Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Felicidade Clandestina
Felicidade Clandestina
Esta é a narrativa de uma história que aconteceu numa cidadezinha do interior do Nordeste, duas meninas pré-adolescentes que estudavam na mesma escola, ambas gostavam muito de ler, no entanto não eram tão próximas como colegas de sala de aula e isso se tornou evidente ao longo da história que se segue.
Ao olhar com mais clareza, percebe-se a nítida diferença entre ambas no tocante aos aspectos físicos, intelectuais, classes sociais, oportunidades e popularidade na pequena e única escola da cidade. Isso era evidente ao ver o quanto uma era bajulada e outra humilhada.
A ´´gordinha ruiva´´, que assim era chamada pelos cantos da sala de aula e muito provável que fosse chamada pela escola inteira também. Mas por outro lado esta menina, não tinha qualquer tipo de vaidade, era do tipo a menina, que os carinhas não tinha a menor vontade de ficar.
Era baixinha, gordinha, sardenta, cabelos crespos, curtos, não se arrumava direito e parecia que só tinha a mesma roupa. Aliás, só vestia roupas largas, parecia que estava de pijama na escola.
O que era notável nesta garota de olhos castanhos escuros, sisudos, sem um ar de empatia no rosto, aparentemente triste e apática, era que ela sempre estava mascando ou comendo alguma coisa.
O que tornava fácil conseguir um chiclete ou doce dela em qualquer momento. Porém a garota não tinha nenhum modo polido de comer as coisas que sempre havia nos bolsos. Estavam sempre cheios de balas ou algum tipo de doces e muitas das vezes ela era espalhafatosa ao chupar balas, sempre estava com a boca cheia e fazia barulho ao mastigar.
No entanto não ligava pra isso e se alguém lhe pedisse um pedaço à gordinha nunca negava.
A garota era uma expert na leitura, isso fazia dela uma qualidade inquestionável, se destacava das demais meninas na sala de aula. Sempre tirava notas altas em redação, na leitura e interpretação de texto.
Não tinha pra ninguém, era muito boa nisso, tanto que quando ia montar grupos era sempre disputada, pois sabiam que com ela no grupo não tinha como sair errado, a nota seria garantida. Mas mesmo com estas qualidades estudantis, não se sentia parte inclusiva ou inserida no grupo, isso era um sofrimento, mas disfarçava bem seus sentimentos, ninguém sabia dos dilemas que ela vivia, nem mesmo seus pais.
Quando solicitada nos grupos de estudos, se as coisas não saíssem do jeito que ela queria o pessoal já sabiam muito bem quais seriam as consequências. No entanto sob suas normas as coisas saiam muito bem; este era o momento que se sentia a poderosa.
Diante de tamanha capacidade intectual, os colegas de sala tinham uma incômoda dependência psicológica dela, claro que nem precisa dizer o quanto isso a deixava numa confortável situação para manipular os demais.
A garota sabia que os colegas só a procuvam por puro interesse, porém aprendeu a não se incomodar com isso.
A cidade em que morava era pequena, sem muitos recursos, seria na verdade uma comunidade ruralista, onde todos se conheciam, havia apenas uma avenida e só uma livraria que por sinal era do pai da gordinha ruiva.
Qualquer consulta de trabalhos escolares eram feitos lá. Isso explica a facilidade que a gordinha possuía em leitura e interpretação de textos, desde muito cedo teve contatos com os livros. Ela era motivo de orgulho dos pais e nunca causava problemas de convívio com a turma que queriam sempre zoar com ela.
Ela preferia se confortar na leitura de grandes clássicos literários, tinha um vocabulário acima da média e era a melhor na sala de aula, motivo pelo qual talvez sofresse tamanha zombaria.
No entanto aguentava calada acalentando um senso de vingança muito bem arquitetado e sabia que o dia da vingança iria chegar.
No dia que o pai dela resolveu fazer aquisição de alguns livros novos para renovar a livraria, comprou alguns exemplares que foram lançamentos mundiais e até fez menção de avisar que eram bem caros. Isso ela fez questão de dizer pra todo mundo que o pai dela havia comprado e que se quisessem podiam ir á livraria constatar.
Mas só que numa cidade como aquela sem recursos, quem iria dispor de dinheiro para aquisição de livros?
Se bem que a galera da escola gostava de ler, no entanto ela fazia questão de desfilar com um livro lindo, novinho que acabara de chegar à livraria.
Ninguém sabia, mas fazia isso justamente como uma forma de chamarisco mesmo, ela só estava na espreita, esperando uma possível vítima que estivesse fácil.
Qual não foi a surpresa ao saber que a garota mais bonita e desejada entre os garotos se interessou de um jeito incomum pelo livro. Foi paixão á primeira vista, isso deixou a gordinha ruiva mais que satisfeita.
Esta menina linda era loirinha, magra, alta, popular o estereótipo desejável de todos os garotos. Vestia-se bem e sempre cercada de outras garotas da mesma aparência, tinha o garoto que quisesse nas mãos.
Aliás, eles viviam correndo atrás dela o tempo todo, era bonita mesmo, era tudo que uma garota gostaria de ser em termos de beleza.
No entanto era uma das garotas que também gostava de humilhar a gordinha ruiva.
A cidade que elas moravam apesar de ser pequena, era bem ruralista, com uns morros bem altos e esta loirinha mora num destes locais afastados do centro da cidade, morava mais ou menos umas duas horas da sua casa até a escola. Ela fazia isso de bicicleta todos os dias ,mas como era uma cidade que todos se conheciam, isso não oferecia nenhum risco ao andar pelas circunvizinhanças entremeadas pelos pastos e ruinhas de terras entre as propriedades rurais que por lá existiam.
O plano de vingança da gordinha ruiva teve início numa manhã na sala de aula, quando percebeu que a loirinha queria ver o livro que ela levava a tira colo o tempo todo pra escola.
A gordinha disse que poderia ver o livro sim, mas só se fosse a casa dela. A loirinha consentiu então em ir até á casa da colega na mesma tarde.
Ao terminar a aula cada uma foi para sua casa, naquele dia a loirinha nem quis comer direito, mal podia esperar o momento de ir ver o livro na casa da colega, esta por sinal só estava no início de uns dos planos mais bem ousados de vingança já pensados de todos os tempo. Chegou à hora, a loirinha pegou a bicicleta e desceu para casa da gordinha ruiva. Debaixo de um sol escaldante, estava vermelha de calor, mas nem se incomodou com isso, afinal a expectativa de ter a oportunidade de ler o livro era o maior motivo de tamanho sacrifício.
Ao chegar á casa da gordinha ruiva, qual não foi à decepção ao saber que a garota não estava com o livro, o mesmo foi emprestado pra uma prima ao sair da escola, ela alegou que se esquecera que tinha marcado naquele mesmo dia o empréstimo com a prima. A loirinha engoliu seca e voltou pra casa decepciona e ainda pedalou duas horas.
No outro dia ao chegar á escola, elas marcaram de novo sobre o empréstimo do livro na casa dela e assim foi combinado, mas desta vez a gordinha ruiva não sabia onde estava o livro. E esta tortura chinesa se arrastou por dias seguidos, eram duas horas de ida e volta todos os dias quer faça chuva ou faça sol, mas que na maioria das vezes era sob um sol abrasivo e escaldante.
Certo dia a mãe da gordinha começou notar a loirinha que chegava rapidinho e logo saia cabisbaixa e triste empurrando a bicicleta.
A mãe que não era boba nem nada resolveu pedir para loirinha voltar e explicar aquela visita rápida e silenciosa que fazia no meio da tarde quase todos os dias.
Então logo percebeu a maldade da filha e exigiu explicações, a garota acabou confessando que ficara de emprestar o livro para coleguinha e que esta teria que vir todos os dias á tarde, no mesmo horário. Todavia ela nunca emprestaria o livro, por conta de que gostava mesmo de ver a tortura da coleguinha pedalar praticamente quatro horas, por um livro que nunca havia saído de dentro de casa e que ela mesma nunca se quer folheou o livro.
A mãe da gordinha não acreditou no que estava ouvindo. O sentimento maternal falou tão alto , que ela não tinha palavras para expressar o quanto estava triste e na mesma hora exigiu que a filha se desculpasse, desmascarou a intriga da filha, em demonstração de uma ação de carinho e afeto pela coleguinha que pedalava dias seguidos de uma ponta á outra da cidade.
A mãe deu o livro tão almejado para a coleguinha e ainda fez a filha fazer uma dedicatória.
Ao saber disso os olhos da coleguinha se encheram de lágrimas e ela nem tinha palavras para agradecer por tamanha demonstração de afeto, amor, consideração por parte da mãe da gordinha ruiva. O retorno para casa foi num piscar de olhos, nem notou o sol quente, os morros para transpor, e as pedaladas por quase duas horas.
No caminho ela conversava com o livro e repetia diversas vezes o quanto ele era importante, o quão desejável e se tornou mais que um livro de cabeceira.
Em casa ela não sabia nem o que fazer com o livro se lia ou colocava num local para todos verem, enfim ele se tornou algo de apreço sem medidas. Em qualquer local que ia ela estava com ele à tira colo.
No entanto até agora não se sabe o que este livro tinha de tão especial e que poder de influência tinha sobre esta menina.
Autor(a): fulano
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