Fanfic: Madrugadas de Desejo ( ADAPTADA ) | Tema: Vondy
— AQUELA TAL DE SAVIÑON é um perigo para si mesma e para qualquer um que tenha o infortúnio de cruzar seu caminho!
Zangado, ele remexia o jornal, virando outra página, sem conseguir se concentrar em uma palavra do que estava escrito. — De verdade, ela é um perigo, Grieves.
— Minha nossa, senhor — disse o criado, com certa preocupação. — No meu tempo, as mulheres sabiam seu lugar. Mas se tornaram um tanto rebeldes.
— Se fosse possível saber de onde ela vai surgir, algum tipo de defesa poderia ser preparada contra o ataque, mas ser imprevisível é parte de seu terror. Nunca se sabe de onde ela vai aparecer. — Christopher meneou a cabeça. — Com certeza ela estará no meu pé novamente, cedo ou tarde. — Deixando a ponta do jornal dobrar para dentro, ele olhou para a frente. — Sabe o que a malandra me perguntou?
Grieves parou de servir o café e fez sua expressão de atento, que tinha só duas rugas de distância da cara de desinteresse. — Estremeço ao imaginar, senhor.
— Ela me perguntou se eu já tinha ouvido falar em referências desiguais. Referências desiguais! Como se homens e mulheres devessem ser vistos com os mesmos parâmetros. — Ele voltou o olhar ao jornal e sacudiu a ponta caída com um solavanco do punho. — Começo a achar que ela é maluca.
O criado terminou de servir o café. — Isso foi antes ou depois que ela o atingiu com a peça da lareira, senhor?
— Não foi uma peça da lareira. Foi um jarro. — Christopher ergueu a cabeça para mostrar o pequeno corte em sua testa, perto do couro cabeludo, onde um estilhaço de louça o havia ferido.
— Ainda bem que o senhor tem uma cabeça grande e dura, acostumada a objetos que colidem contra ela.
Christopher apertou o jornal nas mãos antes de atirá-lo ao tapete. — Você quer dizer que foi bom para ela que eu sou um sujeito tolerante e não mandei prendê-la na hora. — Ele não podia pensar em Dulce Saviñon por muito tempo ou talvez começasse a imaginar suas pernas nuas novamente. Isso só resultaria em problemas.
— Que pena, senhor, que as rédeas estão perdendo o uso.
— De fato, é mesmo. — Suspirando, ele recostou em sua cadeira. — Minha paciência com as mulheres, em geral, não é mais como era, Grieves. Às vezes, sinto como se tivesse me transformado em um mero brinquedo nas mãos delas. Um objeto de diversão a ser usado, depois jogado de lado sem nenhuma preocupação com meus sentimentos.
— Que terrível ficar tão impotente nas mãos das mulheres. E isso me faz lembrar, senhor, que chegou outra carta esta manhã da senhorinha lady Mercy Danforthe.
— Meu Senhor! Será que ninguém tem controle sobre aquela criatura?
— Parece que não, senhor. Se alguém tem controle sobre ela, aparentemente, não o quer. Essa é a décima carta que ela manda no espaço de um mês desde que o senhor salvou-lhe a vida, no parque.
Christopher mexeu o café com um grau desnecessário de violência. — Eu não salvei a vida dessa moça. E gostaria que você parasse de se referir a isso dessa forma. Apenas aconteceu de eu ser a única pessoa com habilidade para galopar atrás de seu pônei quando ele se assustou. — Agora ele desejava ter olhado para o outro lado, pois estava bem certo de que a garota era mais que capaz de controlar o pônei. Ela lhe trouxe as lembranças de seu velho buldogue. Na época, porém, sem saber de nada disso, ele agira puramente por instinto para deter o pônei fugitivo e salvar a criancinha agarrada a ele.
— Na cabeça da pequena jovem, o senhor a salvou. Ela nem quer discussão. Pelo que sei, lady Mercy não é vencida com sucesso em nenhuma discussão nem mesmo com seu irmão, o conde. Segundo me foi dito, ela tem mente própria e tem mais liberdade do que é bom para ela. Ou para o mundo.
— Que desgraça. — Ele sacudiu a cabeça diante da ideia horrenda de garotas jovens com mente própria. — Ela tem o que, doze, treze anos?
— Se aproxima de fazer dez, eu creio, senhor. Certamente uma idade bastante desafiadora. Atrevo-me a dizer que o pior ainda está por vir.
Christopher fungou na xícara de café. Lady Mercy Danforthe era uma meninota encantadora e sardenta com cabelos ruivos cor de fogo e uma natureza teimosa. E, aparentemente, uma imaginação sensacional. Suas cartas de amor, escritas para Christopher quase todos os dias, eram em uma linguagem tão chocante quanto colorida — sempre decoradas com corações flechados pintados. — É uma situação triste, Grieves — murmurou ele, reclinando-se ainda mais, colocando todo o peso nas duas pernas traseiras da cadeira —, quando ninguém tem controle sobre uma mocinha atrevida, de treze anos. Só pode dar em tragédia.
— Concordo, senhor. Sempre achei que jovens moças devem ficar trancafiadas, fora do alcance das vistas e dos ouvidos, até que tenham sobrevivido aos anos de formação.
Depois de balançar perigosamente por um momento, Christopher bateu as pernas dianteiras da cadeira de volta no tapete. — Tem muita assanhada à toa correndo por aí, fazendo o que quer, mesmo que oprimida de alguma forma. Esse mundo está um perigo, Grieves. Como pode um homem virar uma nova página, entrar nos eixos, com tanta coisa contra ele? Nem minha própria avó tem alguma fé de que algum dia eu encontrarei a mulher certa.
— A mulher certa, senhor? Quer dizer, uma que seja aprovada por ela?
— Naturalmente.
— Isso explica o motivo para ela dar o baile de Ano-Novo na residência Uckermann, senhor. E convidar todas as solteiras elegíveis.
— Ela o quê?
— Lamento, senhor. — Grieves abaixou a cabeça grisalha. — Achei que soubesse. Lady Hartley mencionou para mim da última vez que esteve na cidade.
Limpando os lábios com um guardanapo, Christopher estrilou. — Que maravilha! Um mercado de gado.
— Parece que lady Uckermann desistiu de esperar que o senhor escolha. Ela ficava citando seu grande erro, senhor. E como não se pode confiar que não cometa outro parecido.
Christopher esfriou seu café com um suspiro pesado. Sua avó era uma velha enxerida, mas ele sabia exatamente a que ela estava se referindo ao mencionar seu “grande erro”. Dois anos antes, ele tinha feito papel de tolo absoluto ao propor casamento, pela segunda vez, a senhorita Anahí Portilla, que finalmente o rejeitara, por outro homem, um modesto fazendeiro. A humilhação o deixou profundamente magoado, mas ele cometera outros erros, muito mais sérios, os quais a avó continuava desconhecendo.
Uma década atrás, ele tinha perdido um filho ilegítimo. Uma doméstica com quem teve um caso rápido engravidou, mas, por ter sido despedida de seu cargo, ela não disse a Christopher até bem perto de ter o filho. Na época, ele não estava em Londres. Voltou o mais depressa que pôde, mas a mulher havia desaparecido e ninguém sabia para onde ela tinha ido. Ele procurou a família dela, mas não encontrou ninguém. Dez anos depois, quando Anahí Portilla o descartou para sempre, ela o acusou de ter abandonado a empregada grávida, deliberadamente deixando que ela e o filho recém-nascido morressem sozinhos. Christopher ficou chocado, horrorizado. Se ele tivesse descoberto sobre o bebê, antes que fosse tarde demais, claro que teria ajudado de alguma maneira possível. Entretanto, o fato era que a mulher e a criança haviam morrido. James tinha de ser responsabilizado.
Mais tarde, ele supôs que deveria ter sabido a verdade quando a empregada foi dispensada do emprego — de que havia algo além da vaga desculpa que lhe deram para sua partida. No entanto, naquela época ele era mais jovem, tolo e negligente, e procurava prazer de qualquer maneira, fazendo vista grossa aos fatos mais sombrios da vida. E às consequências de seus pecados. Ele não soubera que a mulher e a criança tinham morrido até que Anahí lhe jogou isso na cara, quando fez sua escolha e o deixou para sempre. Naquela noite, ele abriu os olhos e não gostou do que viu em si mesmo.
Foi forçado a olhar para dentro de si e a se questionar, quando, antes, sempre presumiu saber melhor sobre tudo. Christopher tinha tomado a decisão turbulenta de virar uma nova página.
Agora, sempre que pensava naquela empregada e em seu filho — o que acontecia com frequência —, o peso frio da tristeza e do arrependimento se alojava em seu estômago. Um erro pesaroso que ele talvez pudesse ter evitado, mas era tarde demais para salvá-los. Tudo o que ele podia fazer era compensar em sua própria vida.
Ele gemeu e sua xícara caiu no pires com um ruído que o fez cerrar os dentes. — Preciso encontrar Maria Antonieta.
Um suspiro baixinho escapou dos lábios do criado. — Aquela de Brighton, senhor?
— Sim. — Ele vinha procurando há meses, buscando-a em cada belo rosto, cada sorriso triste.
— Achei que tivéssemos desistido dessa ideia, senhor.
— Certamente não.
— Mas nem temos certeza de que ela existe, temos, senhor?
Ele contorceu o rosto olhando a xícara. Ela existia. Em algum lugar. Sim, ele tinha caído de cara e acordado com uma dor de cabeça terrível, mas não a criara do nada. Sua imaginação não era tão criativa. Ela era real. Seis meses depois, o beijo ainda permanecia em seus lábios. Se ele realmente ia dar uma virada em sua vida, precisava dela ao seu lado, da mesma forma que precisara dela, naquele banco de pedra, para se manter sentado ereto.
Era absolutamente enfurecedor que ela se recusasse a ser encontrada, quando ele precisava tanto dela, e enquanto outras megeras geniosas e insolentes, como Dulce Saviñon, apareciam por todo lado, tentando distraí-lo de seu novo caminho.
Grieves gesticulou para o ovo à sua frente e disse, sinistramente: — Devo quebrá-lo para o senhor? Ou está com vontade de fazê-lo, esta manhã?
Christopher arrancou a faca de manteiga da mão do empregado, murmurando baixinho: — Com vontade? Com vontade? Aqui! — Com um golpe da lâmina polida, a casca do ovo estava partida em duas e um borrão de gema espirrou na toalha da mesa. Christopher sorriu, sentindo-se ligeiramente melhor.
Grieves pousou a bandeja de prata com torradas ao lado da xícara de café de Christopher. — E agora, senhor, ao negócio do dia. O senhor vai jantar em casa esta noite?
— Acho que não... não, tenho uma festa a que preciso ir.
Autor(a): cilly
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Ah, muito bem, senhor. Como é terça-feira, eu estarei fora, claro. Christopher olhou maliciosamente para o empregado. Grieves sempre tirava folga nas noites de terça, e o que fazia era algo que eles nunca discutiam em detalhes. — Seu clube, não é? O criado hesitou. — Sim, senhor. O Clube de Cavalheiros. Nós cuid ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 38
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capitania_12 Postado em 29/07/2020 - 11:04:35
cadê a fanfic?
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capitania_12 Postado em 23/06/2020 - 09:06:57
Uhul,continua logo. Amo demais
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capitania_12 Postado em 15/06/2020 - 17:15:09
Continua ,faz maratona . Poxa,o que esse garoto tem de tão misterioso? Kkk
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capitania_12 Postado em 04/06/2020 - 12:55:15
Continuaaaaaaa. Eu amo essa fanfic ,sabia? Não nos deixe ,poste mais. Faz maratona
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capitania_12 Postado em 19/04/2020 - 18:51:44
Continua logo, amando. Senti tanta falta kkk faz maratona
cilly Postado em 29/05/2020 - 00:43:00
Sei que me faço de louca hahaha mas amanhã, prometo pra ti que vou postar dez capítulos <3
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capitania_12 Postado em 26/02/2020 - 13:28:11
Continua. Amo demais
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Vondy Forever❤ Postado em 29/01/2020 - 12:55:58
Não abandona a fic não ela esta muito boa, todo dia em venho aqui para ver se tem um capítulo novo.
cilly Postado em 30/01/2020 - 21:41:27
Oi amore, me desculpe de verdade, eu tinha perdido a vontade de tudo. Mas prometo que agora vou ser mais ativa.
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Vondy Forever❤ Postado em 15/01/2020 - 22:48:38
Continua...
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capitania_12 Postado em 02/01/2020 - 09:35:49
Continua logo
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capitania_12 Postado em 21/11/2019 - 10:32:39
Cadê você mulher??