Fanfic: Madrugadas de Desejo ( ADAPTADA ) | Tema: Vondy

O ar ficou preso em sua garganta. — Nós certamente não estamos noivos!

Os dedos dele apertaram os dela. — Claro que estamos, mulher!

— Ainda não. — Ela sentiu as bochechas esquentando. Estava constrangida diante da amiga, que devia achar que ela tinha ficado maluca. Hoje em dia, noivados a matavam de medo. Ela jamais tivera sorte com eles. Em sua experiência, os homens rapidamente a menosprezavam depois de noivos. — Creio que eu tenha lhe falado claramente que não há noivado. Apenas um acordo. De certa forma.

A pobre Anahi olhava para os dois completamente confusa.

— É apenas um acordo para considerar o casamento — Dulce explicou. — Se as condições forem favoráveis.

— Chame do que você quiser — estrilou Dulce, afastando a mão.

O garoto voltou da cozinha, sentou em sua cadeira e, dessa vez, se dirigiu a Christopher. — Você mora em Lôndis, moço?

Irritado, Christopher coçou a lateral do nariz. — Moro. Presentemente.

A pergunta passou a Dulce. — Onde mora, moça?

— Em todo lugar.

— Todo lugar?

Christopher murmurou — Como uma cigana.

Ela tentou explicar. — Às vezes, fico com minhas irmãs em Londres. Às vezes, visito meu pai, ou vou para Brighton, ou Bath, e fico com amigos. — Ela forçava cada palavra, embora sua mente estivesse preocupada.

— É mesmo? Brighton? — Christopher riu asperamente. — Achei que tivesse dito que nunca tinha ido lá na vida.

Em vez de responder, ela deu uma grande garfada na torta.

Depois de pensar no que tinha dito, Rafe exclamou: — Você anda um bocado por aí. Como um trapaceiro que não quer ser pego.

— Rafe!

Christopher sorriu. — Novamente, um entendimento perfeito da senhorita Saviñon. Ela não quer ser pega.

O garoto sorriu. — Eu também andava um bocado por aí. Antes de vim pra cá.

— Antes de vir — Anahi corrigiu, parecendo estressada.

— Antes de vir pra cá — repetiu o garoto. Ele apontou para Dulce. — Você está com espinhos no cabelo.

Então, Dulce percebeu que havia algo familiar em sua boca. Ela tentou imaginar o menino com uma pele mais clara.

Christopher murmurou: — A senhorita Saviñon fica espreitando nas moitas para espionar os outros.

Houve um breve silêncio, até que Anahi encontrou outro assunto e começou a contar das reformas que o marido tinha feito na fazenda. Dulce tentava prestar atenção, mas sua mente não se comportava e ela viu que Christopher, igualmente desatento à conversa, estava fascinado pelo menino. Ele ficou olhando, do outro lado da mesa, até que o marido de Anahi chegou dos estábulos.

O cumprimento entre Christopher e o senhor Herrera foi frio e menos confortável que o colchão de um faquir, mas passou sem incidentes. Como a esposa se esqueceu de mencionar, o senhor Herrera estendeu-lhes o convite para a festa naquela noite.
Antes que eles saíssem, Anahi levou Dulce até a despensa para lhe dar algumas compotas para levar para a tia. Com a porta parcialmente fechada atrás delas, as mulheres olhavam as prateleiras cheias de compotas até que Anahi subitamente pegou-lhe a mão e sussurrou: — Minha querida amiga, há coisas que você não sabe sobre Christopher.

— É mesmo? Sempre achei que soubesse tudo de tudo.

— Ora, mas seja séria uma vez! Christopher é um homem que tem um... passado.

— E eu sou uma mulher com a mesma coisa.

— Mas há...

A porta abriu e Rafe enfiou a cabeça para dentro. — Do que vocês estão cochichando? Estão cochichando de mim? Estão, não é? Estão com cara de culpadas.

— Não, não estamos, pelo amor de Deus — Anahi estrilou, mais zangada do que o necessário, pareceu para Dulce. — Por que teríamos algo para cochichar de você?

Contudo, a interrupção foi o bastante para dissuadir Anahi do alerta que ela queria dar. Ela parecera dividida entre o que deveria ou não dizer e, com um leve desencorajar, acabou desistindo.

Dulce não forçou. Na verdade, ela não queria ouvir nada de ruim sobre Christopher. Parte dela sentiu-se ofendida porque a amiga sugeriu que havia algo sobre Christopher que ela desconhecia. Pelo amor de Deus, ela conhecia o homem e todas as suas falhas havia dezessete anos.

No entanto, algo perturbou sua amiga durante toda a visita de uma forma tão profunda que o marido de Anahi tocou no assunto, porque ela se esqueceu totalmente de mencionar a festa. Em circunstâncias normais, a festa seria a primeira coisa que as duas falariam. No entanto, hoje, ambas estavam distraídas demais.

Dulce tinha visto Anahi olhar Chistopher com olhos assustados, vazios. Se é que olhava para ele. Algo estava muito errado. As dúvidas e os temores de Dulce precisavam de pouco incentivo para se espalhar como erva daninha em sua mente.

Será que o comportamento estranho da amiga era por saber como Dulce e Christopher sempre foram avessos? Será que ela se perguntava como eles teriam superado a rixa? Ou seria simplesmente pelas diferenças que tinham em suas origens?

Christopher Uckermann era podre de rico, filho e neto de comerciantes fidalgos. Sua avó era filha de um marquês, sobrinha de um duque e a pessoa mais importante de Morecroft. Diziam que ela tinha um serviçal apenas para segurar seus sais de inalação. Convites para seus eventos sociais eram quase tão concorridos com a elite do interior quanto os convites da corte. Christopher, seu único neto, só conhecera as melhores escolas, os mais finos alfaiates, os chefs mais concorridos. As mais belas mulheres.

Por outro lado, ela era uma inconstante, enteada desviada de um almirante empobrecido e excêntrico. Sua mãe tinha sido uma ninguém — até pior, uma estrangeira. Difamada aonde quer que fosse, Dulce sabia que o mundo a via como uma criatura desajeitada e irreverente, de pouca beleza, charme escasso, nenhum senso de moda, apenas alguma perspicácia para manter distância dos portões da prisão dos devedores.

Que motivo no mundo Christopher tinha para estar com ela?