Fanfic: Felicidade Efêmera | Tema: Letras trabalho academico
FELICIDADE EFÊMERA
Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas, biscoitos e doces. Mas possuía o que qualquer criança apaixonada por guloseimas gostaria de ter: um pai dono de padaria. Pouco aproveitava. E em suas festas de aniversário, Joaquina havia sempre fartura de tudo que havia de gostoso, bolos, salgados, doces de todos os tipos, balas, pirulitos e muitos mais, mas quando acabava a festa íamos cada um pra seu lar e com uma tristeza, pois somente no próximo ano poderíamos desfrutar desse banquete novamente, pois todas as outras crianças da vizinhança não tinha boas condições de vida e muitas vezes só se cantava o parabéns e mais nada. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Mesmo sendo humilhadas por ela muitas vezes ainda assim preferíamos tê-la como amiga pois através dela nos deliciávamos de todas as coisas gostosas que ela pegava no comercio de seu pai. Os pais dela sempre nos tratavam muito bem e sempre ao irmos à escola passávamos em frente a padaria e aquele cheiro de bolos fresquinhos, pão que acabara de sair do forno nos deixava delirando, como ansiávamos que fosse nos oferecido algo, mas acabávamos indo com fome para a escola, desejando que chegasse logo o recreio para saciarmos nossa fome.
Breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, de volta pra casa que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Chegava em casa ia ajudar minha mãe nas tarefas de casa, cuidar do meu irmãozinho para que ela terminasse o almoço, meu pai estava desde cedo pra rua à procura de emprego, um homem batalhador, que nunca deixou de cuidar de nós e que sonhava por um futuro melhor pra mim e ao fim da tarde aponta ele no portão de casa com um embrulho em suas mãos me chamando: Clara veja o que trouxe pra você e logo me consumi de curiosidade, ele me disse que esperasse ate depois do jantar, sentamos em volta da mesa mesmo sendo com uma comida simples fazíamos nossa oração de agradecimento a Deus. Em minha mente vinha o pensamento de que na casa da Joaquina a mesa era sempre farta e ela se gabando pra seus pais, por ser a garota que todos gostavam de ter por perto e a que tirava sempre boas notas. Então chegou a hora de abrir o embrulho, quando abro era um livro, me entristeci pois não era esse meu desejo, podia ser uma boneca, um estojo de maquiagem, mas um livro. Agradeci com um sorriso tímido e fui pro quarto e deixei ele ao lado cama e não procurei ler. Quanto tempo? Não fiz questão, mas com o passar dos dias comecei a me interessar em conhece-lo meu pai já há alguns dias me perguntando se estava gostando da leitura e eu sempre dando uma desculpa. Chegue ate pensar em dá-lo a algumas das minhas amigas mas mudei de ideia. Comecei a me deliciar com a leitura, nunca imaginei que eu pudesse ir tão longe com minha imaginação, a cada dia estava mais e mais sedenta de ler aquele livro e ser levada bem distante daquele mundo em que eu estava. Depois daquele, nunca mais fiquei sem le um livro, corria pra biblioteca da escolar sempre querendo levar um pra casa, meu pai empregou e me prometeu que todos mês me daria um livro de presente, nunca desejei tanto um presente assim. E no meu coração ardia o desejo de fazer com as pessoas o que o livro fez comigo. Melhorei muito na escola, tanto na leitura quanto na escrita, tudo graças aos livros que me despertaram para um mundo que eu desconhecia, ás minhas colegas sempre empresto os livros que termino de ler e elas ficam tão surpresas com meu entusiasmo ao falar deles, hoje não me veem mais sem o livro ao meu lado, onde quer que eu vá ele se tornou meu parceiro de todas a horas. Cresci e meu sonho se tornou realidade, me tornei uma grande escritora, pude ajudar meus pais e hoje ate a Joaquina que antes me tratava com desprezo me elogia e espalha pra todos a sua volta quem eu me tornei, aquela alegria efêmera que nos momentos de festa nos uniam, mas logo ao irmos pra casa já não sentíamos mais, hoje tem uma felicidade que é companheira em toda minha vida, o livro me abriu caminhos, mundos que jamais imaginei explorar..
Gênesis Souza
(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998)
Autor(a): genesissouza
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