Fanfic: No dia seguinte | Tema: jornada
O GRANDE DIA
Ela era forte, baixinha, de cabelos longos excessivamente crespos. Tinha um físico diferente das demais. Como não se satisfizesse, sempre com guloseimas dentro da boca como também por todos os bolsos da roupa. No entanto, tinha o privilégio que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai escritor e dono de uma livraria.
Pouco importava. E nós querendo estar no seu lugar, até em aniversário ao invés de um livro que não o servisse mais, fazia não apenas propaganda para venda de livros na loja de seu pai, mas também obras que seu pai havia escrito. Ainda mais com composição de romance que amamos.
Contudo, que talento tinha para a crueldade. Ela era toda vingativa, chupando balas com barulho. Como essa mesma devia nos odiar, nós que apenas queríamos ler uma das obras de seu pai ou um livro de romance.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que na loja de seu pai tinha A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.
Disse-me que eu passasse na sua casa no dia seguinte que ela falaria com seu pai para me emprestar. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num jirau como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para os meus olhos, disse-me que tinha falado com seu pai e o mesmo falou que o último tinha sido vendido e que já estava esperando chegar mais, pois já havia feito o pedido, e falou que voltasse depois para pegá-lo. Boquiaberta, saí lentamente, porém em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a anda pulando. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira.
Entretanto não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha, sem seu pai saber, do dono da livraria era vagaroso e diabólico como um câncer que nos destrói lentamente. No dia seguinte, lá estava eu à porta de sua casa, toda contente e cheia de esperança. Para ouvir a resposta calma: ainda não vai ser dessa vez, pois a mercadoria do comércio do meu pai ainda não tinha chegado, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “volte no dia seguinte” como ela ia se repetir com meu coração batendo.
Ia diariamente a sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes, ela dizia: “Ainda não fui à loja de meu pai para saber se o livro chegou, mas ainda vou e procuro saber.
Até que um dia, quando voltava de sua casa, resolvi passar pelo estabelecimento de seu pai. Quando se aproximei da loja, percebi que tinha duas meninas próximas ao estabelecimento. Aproximei-me delas e notei que liam alguns livros. Perguntei-lhes qual livro liam e onde tinham conseguido as obras. E elas me responderam que haviam comprado mesmo na loja do escritor e que liam a obra a qual desejava.
Fiquei abismada com tudo o que acontecia, no entanto na esperança de que no dia seguinte tentaria mais uma vez.
No dia seguinte, chegando à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa expressão: “volte amanhã”, apareceu seu pai. Que a reconheceu, pois já havia visto passando em frente a sua empresa. Ele devia estar estranhando a aparição daquela jovem não somente em sua casa, como também nas proximidades de sua empresa. Pediu explicações a nós duas. O senhor achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que esse pai bom entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas esse livro nunca faltou na empresa e você também não procurou saber se lá tinha!
E o pior para esse pai não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada de sua filha que tinha. Ele nos espiava em silêncio: a tamanha perversidade de sua filha desconhecida.
Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme: Não apenas vou lhe presentear com o livro dando-te, mas também irei homenageia-la escrevendo um livro sobre sua pessoa.
Quando ouvi isso, não acreditei. Meus olhos se arregalaram, minhas pernas tremiam, meu coração batia ainda mais forte e rápido com tamanha felicidade. Já acostumada a ouvir “volte no dia seguinte”, não foi diferente com o pai, pediu para eu passar no outro dia na empresa e pegá-lo. Mas consegui sentir que seria diferente. Chegando o dia seguinte me desloquei ao estabelecimento e de imediato fui presenteada com o livro ao chegar no local e ainda com a promessa da publicação do meu livro.
Após vários anos, finalmente, chega o grande dia de ser pulicado minha obra conforme prometido pelo dono da loja. Momento o qual fiquei muito feliz e aproveitei a oportunidade para distribuí-las de forma gratuita. Pois sei o quanto é triste querermos ler uma obra, mas não ter recurso suficiente para adquiri-la.
Autor(a): francisco_wender_souza_santana
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