Fanfics Brasil - Feridas Profundas FERIDAS PROFUNDAS

Fanfic: FERIDAS PROFUNDAS | Tema: A atitude das pessoas com relação umas as outras em momentos de extrema atenção.


Capítulo: Feridas Profundas

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FERIDAS PROFUNDAS


                          


Ela era magra, alta, sardenta e de cabelos excessivamente lisos, negros como a noite. Tinha um busto que mal dava para notar, enquanto nós todas erámos moças frondosas. Como se não fosse o suficiente, erámos de uma classe social mais alta, e isso nos possibilitava acesso aos melhores lugares, as melhores festas e tudo mais. Mas ela vivia solitária, não era muito de conversa e nem de se incluir no nossa classe e nem com nossos outros colegas, evitava contato visual e andava sempre de cabeça baixa. Porém ela tinha uma tristeza no olhar que quase nunca era percebida por conta de sempre estar cabisbaixa.


Não frequentava os aniversários que aconteciam ao longo do ano, costumava ser sempre a primeira chegar e a última a sair da sala de aula, comecei a observa-la durante dias e dias e sempre essa mesma rotina quando chegava já achava quando saia lá deixava. Percebi que não era normal esse dito comportamento ainda mais para uma adolescente que assim como eu está na fase de curtir a vida e sempre querer sair com amigos.


Passaram-se dois dias e era meu aniversário, meus pais decidiram dar uma festa e eu então mais que prontamente á convidei, na hora pude ver seu sorriso tímido no canto da boca e uma resposta quase incompreensível ao fundo “não sei se poderei ir”, eu conseguir falar com ela e por mais que essas cinco palavras para outras pessoas não fosse nada para mim naquele momento estava sendo tudo.


Esperei, esperei e esperei ela simplesmente não apareceu, a festa estava linda, mas para mim estava incompleta, a partir daquele dia decidi que iria me aproximar dela e fazer com que fosse sua amiga, não aguentava mais ver um ser tão solitário e tão amedrontado daquela maneira. Passaram se dias e ela nem na escola estava indo, fiquei preocupada e tentando de diversas maneiras ter notícias dela, mas cada tentativa era um fracasso a mais.


Até que na semana seguinte ela apareceu mais calada do que nunca, dessa vez usava um casaco preto, em plena Bahia calor insuportável, quase 30ºC e ela dentro de um casaco preto, no canto da sala, tentei me aproximar mas a tentativa mais uma vez foi sem sucesso. Aquela situação estava ficando desesperadora, conversei com alguns colegas a respeito delas mas ninguém nunca sabia de nada, que só ouviam boatos.


Então me aliei com uma das nossas professoras de classe e ela se prontificou a me ajudar, buscando algo nos registros escolares, um número de telefone ou um endereço talvez, e bingo achamos um número, com o prefixo de fora do nosso estado, estranhei mas mais que depressa peguei o número e abracei bem forte a professora em sinal de gratidão. Meu pai é policial militar, eu devia falar pra ele sobre minhas dúvidas a respeito do comportamento dela e pedir que ele averiguasse, mas meu pai não tinha tempo para meus devaneios e pensamentos, então decidir que eu mesmo iria pôr em prática a minha investigação.


Liguei para o número quem atendeu foi um homem, a voz grave e segura de si disse prontamente “A paz do Senhor, com quem eu falo?” desliguei o celular. A noite inteira pensando deve ser por esse motivo que ela não socializa conosco, ela é cristã e por isso não quer se juntar com os ditos ‘mundanos’ por alguns momentos fiquei mais calma e achava que aquele era o jeito dela e sua forma de se expressar.


Na manhã seguinte não tentei me aproximar, ela passou por mim e colocou um bilhete na minha mão, que dizia as seguintes palavras ‘me encontra no banheiro’ e eu fui sem entender nada porém fui.  Chegando lá de cara ela me agradeceu por tudo, por tentar me aproximar, por não trata-la com indiferença, por não trata-la mal, por fazer ela se sentir alguém no meio de nós, perguntei o motivo dela não ter ido a minha festa, respondeu que seu pai era muito rígido e que não compactuava com esse tipo de ação.


Respeito todas as religiões, mas daquela vez me soou diferente, se despedimos e fomos embora. No dia seguinte se encontramos novamente no banheiro e isso aconteceu por mais três semanas seguidas, nunca nos encontrávamos na frente dos nossos colegas, não por mim mais sempre por ela, dizia que não se sentia à vontade e que não gostava de ter muita gente por perto quando conversava comigo, até então tudo indo bem as coisas fluíam de uma forma tão boa e eu não imaginava o por que dela me esconder dos pais e dos demais estudantes.


Até que um dia o seu pai foi busca-la no colégio, acenei com um doce e leve ‘tchau’ mas ele puxou ela pelo braço e não à deixou responder, na manhã seguinte perguntei pra ela o motivo de tal comportamento, ela meio sem graça e desnorteada, vestida novamente com seu casaco preto, mas dessa vez o tirou na minha frente, naquele banheiro sujo do colégio, um misto de dor e nojo tomaram conta do meu ser, quando eu vi seu corpo magro e frágil totalmente machucado, ferido, perfurado e sensível as lágrimas tomaram conta do meu rosto, do meu corpo e da minha alma, como alguém pode fazer isso com essa doce jovem, como alguém teve a coragem de te machucar, eu só não queria acreditar.


Ela fez com que eu jurasse que não contaria a ninguém sobre o que eu estava vendo e testemunhando, e começou a desabafar comigo todas as suas angustias de ser abusada, ABUSADA todos os dias desde os seus 7 anos de idade, de não poder sair de casa sobre ameaça de morte, por um homem que devia lhe dar amor e carinho. Me falou que sua mãe também era vítima e que tinham medo de denunciar e ele as matassem, aquilo tudo revirou o meu estômago, eu precisava tomar alguma atitude, ela não poderia viver mais naquela situação.


Conversando com ela disse que meu pai era policial e que ele poderia ajuda-la, mas o medo em seus olhos eram intensos, seus olhos tremiam toda vez que pronunciava que o homem que abusava dela era seu próprio PAI, e que pior era um líder religioso que pregava a paz e o amor ao próximo, que hipocrisia!


Chegando em casa conversei com meu pai e expliquei para ele toda a situação e falei que tanto ela quanto a mãe precisavam de ajuda, e implorei para que ele fizesse tudo possível para que ela não sofresse mais os abusos tanto físicos quanto os abusos psicológicos. Na manhã seguinte ela não apareceu na escola e eu estava mais apreensiva do que antes preocupada, ansiosa e querendo uma resposta, dela ou do meu pai.


Grande foi a minha surpresa quando retornei para minha casa, ela estava lá e sua mãe também, corri e sem pensar duas vezes à abracei, abracei com força, abracei com um desejo enorme de não soltar mais. O pai dela? Graças a Deus está preso, provavelmente não sairá tão cedo, mantinha elas em cárcere de privado, abuso sexual, pedofilia enfim... uma ficha extensa de atrocidades de um homem que se dizia ser de Deus.


E ela? Hoje vive feliz e satisfeita, faz acompanhamento psicológico e está evoluindo bem, sua mãe alugou uma casa pertinho da nossa e todos os dias estamos juntas seja no nosso bairro ou na escola. Eu não salvei ela, ela me salvou, ela me mostrou que os seres humanos podem ser lobos em peles de cordeiro, e que muitas das vezes os nossos colegas, nossos amigos podem esconder feridas profundas e que bastam um pouco de carinho e paciência fará com que eles desabrochem e procurem a tão famosa luz no fim do túnel.


                          (17/09/2019 às 13:00h)


                                                         Milaine Leite


 


 


 


 


 


 



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Autor(a): milaine

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