os livros: O poder da gentileza de Rosana Braga, Cantiga pra Boi dormir de Pedro Lusz e o Poder do Hábito de Charles Duhigg  Como eu conseguiria estes livros? E o professor para me preparar em redação? Eu só via o túmulo de meu sonho. Acalme-se. Disse ela para mim. Nunca ouvira a sua voz. Era doce e leve. O meu pai é professor de língua portuguesa e aposentado. Não se preocupe, tenho estes livros na minha biblioteca. Não se preocupe com as suas condições de pagamento. Ele ensina por amor à educação.


No dia seguinte fui à casa dela, literalmente correndo. Ela não mora num sobrado como eu, e sim numa casa. Mandou-me entrar. Olhando bem para meus olhos, disse a mim que limpara os livros e já falara também com o seu pai sobre as aulas, então eu transformara na própria esperança de alegria. Perdi completamente a função do tato. Não ficou simplesmente nisso. Três anos de muito estudo e de renovação de alma. O tempo tornou relativo para mim. Eu ia à casa dela diariamente até o último dia de aula.


Hoje não sou uma menina com um espelho. Mas uma mulher sentada à mesa com  os livros infanto-juvenis para classifica-los  e indica-los aos meus alunos do nono ano. A felicidade não é mais clandestina. As pessoas sempre perguntam para mim por que tenho este ar de felicidade. Digo que o espelho de minha alma é o livro.


Esta fanfiction foi inspirada no conto Felicidade Clandestina, de Clarice Lispecto


Autor: Renildo Dias da Costa


 



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