Fanfic: Felicidade e Humildade. | Tema: Felicidade Clandestina

Eu era magra, porte mediano e cabelos bem cacheados, meio arruivados. Tinha bustos grandes, enquanto todas as outras eram lindas. Como para mim nada era o suficiente, enchia a bolsa de chocolate de todos os sabores possíveis. Mas eu possuía o que há de mais belo e que todas as outras gostariam de ter: um pai dono de uma livraria.

            Eu adorava. E as outras também, quando era aniversário delas, só por pirraça mandava um simples cartão- postal da loja do pai. Atrás escrevia com letras lindíssimas palavras como “data natalícia” e “saudades”.

            Possuía um certo talento para crueldade. Eu era pura vingança, saboreando um chocolate. Como eu as adiava, pois elas pra mim, magníficas com aqueles cabelos lisos e enormes. Havia certa menina que se chamava Amanda, com ela eu exercia a minha tortura chinesa. No desejo dela de ler, nem notava as afronta que eu obrigava ela a passar.

            Certo dia comecei a contar as historias do meu novo livro que acabara de ganhar As Reinações de Narizinho, ela me olhou de uma forma que pareciam que iam saltar, ela adorava aquele livro.

            Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. era completamente fora de seu orçamento. Então falei pra passar lá em casa que eu ia emprestar o livro para ela.

            No dia seguinte La estava ela toda eufórica era como se ela flutuasse de tanta felicidade, ela não morava num sobrado como eu,e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.

            Ela não imaginava que aquele ritual ia se estender por vários dias. Eu já tinha tudo planejado, quando ela chegava na minha casa com aquele sorriso bonito e cabelos ao vento, pedia pra ela voltar outro dia, pois já tinha emprestado  o livro novamente.

            Isso se estendeu por vários dias, Quanto tempo? Não sei. Eu adorava ver ela atormentada, se ela pudesse me esganava de tanta raiva, pois sempre que chegava à minha casa, eu já tinha uma desculpa inventada para não emprestar o livro para ela.

            Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui.

            Sabe o que era pior era olhar o rosto de minha mãe com aquela cara de decepção. Ela nos espiava em silêncio: derrepente  com toda aquela calma me falou: - vá pegar o livro agora e de para a Amanda fique com o livro, agora ele é seu entenderam? Apenas abaixei a cabeça e disse que sim. Amanda saiu pulando de felicidade que era uma coisa clandestina para ela.

            Todos os dias eu a via na escola, com o livro que já havia sido meu, ela segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito era uma emoção linda de se ver, pois a felicidade já não era tão clandestina para ela, em êxtase puríssimo, porque para ela já não era só um livro e sim uma mulher com seu amante.

            Certo tempo depois, Amanda me chamou na escola e devolveu-me o livro, porque ela sabia o quanto eu também o adorava, fiquei tão radiante e um pouco sem graça, pois como ela poderia dar à alguém uma preciosidade daquela, ainda mais para mim, que havia sido tão perversa com ela.

            Fiquei tão feliz pela atitude dela, porque mesmo sem ela querer, me ensinou uma grande lição: que a humildade cabe em qualquer lugar e que não devemos guardar rancor, raiva e todos esses sentimentos ruins que nos fazem tanto mal.