Fanfic: A minha felicidade - Letras | Tema: letras, clarice lispector, conto
Existem sonhos que competem entre si para ver quem será o mais importante, quem terá a minha prioridade. Ontem, meu sonho de saber a quantidade de azulejos azuis que ficam nas paredes da cantina foi o vencedor. Depois de decidir que essa era minha nova prioridade, passei semanas indo para a cantina na hora do recreio para contar os azulejos. Existem quarenta e dois azulejos azuis claros e 55 azulejos brancos. Como pensei; a quantidade de cada cor não é a mesma, sempre achei que via mais branco que azul.
Hoje, decidi meu novo sonho quando vi a menina comendo na cantina, na mesa em frente à minha. Ela é diferente das outras meninas da nossa classe, não se importa se todos estão a encarando, nem com comentários de pessoas que não conhece. Na verdade, acho que ela não conhece ninguém. Me disseram que os pais dela são donos de uma livraria, mas duvido que ela leia qualquer coisa. Nunca aparece com um livro sequer, nunca foi vista lendo nos corredores e a única coisa que sempre vejo ela carregando é sua lancheira. Deve ser por isso que ela já está quase o dobro do tamanho de mim.
Ninguém gosta de conversar com essa menina e ela não parece ligar. Fica confundindo os nomes de todos e nunca faz nada que promete. Há alguns dias, vi uma menina pedindo para ela mascar suas balas de boca fechada, ela disse que sim mas logo voltou a fazer barulho de boca aberta. Ela gosta de irritar os outros e mostrar que não se importa.
O que importa é que eu finalmente decidi meu novo sonho; quero ler um livro grande até o final. Decidi falar com a menina estranha e explicar meu plano, ela pareceu totalmente sem interesse, não conseguindo ver a importância da situação. Insisti tanto que enfim ela comentou que havia um livro grande na livraria de seus pais, chamado As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Perfeito! Já li muitos livros, mas nunca um com tantas páginas. E por ser de um escritor que adoro, era com certeza a opção certa. Então, ela pediu para que eu fosse buscar o livro em sua casa no dia seguinte.
A manhã estava linda e ensolarada, o tempo perfeito para ir correndo buscar minha nova leitura. Que emoção me toma sempre que vou iniciar uma leitura tão desejada. Saltitei pelas ruas até a porta da frente da menina estranha, que abriu a porta e destruiu minha alegria. Ela disse que não podia me entregar o livro, pois uma menina já ia pegá-lo, mas que eu poderia voltar no dia seguinte que sem dúvida ele estaria disponível.
Apesar da tristeza, ainda residia em mim um fio de alegria futura; amanhã seria o dia. Adormeci e sonhei com Narizinho. No dia seguinte, ao abrir a porta para mim, a menina disse a mesma coisa, e nem pareceu chateada. Ela estava gostando da situação.
Vários dias se passaram e aos poucos minha felicidade de ir pulando até a casa da menina estranha ia diminuindo. Até que sua mãe apareceu atrás dela com expressão confusa. A mãe perguntou porque eu voltava lá todos os dias, trocava poucas palavras e ia embora.
Expliquei brevemente que queria muito o livro emprestado, que me foi prometido à dias e que a menina estranha recusava-se a entregar. A mãe fechou os olhos e respirou fundo, depois olhou para mim e disse que o nome de sua filha era Luciana, e que ela tinha um problema de memória curta e não conseguia lembrar-se de informações da maneira normal. Então, entregou-me o livro e fechou a porta.
Autor(a): laisf
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