Fanfic: Felicidade Compartilhada | Tema: Felicidade Clandestina - Clarice Lispector

FELICIDADE COMPARTILHADA

Da janela de madeira, estreita e corroída por cupins  da minha casa eu via a janela da casa dela, onde era o quarto dela e da irmã. Era minha amiga, morava em uma mansão, de janelas largas e de vidro.

De cá eu imagina seu quarto, quantos brinquedos teria lá, meu Deus. A casa era enorme, e isso consequentemente fazia minha imaginação trabalhar nas mais diversas hipóteses. Mas o que realmente me chamava atenção era outra janela, onde eu avistava uma estante,  eu via apenas a parte superior, mas era suficiente para imaginar a quantidade de livros que estariam lá.

Vez ou outra íamos ou voltávamos juntas da escola, e nessas caminhadas sempre conversando sobre mais variados assuntos, ela sempre comentava dos livros que a mãe havia escrito. Um dia, tivemos que realizar um trabalho da escola, ela me convidou para ir até a sua casa para que pudéssemos realizá-lo, imediatamente aceitei o convite, seria o dia em que eu poderia revelar a minha mente tudo aquilo que ela imaginava com o pouco que via, principalmente a gigante estante de livros.

Finalmente chegou o grande dia. Me aprontei, ouvi as recomendações de minha mãe e fui, saltitante e feliz. Rapidamente cheguei a sua casa, toquei o interfone e aguardei que me atendesse. Pela câmera que ela viu que eu ja estava a espera. Foi quando ouvi o barulho do portão de abrindo e a voz rouca pelo interfone dizendo : pode entrar.

Sua mãe fez uma mesa farta com muitas delícias antes de comerçamos o trabalho. Após o café fomos para biblioteca, local onde estaria a tão esperada estante de livros. Meus olhos brilhavam ao ver a infinidade de obras que ali estavam enfileiradas perfeitamente organizadas. Muitas delas era de sua mãe, uma excelente escritora.

Durante o tempo que permaneci ali junto aos livros, sua mãe que monitorava nosso desempenho observava meus flertes com os livros. Sabia ela que eu era de origem pobre e certamente não possuía aquela infinidade de livros que la hávia.

Gentilmente após terminarmos o trabalho ela me perguntou se eu gostaria de levar para mim alguns livros de sua obra. Ela era escritora de contos infantis. Meu coração quase saiu pela boca, fiquei alguns instantes digerindo a pergunta, não acreditava que ganharia aqueles grandes livros de capa dura e colorida, onde estavam as mais fantásticas histórias. Me recompondo respondi prontamente que sim, que adoraria poder ter aqueles livros.

Fui para casa flutuando, carregando em meus pequenos e magros braços aqueles livros que antes só eram vistos da minha janela. Cheguei em casa e voltei a janela, para lembrar de quando eu via e sonhava. Agora eu via e possuía.