Fanfic: Euforia Oculta | Tema: Felicidade Clandestina
Dia quinze de março de 1959.
Como toda boa história, tudo deveria começar com um “era uma vez”, mas no meu caso não é bem assim. Não tínhamos condições para os grandes luxos que muitos de meus colegas tinham, como o caso de ter uma prateleira de discos de vinil, pelo menos na época em que vivíamos.
Não era muito divertido para uma garota de seus, quase, doze anos, ter de que se atrasar para a escola, a fim de escutar mais alguns dos melhores sons de Mozart ou, quando tinha sorte, Beethoven. A casa da vizinha era algo de ser admirado, o pai de Helena era dono de uma famosa lojinha de vinil, levando o nome de “Empório do Vinil”, que desde sua criação era algo bastante adorado por todos da vizinhança. Enquanto em casa meus pais tinham a vitrola, poucas músicas poderiam ser escutadas, e algumas eu não gostava muito, já que quando ouvi uma parte da ópera de Piotr Ilitch Tchaikovski, me apaixonei completamente por aquele doce som dos violinos tocando, os principais movimentos eram o Allegro — moderato, Canzonetta — Andante e o Finale — Allegro vivacíssimo. A instrumentação tinha como solista o violino, com as madeiras, podiam se ouvir sons de flautas, oboés, clarinetes em Lá e os fagotes, com os metais, tinham as trompas e trompetes, com quantidades absurdas, sei que facilmente passavam das dezenas, para a percussão tinham um único tímpano, e normalmente para as cordas, violinos, violas, violoncelos e contrabaixos, algo de um apreço muito grande por mim.
De qualquer modo, decidi finalmente ir para a escola, queria contar mais novidades sobre os músicos que estava pesquisando. Mas algo de fato eu queria tentar, iria finalmente pedir para que Helena me emprestasse alguns discos, e ela aceitou, o que me deixou espantada com a atitude gentil da garota. Passei na casa de uma das minhas melhores amigas, filha de um bibliotecário, em busca de um livro de William Shakespeare, já que uma peça de Romeu e Julieta seria feita em poucos meses em nosso colégio. Helena disse que depois daquele dia, poderia buscar o disco em sua casa, e assim o fiz.
No dia seguinte, antes de ir para a escola, dei uma pequena pausa na caminhada, querendo ouvir alguma musica, o que não ocorreu. Helena me disse que o disco de Mozart não seria tocado, pois seu pai o havia emprestado, o que me deixou profundamente triste, disse também que poderia buscá-lo no dia seguinte.
Passou mais dias do que eu imaginava muito mais do que semanas até. Ainda que mantivesse o desejo por ouvir o disco, não tive a chance até o pai da garota se intrometer em uma de nossas repetitivas conversas.
—Nossos discos foram emprestados? Recordo-me que não, jovenzinha.
—Certeza, senhor? Helena me disse que o Apollo et Hyacinthus estava em outro local, por isso não poderia levá-lo.
—Certeza, garotinha. Trarei o disco, e logo ao mais tardar, deveremos ter uma longa conversa, senhorita Helena Martinez.
Após receber o disco, fiquei parada por alguns instantes, apenas para admirar um pouco, fui para casa primeiramente, deixando o disco lá. Quando cheguei em casa, vi o disco na vitrola, mas decidi não ouvir ele. Apenas passei direto para a casa de banho, fingindo que não tinha o visto. Tomei meu banho e segui para meu quarto, tardei a voltar a sala, demorando mais um pouco na cozinha, preparando uma deliciosa panqueca, para finalmente ir a sala, apenas para me surpreender com o disco, dando um sorriso genuíno de euforia. Por mais algum tempo, fingia ter várias atividades para não ir a sala, para quando fosse, poder ver o disco. Aquela euforia era apenas minha, a sensação de felicidade que estava ocultada por minhas falsas dificuldades.
Já não era uma garota ingênua, que escutava algo clássico, eu era uma mulher que admirava secretamente o quão tudo parecia mais colorido.
Autor(a): gracemarie
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