Fanfic: Amizade Clandestina | Tema: Clarice Lispector
Eu era alta, magra, de cabelos excessivamente pretos, enquanto ela era baixa, forte, de cabelos excessivamente lisos, arruivados, tinha uma boca enorme, como se não bastasse a boca exuberantemente grande, esta faz jus ao tamanho da necessidade que tinha de se expressar, possuía uma inteligência que era muito elogiada por nossos professores e como se não fosse o suficiente era popular.
Éramos amigas de pequena data, nos conhecemos no início do primeiro período da faculdade, não nos tornamos amigas de cara, eu era seu anverso.
Mas que inteligência ela tinha, era talentosa, daquelas pessoas que se destacam na multidão, daquelas que todos queriam estar perto, e nem se fala quando o assunto era garotos, todas a queriam, mas tinha talento para crueldade, ela era toda insensível, diminuindo as meninas da sala, como era impiedosa, assisti de perto sua ferocidade e seu sadismo. Na minha ânsia de ser sua amiga, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe amizade.
Até que veio para ela o magno dia em que na aula de literatura falando sobre Monteiro Lobato, minha amiga informou que tinha “As reinações de narizinho” e que emprestaria para quem quisesse ler. Foi que no dia seguinte uma menina da nossa turma pediu-lhe o livro emprestado, ela era baixinha, simpática, acanhada, nunca há tinha visto conversar com ninguém. Como casualmente, informou-lhe que não iria emprestar o livro e ofereceria na aula seguinte novamente para nossos colegas, só pelo seu prazer de negar a todos que pediam o livro.
Com o passar de um mês de aula nos encontrávamos num estado de amizade, que bastava apenas um olhar que já sabia o que queria dizer, não haviam segredos, compartilhávamos tudo uma com o outra desde medos profissionais, até brigas com namorados, a sintonia era tamanha que mesmo quando não tínhamos assunto, comprávamos uma cerveja só para ficarmos bêbadas e falar de qualquer coisa que viesse na cabeça, o importante era a companhia.
Foi quando aprendi sobre sua vida e como os pais a rejeitavam, ela era a filha mais nova de uma gravidez não desejada, sua mãe não demonstrava o mínimo sentimento a seu favor, o pai estava sempre bêbado e a espancava sempre que tinha oportunidade deram-na quando criança para que a avó a criasse, enquanto criavam seus irmãos, até o falecimento desta onde voltou a morar com os pais.
Com o tempo ela foi mudando, já não ansiava pela humilhação das pessoas, seus interesses agora eram voltados para sua carreira profissional, acredito que ela cansou de gastar seu tempo com os alunos da faculdade, agora namorava um rapaz mais velho e seu tempo era todo voltado para seus estudos.
Mas o tempo tem sua crueldade, implacável, tira das pessoas seus sentimentos mais afins, ele nos traz amizades fieis, como também ás tira de forma implacável.
A verdade foi que com a nossa amizade me transformei em outra pessoa, aprendi a ter confiança para falar, me expressar, conheci outras amizades, ela me mudou, nossa amizade mais especificamente. E ela mais humana, já não era a mesma carrasca do início do período.
Quando dataram as últimas provas do período, me informou que seus pais mudariam para fora do país, e que não voltaria para o próximo período, me agradeceu pelos 6 meses que tivemos de amizade, e pela mudança que eu trouxerá para sua vida.
Separamo-nos, aliás tentamos continuar a amizade situação essa infrutífera, um aperto de mão comovido foi nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão ao acaso.
Tentamos manter a amizade, fingíamos que ainda a tinha, conversávamos horas sobre qualquer coisa, só para falar que ainda éramos amigas. Chegando o tempo, já não fazíamos mais esforço para conversar, criávamos as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que se tornara nossa amizade. Amigos sempre ia ser clandestino para mim. Parece que eu já pressentia.
Autor(a): natalia_luria
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