Fanfics Brasil - capítulo Único Felicidade Clandestina

Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: trabalho de faculdade


Capítulo: capítulo Único

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Recife. Cidade onde morávamos. nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. E ela. Sim, ela. Menina gorda com um busto enorme, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Ela não nos perdoava por não ser como nós. Com certeza ela nos odiava.


 Ela possuía um talento para a crueldade, era toda pura vingança. Sendo filha de dono de livraria, os apaixonados por leitura eram seu alvo predileto. Seu jogo preferido: humilhar.


E comigo não foi diferente. Menina maldosa, exerceu com toda calma ferocidade o seu sadismo em mim. Eu, na minha ânsia de ler, nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.


O seu ápice foi quando meu contou que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Ah! Aquele livro. Majestoso, lindo, fascinante. Um livro para ser vivido, respirado, devorado.


Ela estava sedenta, e mergulhada em seu próprio egoísmo e avareza, me prometeu empresta-lo. Eu não percebi o que estava por vir. Eu estava cega pela alegria que tomava conta de mim, já que não podia pagar por aquele livro. Eu não vivia, mal respirava, tamanha era minha ansiedade.


No dia seguinte corri, o mais rápido que pude, para a casa dela. Não poderia perder um minuto sequer. Bati à porta. Ela abriu. Não me mandou entrar. Olhou bem para meus olhos. Com toda frieza me disse para voltar no dia seguinte e que havia emprestado para outra menina. Saí devagar. E como pura magia a esperança tomou conta do meu ser. Saltitava pelas ruas, confiante que teria a chance de ler aquele glorioso livro.


O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo ansioso. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.


Os dias se passaram, eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer e continuava do mesmo jeito: “Volte amanhã! Ainda não estou com o livro!” dizia ela tentando ocultar a felicidade quase que diabólica. As vezes as falas mudavam, com outras desculpas, mas no fim eu sempre saía de lá sem o livro nos braços. Eu já sentia as olheiras profundas sob os meus olhos espantados.


Até que um dia, quando eu estava à porta, apareceu nada menos que a mãe da menina filha do dono da livraria. Ela estranhou toda aquela situação, atônita questionou, pediu explicações. Até que por fim entendeu toda maldade de sua filha. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: “este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! você vai emprestar o livro agora mesmo”. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.”


Notava-se que o pior para essa mulher foi a descoberta horrorizada da filha que tinha, de toda a sua potência de perversidade.


Eu estava estonteada. não disse nada. Apenas peguei o livro e sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito.  Saí andando bem devagar. Não sei quanto tempo levei até chegar em casa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.


Chegando em casa, não comecei a ler. Ainda estava anestesiada. Levei horas para abri-lo. li algumas linhas maravilhosas, fechei, ainda maravilhada fiquei olhando para ele, encantada. A felicidade tomava conta de mim. Eu vivia, respirava aquele livro.


Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.


Era aquela coisa clandestina chamada felicidade.



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Autor(a): barbaramiranda

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




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