Fanfic: Minha doce vingança | Tema: Felicidade Clandestina- Clarice Lispector

MINHA DOCE VINGANÇA

Ele era inteligente, tinha olhos acobreados, cabelos sedosos, uma beleza incomum, nos conhecíamos desde a infância, nossos pais sempre foram vizinhos. Eu era apenas uma menina comum, nada além, magra, cabelos livres, olhos castanhos. Ele além de toda beleza, ainda tinha tudo que uma adolescente que amava ler gostaria de ter: Seu pai era dono de uma livraria.

Ele sabia que eu sempre tive uma queda por ele, e que eu desejava todos os dias me deleitar nos livros da livraria de seu pai, tanto sabia, que em datas comemorativas, ao invés de me manda um livro, me mandava cartões postais, escrito:” Saudades de quando éramos crianças”. Que hipocrisia! Ele mal me olhava na escola.

Que talento para a crueldade! Na minha ânsia por sua atenção, nem me dava conta do quando eu me humilhava perguntando todos os dias:” E ai? Que livro você está lendo hoje?”. Ele sempre me respondia secamente.

Um belo dia, o avistei no corredor com o livro de meus sonhos, grosso, com capa dura, sonho de qualquer menina (ou pelo menos o meu), “As Reinações de Narizinho” de Monteiro Lobato, e meu corpo se arrepiou e eu não me contive, pedi emprestado imediatamente, e ele, com aquele sorriso encantador falou: “Passa mais tarde lá em casa que eu te empresto”.

Sai da escola naquele dia em puro êxtase, mal sabia eu, garota ingênua que ele planejava algo maligno.

Os dias que se passaram foram os piores, passava todos os dias em sua casa e ele falava para que eu voltasse mais tarde, ou no dia seguinte, pois ele não havia terminado de ler, eu boba, passava todos os dias com aquele fio longo de esperança.

Eu estava cansada, porém eu amava aquele livro, era meu sonho de leitura, resolvi tentar uma última vez, e quem me atendeu foi o pai dele, que me olhou com uma cara interrogativa, perguntando o que eu estava fazendo, pois ia sempre várias vezes. Então expliquei o motivo, e rapidamente suas feições mudaram, não sabia se era de decepção por seu filho ser tão cruel, pois nem se quer seu filho tinha lido, ou ao menos se interessado por aquele livro, ou se era pena de mim. Logo, o pai dele, teve uma brilhante ideia, ofereceu-me um trabalho depois da escola em sua livraria, e disse que eu poderia ler o que quisesse, contando que devolvesse no dia seguinte, e me disse que seu filho já trabalhava lá arrumando as prateleiras, e então tive uma brilhante ideia.

Os dias que se passaram o meu único dilema era escolher qual livro iria ler, e na dúvida eu retirava todos da prateleira, mesmo sabendo qual eu queria ler, era pelo simples gosto da vingança, e ele ... Ah ele ficava enfurecido, tendo que arrumar aquela bagunça todos os dias.