Fanfic: felicidade clandestina | Tema: fanfic baseada no conto "felicidade clandestina" de Clarice Lispector

Luiza era uma menina difícil de esquecer. Tinha um brilho nos olhos que fazia qualquer um parar para admirar. Estudávamos juntas e morávamos perto uma da outra. Porém, por mais que eu tentasse, nunca consegui me aproximar dela. Eu, menina baixinha, meio desengonçada e que tinha um amor insaciável por livros, devorava-os com uma vontade que só eu, sempre achei que ela fosse super ocupada com coisas mais interessantes do que se aproximar da vizinha esquisita.

Tudo mudou num dia nublado de outono. Estava caminhando para a escola como de costume quando ouço uma voz atrás me chamando. Era ela. Luiza estava em desespero pois seu gatinho de estimação tinha desaparecido e precisava de ajuda para encontrá-lo. Me prontifiquei em ajudá-la e, após caminharmos pelo bairro todo, decidimos procurar dentro da casa dela. Era uma casa enorme, com vários cômodos, certamente ele estaria escondido ali. Foi quando, ao adentrar num determinado cômodo, meu mundo inteiro girou.

Era a maior biblioteca que eu já tinha visto. Maior até que a biblioteca da escola. Recheada de clássicos, livros e mais livros me chamando para desbravar todas as histórias incríveis ali guardadas. Luiza olhou pra mim com uma cara de espanto sem entender nada, logo que expliquei minha paixão pela leitura e que estava diante do meu maior sonho, ela riu da minha cara. Disse que eram livros velhos que seu pai, um antigo dono de livraria, insistia em guardar e que ela nunca tinha nem encostado neles.

Eu não podia acreditar, como alguém possuía um tesouro desses na frente dos próprios olhos e não sabia desfrutar dele? Pois bem, disse a ela que iria lhe mostrar o quanto uma boa leitura podia nos fazer bem. Ela concordou em tentar. Meus olhos já correram para um dos melhores livros de todos os tempos: Reinações de Narizinho, de Machado de Assis. Quando retirei da prateleira, levamos um belo susto. O gatinho da Luiza estava escondido ali no meio. Ficamos aliviadas por termos encontrado aquele fujão.

Como já tinha passado o horário da escola, propus que ficássemos ali lendo. Ela aceitou e aquela tarde foi a tarde mais feliz da minha vida. Acredito que da Luiza também. Ela me contou que não tinha amigos, que se sentia muito sozinha. Eu mostrei a ela que ela poderia encontrar nos livros muitos amigos nos quais confiar e ela finalmente percebeu a magia de se permitir entrar no mundo das histórias.

Um sorriso sorrateiro tomo conta de mim. Eu finalmente tinha conquistado a amizade daquela menina que sempre admirei e, de brinde, pude ler por uma tarde toda (e muitas outras que viriam) obras clássicas que nunca imaginei que teria a oportunidade de sequer tocar. A felicidade transbordava clandestina pelo meu coração. Seguia sem querer acreditar mas aproveitando cada segundo daquele dia que foi, clandestinamente, feliz.