Fanfics Brasil - Entre Dois Mundos Nova Reescrita de Felicidade Clandestina

Fanfic: Nova Reescrita de Felicidade Clandestina | Tema: Entre Dois Mundos


Capítulo: Entre Dois Mundos

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Ela era pesada. Em todos os sentidos. Parecia não gostar de nossa companhia. Na sala de aula e no recreio, nem as balas dividia. Muito menos emprestar um livro, afinal invejávamos por ela ter um pai dono de livraria.


Não, ela não aproveitava aqueles livros todos que ganhava do pai, nem passava adiante os que remanesciam. Parecia que tinha prazer em ver-nos babando, sedentos pelas histórias e aventuras a desvendar.


Eu era louca para ler As reinações e Narizinho, de Monteiro Lobato. Sabendo da minha ânsia, pôs-me na sua linha de frente para satisfazer seu desejo de perversidade. Disse que poderia me emprestar o livro no dia seguinte. Ah! Aquele caminho até a casa dela, não era um caminho qualquer. Era o caminho da felicidade. Eu não andava. Eu flutuava, imaginando tudo o que descobriria. Indo à sua casa, disse-me que Bernardo o buscara e que eu poderia voltar no dia seguinte. No dia seguinte, voltei. Ainda estava ansiosa e flutuante. Dessa vez, a Alícia havia pegado o livro um pouco antes, afinal eu havia demorado. Voltei cabisbaixa e imaginando porque as pessoas estragam a felicidade dos outros tendo o poder nas mãos. No caminho encontrei seu Pedro que me perguntou: - “Menina, cadê sua alegria! Parou de pular pela rua?”. Eu só o olhei e levantei meus ombros em sinal de que não sabia ao certo. No fundo não queria dividir minha frustração.  Ainda havia o dia seguinte. Ah, aí sim, com certeza, o livro estaria lá.


Dia seguinte, lá fui eu. Apeguei-me à esperança e saí pela rua. O vento batia em meu rosto e meus cabelos, dando-me um sinal de que aquele dia seria diferente. Ao chegar a casa dela, seu olhar sarcástico me recepcionou. Sua mãe voltava do mercado e nos encontrou no portão. Perguntou-me qual o motivo de aparecer todos os dias. Ao revelar minhas intenções, a mulher olhou para a filha não acreditando no ser egoísta que crescia em seu lar. Disse-me: - “Pois, esse livro sequer saiu daqui. Está parado tomando pó. Pode levar e use pelo que precisar!”. O quê? Eu não podia acreditar. Aquela mulher foi minha salvação. O tempo que eu quisesse? Uau! Só quem sabe a felicidade que pode encontrar numa leitura pode entender o que senti.


Voltei para casa, apertando o livro no peito para que, de alguma forma, não me fosse tomado e, ao mesmo tempo, querendo agarrar a felicidade que me invadia. Ao entrar em casa, fui direto aos fundos do quintal. Deixei-o em cima da mesa do jardim. Olhando. Admirando. Levei-o para dentro de casa. Fui beber água, fingindo estar com sede, apenas para dar um tempo e poder voltar. Retornando ao jardim, li a primeira página. Parei. Fechei os olhos e contemplei o mundo que se revelava. Era fantástico. Nem percebi que escurecia e meu pai chegava em casa. Perguntou-me, não assustado, porque sabia da minha paixão por livros: - “Onde estavas dessa vez?”. Respondi com os olhos cheios de mistério e felicidade: -“Em outro mundo, papai”.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998.



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Autor(a): angela84

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