Fanfic: Mais que uma amiga | Tema: Smallville

Na Fundação Isis, Chloe acaba de organizar alguns cadastros dos fenômenos meteóricos no arquivo. Apesar dos últimos acontecimentos envolvendo Jimmy e a alienígena beijoqueira, ela está empolgada com a reabilitação dos infectados por kriptonita. Consegue ter empatia por eles, já que também possuía poderes advindos do meteorito e não sabia lidar com isso. Mentaliza por um instante a garota-explosiva, que abrigou no Talon recentemente, e divaga sobre um destino melhor para a moça, se ela tivesse contado com bons exemplos e orientação. É a primeira vez que vê para si uma vocação que não a de repórter, desde que foi demitida por Lex do Planeta Diário.

Ela olha no relógio, ainda faltam duas horas para a liberação de Jimmy do hospital. O fotógrafo quase morreu por problemas cardíacos causados pelos níveis altíssimos de endorfina e adrenalina após beijar Maxima no "Ais de Paus". Chloe se incomodou quando desvendou o que havia ocorrido mas percebeu de imediato que o noivo não tinha o controle da situação. Felizmente, ele estava bem.

- Cafeína! É uma boa pedida para um dia puxado como hoje - ela pensa alto, alongando os braços para frente enquanto caminha até a mesa. Pega a bolsa e coloca no ombro fazendo o pequeno trajeto de volta até a porta. Dá duas voltas completas na chave e parte dali.

Clark, que entrou na Fundação pela porta dos fundos sem ser percebido, ouve os passos da amiga se distanciarem. Ele olha através das paredes e bolsa de Chloe, mas não encontra o que veio procurar. Vasculha pela mesa enquanto usa a visão de raio-x nos armários. Nada. Os olhos fixam na lixeira, próxima da mesa. Um desapontamento toma conta dele. "Chloe!", ele diz balançando a cabeça e retirando com cuidado a carta toda amassada do lixo. Seus olhos correm a primeira linha e seguem pausadamente até o fim do primeiro parágrafo.

“Eu quero lhe contar um segredo, Clark. Não sou quem pensa que sou. Meu disfarce é tão sutil que não sei como você ainda não viu. Sou a garota dos seus sonhos disfarçada de sua melhor amiga”.

- An an - Clark sai do transe assustado e percebe uma presença atrás dele, a uns cinco passos de distância. Ele abaixa a mão, tentando esconder o papel e se vira lentamente, como uma criança que acaba de ser pega na traquinagem.

- Pensei que tivesse ido... - a voz está baixa e ele não consegue encará-la.

Chloe puxa do armário o celular que estava carregando e faz um movimento com as mãos, mostrando ao amigo o motivo do seu retorno.

- Posso saber agora por que a "visita"? - a loira arqueia uma das sobrancelhas esperando uma resposta do amigo.

Clark levanta a mão com a carta e repete o mesmo movimento que Chloe fez segundos antes com o celular. A moça faz uma expressão de surpresa e fita o amigo aguardando uma explicação.

- Pensei que... - engole o ar uma vez - ...como era pra mim, eu pudesse ficar com ela. - Clark surpreende ainda mais a amiga, que agora pisca os olhos freneticamente tentando digerir as palavras.

- Pode! - solta - Bastava ter me pedido e pouparia todo o trabalho...  e constrangimento - a última palavra sai quase inaudível. 

- Só... não quis te incomodar com isso! - Clark gagueja e dispara em seguida - Algo assim merece destino melhor que uma lata de lixo.

Chloe sente o sabor amargo nas palavras dele.

- Lembra do que eu disse mais cedo? - Ela pergunta emendando rapidamente - Encerrar esse capítulo, deixar isso pra trás? - conclui percebendo o kriptoniano estranhamente triste, assimilando as palavras - Clark, está tudo bem? - Ela pousa uma mão em seu ombro, encorajando-o a desabafar. 

O moço agora está sem lugar e percebe no simples toque uma eletricidade, acordando o sentimento que sempre esteve ali, mas lhe parecia tão confuso.

- É que... - ele pausa buscando as melhores palavras - todos aqueles anos e eu não percebi como você se sentia. Eu fico pensando... - Clark muda o rumo da conversa quando sente que falaria demais - Eu sinto muito!

Chloe arregala os olhos e pensa ter entendido o que o amigo quer lhe dizer.

- Então é isso! - Ela solta um longo suspiro -  Você está aí se corroendo por pensar na “pobre Chloe” e todos os anos de amor não-correspondido... Clark, eu sei que o que eu vou dizer parece óbvio, mas você não tem culpa de não ter sentido a mesma coisa. Passou! - Clark sente de novo o peso das palavras - Não quero que sinta pena de mim... - Ela continua.

- Pena? - ele está incrédulo - Não se trata disso! - o kriptoniano sente necessidade de revelar a verdade dos seus sentimentos, mas se controla quando percebe o anel de noivado na mão direita da amiga. A felicidade dela é o que mais lhe importa no momento. Ele respira profundamente e dá as costas a ela sem dizer uma palavra.

- Clark, eu te conheço! -  ela se aproxima dele - está claro que você quer me contar alguma coisa... Sou eu, sua melhor amiga... em quem você confia... lembra? - Agora ela está na frente do amigo e por alguns segundos eles se olham fixamente. 

O momento ativa nele uma imensa vontade de verbalizar o que tem lhe consumido nas últimas horas.

- Desde que li esta carta eu não penso em outra coisa - dispara sem pestanejar. 

Chloe se afoga no sofá que está próximo deles, buscando significado naquelas palavras.

- Tá vendo? - ele solta - A última coisa que eu queria era te ver assim. Eu já vou indo. A gente se vê depois - Ele vai caminhando até a  porta quando sente a mão de Chloe envolver o seu braço.

- Espera! - ela segura forte, não querendo soltá-lo - A gente precisa conversar! - Ela concilia o ritmo tranquilo das palavras com o tom incisivo -  O que está tentando me dizer?

Clark se sente encurralado, percebendo que Chloe não desistirá do assunto. Ele dá um longo suspiro e solta como quem não consegue mais se segurar.

- Cada linha dessa carta, seus sentimentos... - Os olhos dela, sedentos de verdade, brilham como naquele dia do baile de primavera - eu teria sido feliz se não houvesse tempestade, se nossa dança não fosse interrompida... se aquele beijo acontecesse - Ele sente em cada célula a força do que está dizendo -  Eu teria sido feliz com você! - conclui enfim, lendo a expressão de surpresa que acaba de se desenhar na amiga. 

- Clark, eeeeu... - Chloe gagueja pensando em como desejou ouvir aquilo por anos - Eu não sei o que dizer - é o que lhe resta para falar dada sua condição de noiva.

- Você não precisa dizer nada! Eu é que fui um idiota! - Clark continua - Não consegui enxergar os sinais... Nem os seus, nem os meus. Preferi me esconder atrás da amizade e aceitar qualquer desculpa para o que eu sentia - Ele lembra das noites no celeiro quando um impulso o fazia abrir aquele anuário e ter a rosa nas mãos. Aquilo o conectava a uma lembrança que ele sempre precisou ter. - Lembra daquela rosa que você me deu? - Ele dá uma pequena pausa tentando controlar a urgência dos seus sentimentos enquanto vê ela balançando a cabeça positivamente - Eu a guardei! - finaliza. 

- Está querendo me dizer que você tem até hoje a flor que eu coloquei na sua lapela? - Ela pergunta não conseguindo disfarçar a felicidade que saber disso lhe causou. 

- Sim... Está no anuário do colégio - Ele sorri com ternura sentindo que precisa terminar de contar o que sente, mas mantém uma distância tentando respeitar o relacionamento dela - Posso entender agora que não era na melhor amiga que eu pensava quando a guardei - Clark está tomado pelas memórias - Havia toda uma admiração por você, uma preocupação em te proteger, ciúme - ele cora abaixando a cabeça - É! Eu tinha ciúme... mas me esquivei de tudo isso quando a gente concluiu que era melhor preservarmos nossa amizade. 

Chloe se culpa por estar cada vez mais feliz a medida que os sentimentos dele são revelados, mas nota que há uma angústia no amigo.

- Mas... você amava a Lana! A gente não tem controle do que sente e eu nunca te culpei por isso - Ela olha no fundo dos olhos dele, tentando mostrar que está tudo bem. 

- Talvez eu tenha perdido tempo buscando longe aquilo que sempre esteve do meu lado - Clark pega a mão de Chloe - Olha... Eu quero que você seja feliz e eu sinto que o Jimmy é o cara que vai te proporcionar isso - Uma tristeza conformada dá o tom de sua expressão - Não esperava despejar tudo isso em você. Eu só precisei ficar com essa carta.

 Ele dá um beijo no rosto da amiga que se dá conta de que ele partiu ao sentir o efeito da super-velocidade em seus cabelos.