Fanfics Brasil - A procura de uma nova amizade. “Felicidade Clandestina” (1987), de Clarice Lispector.

Fanfic: “Felicidade Clandestina” (1987), de Clarice Lispector. | Tema: Reescrita da Fanfic Por: Luana de Paula Alves e Priscila Aparecida da Rocha.


Capítulo: A procura de uma nova amizade.

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FELICIDADE CLANDESTIN


    (Clarice Lispector)


 


Reescrita realizada por Luana de Paula Alves e Priscila Aparecida da Rocha.


 


                Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que conheci aquela menina, ela era gorda, baixa, sardenta com cabelos arrepiados cor de mel.  Tinha um busto enorme, enquanto todas as outras garotas que eu conhecia inclusive eu éramos magras iguais um palito. Como se não basta se, ela levava todos os dias para escola uma sacola, repleta de guloseimas, balas, doces e chocolates. Ainda por cima, ela possuía um pai que todas as outras crianças gostariam de ter: um pai dono de padaria.


            Como ela aproveitava a vida, todos os dias comia pães doces e salgados, bolachas e chocolates.  Nos dias em que ia para as festas de aniversário, ao invés de levar pelo menos um bolo bem recheado não, ela nos entregava um livro, daqueles mais baratinhos da livraria de meu pai, ela sabia ser cruel.


            Ela tinha um incrível talento para a sabotagem. Ela era toda vingança, colocava tachinha nas cadeiras, colava chicletes nos cabelos das meninas, levava pacotes gigantescos de balas e pirulitos, mas preferia chupar tudo sozinha. Tenho certeza que ela nos odiava, pois qual seria outro motivo para tais atitudes. Comigo ela era sádica, adorava me ver sofrer, um dia passou cola branca em meus cabelos e me fez ir embora correndo, pois  meus cabelos estavam todos colados, ela nem ao menos tentava me conhecer melhor, para tentar ser minha colega, uma certa vez se fez passar de boazinha dizendo que queria ser minha amiguinha, ah eu como era muito boba aceitei, ela então em troca da amizade me ofereceu um gole de seu suco, ah ele parecia tão saboroso, escoria em sua lateral algumas gotas, então aceitei prontamente como símbolo de minha amizade, mas ela me enganou dentro dele ela colocou algo que tinha um gosto terrivelmente ruim, que me fez sair correndo e vomitar sem para.


            Fomos parar na diretoria, pois a professora havia observado aquela cena cruel, e ela me pediu para tentar mais uma vez, bom como castigo para ela, a professora nos fez fazer um trabalho em dupla, tínhamos que ler um livro, que na época era muito conhecido, aquele que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro bem grosso, já percebi que ia ser demorado, mas eu prontamente peguei nas mãos e ao lado de minha querida torturadora fomos para o pátio, para conversarmos. Ela me disse que estava cansada e que não queria fazer nada hoje, mas que passaria em minha casa.


            No dia seguinte fiquei a esperando, mas ela não apareceu ,bom achei estranho então fui a sua casa e ela nem me chamou para entrar, disse que estava muito ocupada que eu volta se amanha. Comecei a criar expectativa sobre nossa amizade, imaginando que ela poderia vir a ser uma pessoa melhor com minha ajuda.


            Quando o dia amanheceu fui correndo a sua casa para  lermos juntas aquele livro que me parecia tão encantador. Mas quando cheguei lá ela disse que já tinha compromisso e que iria sair com outra amiga. Eu como sempre fui muito compreensiva, entendi seus argumentos peguei minha mochila e o livro e voltei para minha casa novamente naquela esperança de um dia estarmos juntas brincando e fazendo atividades maravilhosas como pintura, colagem entre tantas outras, por que eu era filha única e não tinha com quem brincar.


            E os dias se passavam e se passavam e assim um dia após o outro, ela não me deixava entrar em sua casa. Até que um dia fiquei sabendo de uma noticia muito cruel e perturbadora, seu pai havia sido preso , pois ele abusava dela, agora tudo começava a fazer sentido, ela era cruel com todos pois era a sua única forma de pedir socorro daquela vida, mas ninguém a entendia, todos a julgavam, não queriam ser seus amigos, mas suas atitudes eram somente para chamar a atenção, uma forma de pedir socorro pelas coisas que estavam acontecendo.


            Então seu pai foi prezo e sua mãe que de tudo sabia, também, pois ela não fazia nada a respeito, a padaria foi fechada e a menina foi levada para morar com sua avó que por sinal era a minha vizinha. Ela começou a frequentar seções com a psicóloga, e também todos da escola estavam a seu lado, ajudando e dando apoio.


                  Todos os dias eu e ela sentávamos a beira da calçada com nossos brinquedos velhos e quebrados, buscando uma ajudar a outra, todas as risadas e as brincadeiras, mas quando estávamos cansadas sentávamos em baixo daquela grande e frondosa árvore que tinha na esquina, e pegávamos aquele livro groso e velho, que a professora nos deu como forma de trabalho e juntas líamos e dávamos muitas gargalhadas das maluquices de narizinho, hoje compreendo que muitas atitudes que as crianças tem são um reflexo das situações que vivem em suas casa, assim juntas estamos superando todas aqueles traumas que ela guardou consigo e por meio de nossa amizade e da leitura daquele livro  , todos as tardes juntas balançando na rede em minha varanda estamos conhecendo a verdadeira felicidade e a força de nossa amizade. A leitura pode salvar e transformar muitas vidas.


 


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998)


Reescrita realizada em 13/10/2019.



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Autor(a): priscila_aparecida_da_rocha

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