Fanfic: “Felicidade verdadeira” | Tema: Trabalho acadêmico
FELICIDADE VERDADEIRA
Beatriz era uma garota magra, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados, tinha um busto enorme, como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa com balas, mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter, um pai dono de livraria.
Não tinha muitas amigas, era chata, convencida, e ainda gostava de desdenhar das pessoas porque morava na casa mais bonita do bairro e tinha uma boa condição financeira.
Ela pouco aproveitava a oportunidade de ter vários livros a sua disposição, pois tinha uma preguiça imensa de ler. Ana Clara estudava na mesma sala que Beatriz, porém tinha cegueira adventícia, mas possuía memória visual e gostava muito de livros, só que eram poucos os livros em braile disponíveis na livraria do pai da Beatriz.
A oferta de livros em braile no mundo ainda é muito pequena frente a quantidade de títulos lançados. Não tem como passar para o braile tudo o que existe no mercado editorial, é um texto bem maior, a produção é mais demorada, mais cara.
Ana Clara tinha uma grande facilidade de se relacionar com as pessoas por conta do seu carisma, simplicidade e humildade.
Na sala de aula, Ana Clara tornou-se amiga de Maria Luiza, uma menina meiga e carinhosa. Vários meses se passaram desde que começaram o caminho da aprendizagem, conseguiam os melhores resultados e a amizade de Ana Clara e Maria Luiza foi fortalecendo, surpreendentemente, ao longo do ano letivo e acabou se tornando em algo verdadeiro que tocava o coração de todos.
A professora passou para elas, como atividade escolar, a leitura e interpretação de uma obra de Monteiro Lobato, As Reinações de Narizinho, mas Maria Luiza e Ana Clara não tinham como adquirir o livro.
Sabendo das dificuldades das colegas, em relação a aquisição do livro, friamente, Beatriz prometera para Ana Clara e Maria Luiza, que as emprestaria.
Mas que talento tinha Beatriz para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Odiava as colegas, elas que eram imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Com elas, Beatriz exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.
Na ânsia de ler, Ana Clara e Maria Luiza nem notavam as humilhações a que se me submetiam: Continuavam a implorar a Beatriz que lhes emprestasse o livro que ela não lia. Até que veio para Beatriz o magno dia de começar a exercer sobre elas uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-lhes que possuía as reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima das posses das amigas. Assim Beatriz pediu que elas passassem pela sua casa no dia seguinte para pegar o livro emprestado.
Até o dia seguinte as amigas se transformaram na própria esperança da alegria: Elas não viviam, nadavam devagar num mar suave, as ondas as levavam e as traziam.
No dia seguinte, seguiram até a casa de Beatriz, literalmente correndo, de mãos dadas. Ao chegarem, olhando bem para os olhos de Ana Clara e Maria Luiza, Beatriz disse-lhes: emprestei o livro a outra menina, voltem amanhã para buscá-lo!
Boquiabertas e chocadas, saíram devagar, mas em breve a esperança de novo lhes tomava toda e recomeçavam na rua a andar pulando, que era o modo estranho delas andarem pelas ruas de Recife.
Guiadas pela promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a vida delas inteira, o amor pelo mundo as esperava, andaram pulando pelas ruas como sempre e não caíram nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso, o plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estavam elas à porta da casa de Beatriz, com um sorriso e o coração batendo, para ouvirem a resposta calma: O livro ainda não está comigo, voltem amanhã. Mal sabia as amigas como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com elas iria se repetir.
Até que um dia, quando as amigas estavam à porta da casa, ouvindo humilde e silenciosamente a sua recusa, apareceu a mãe de Beatriz, ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquelas meninas à porta de sua casa. Pediu explicações as três. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo.
Até que essa mãe boa entendeu, voltou-se para a filha e com enorme surpresa disse a Beatriz: “Mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!”
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia, era a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela a espiava em silêncio, a potência da perversidade de sua filha desconhecida e as meninas em pé à porta, exaustas, ao vento das ruas de Recife, foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: “Você vai emprestar o livro agora mesmo para elas e irão fazer as atividades escolares juntas, entenderam?”
No dia seguinte, Maria Luiza e Beatriz deixaram as divergências de lado, tornaram-se amigas, e cheias de ansiedade, foram à casa de Ana Clara para darem início as atividades escolares e aos novos desafios: Saber conviver com as indiferenças, aprender o significado da amizade e descobrir as relações entre ledores e leitores cegos na prática da leitura.
Diante das superações, aprendizados e descobertas, com os corações cheios de amor, compaixão e uma verdadeira felicidade, elas viajavam na história do livro, e assim, usavam a imaginação para a interpretação das figuras e imagens do Livro As reinações de Narizinho.
Conforme a história estava sendo narrada por Maria Luiza e Beatriz, Ana Clara ia lendo com os ouvidos.
Partindo de uma iniciativa de generosidade, envolvidas na posição de ledor e leitor cego, destacando as interações e, por conseguinte, o amor, a cumplicidade, a amizade, a doação da palavra, o dizer, a comunicação, e o empréstimo da voz nas suas circunstâncias, conseguiram as três serendipidade e uma felicidade verdadeira, e alcançaram o de melhor no cumprimento das atividades.
Autor(a): antonio_cruz
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