Fanfics Brasil - Felicidade Clandestina Felicidade Clandestina

Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Felicidade Clandestina


Capítulo: Felicidade Clandestina

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FANFICTION : FELICIDADE CLANDESTINA


Hoje foi meu primeiro dia de aula na nova escola, nesta cidade para onde acabamos de nos mudar. Não posso dizer que foi um dia maravilhoso, mas sim, satisfatório diante das minhas expectativas. Para uma garota que veio de uma cidade pequena, até que me saí bem.


 Mal sabia eu, do tormento que se sucederiam nos próximos dias.


Vir de uma cidade pequena do interior, para uma cidade grande requer um certo período de adaptação, o que deveria ser muito mais que compreensível por parte dos meus novos colegas de escola. Apesar dos professores terem me acolhido muito bem, eu não estava com eles a todo momento, e o intervalo passou a ser o meu tormento.


Meu desempenho em sala de aula, não deixava nada a desejar, eu era sim, muito inteligente, talvez até mais que meus colegas da cidade grande. Acho que a partir daí, que meus problemas começaram.


Logo que cheguei na escola, não sabia quem eram os alunos “bons e ruins”, e muito menos estava interessada nisso. O que eu queria era me enturmar, o quanto antes. Quando entrei na sala, me senti obrigada a sentar no único lugar disponível para mim, ao lado de uma outra garota, essa que era mais alta, magra, e bonita do que eu. Pouco depois descobri que ela era a mais “popular” dali.


Como já mencionei, sempre fui inteligente. Nunca deixei a desejar em notas e comportamento. O oposto a mim, estava ao meu lado, e logo passaria a tentar mudar o que eu era.


No intervalo, fui alvo de chacotas, risadinhas escondidas e “zoações”.  Eu estava sozinha ali, com minhas roupas velhas  e meu sotaque do interior. E também passou a atrapalhar-me, ser a “caipira de mente brilhante”, já que passei a ser piada também pelo fato de ir bem nos estudos.


Para minha sorte, logo o sinal tocou, e voltei correndo para a sala de aula. Onde era meu refugio feliz. Me surpreendi, quando a garota que estava ao meu lado, puxou conversa comigo, logo ela, que estava no centro das minhas chacotas. Ela me disse que queria ser minha amiga, mas que eu teria que mudar o meu jeito estranho. Nas palavras dela, eu era esquisita, e que para me adaptar, deveria mudar meu jeito de menina do interior, usar outras roupas e deixar de ser NERD. Essa última palavra, que eu nem sabia o que existia até então. Ela ainda disse, que eu deveria mudar meu jeito de falar, pois meu sotaque fazia com que todos rissem de mim, mudar meu cabelo também deveria ser parte do plano, e que definitivamente eu deveria abandonar os livros e aprender como curtir a vida da cidade grande. E que se eu quisesse, ela me ajudaria. Eu estava querendo me enturmar e logo aceitei.


Na mesma tarde ela foi na minha casa, e levou uma mochila cheia de coisas. Ela me disse que se eu quisesse fazer parte da sua turma, tinha que ter atitude. derramou aquela mochila sobre a minha cama, e pediu que eu me sentasse na cadeira da escrivaninha, onde até então era meu lugar feliz com meus livros.


Rapidamente, ela cortou meus cabelos, com uma tesoura pouco afiada, e tingiu suas pontas com uma tinta vermelha, que disse que era de sua mãe. Pegou minhas calças e camisetas, e com a mesma tesoura pouco afiada abriu buracos e cortou mais curtas, respectivamente. Depois pediu para que eu vestisse. Eu não me reconheci, mas segundo ela, essa era a figura ideal para aparecer na escola no dia seguinte, e foi embora.


No jantar, prendi meus cabelos num coque, para que meus pais não percebessem a mudança tão repentina. Logo depois, fui dormir, e já que eu tinha que deixar de ser NERD, não fiz minha lição de casa, tão pouco li o livro de costume antes de deitar, algo que sempre fiz todos os dias da vida.


No dia seguinte, tive receio de aparecer daquele jeito na escola, mas mais ruim do que o dia anterior não poderia ser, então me arrumei e fui. Para minha surpresa, foi maravilhoso. Eu era o centro das atenções, minha mais nova amiga me apresentou aos outros e eles me aceitaram, eu era feliz e todos gostavam de mim. Quando entrei na sala de aula, não havia feito a lição do dia anterior, não mostrei para a professora e perdi pontos. Mas minha amiga disse que não tinha importância, pois agora eu era aceita.


Assim seguiu durante algum tempo, eu não fazia os deveres, brigava com meus pais pois eles me cobravam, usava roupas estranhas e pintava o cabelo toda semana, saia todos os dias com meus novos amigos e não queria nem ouvir falar sobre responsabilidades. A menina do interior não existia mais, pelo menos eu não aparentava que existisse, e não queria que ela voltasse. Eu era feliz assim.


Até que veio o fim do primeiro semestre. Eu estava tão imersa nesse mundo onde fui colocada e aceitei ficar, e não lembrava mais de como era ser a “caipira da mente brilhante”. Meus pais ficaram decepcionados comigo, meu boletim, era como meu cabelo nos últimos tempos, completamente vermelho. E eu pude ver a decepção no olhar deles, não entendendo onde haviam errado, e em que momento eu havia me perdido.


Aquilo foi um choque pra mim. Meus pais sempre foram a minha base, minha família sempre foi tudo para mim, eu não sabia mais quem eu era, o que estava fazendo. Aquilo que eu vivia, não era eu, não era o meu mundo, não era felicidade. Não pra mim.


As férias de julho vieram, e eu pude ficar longe daquele mundo abstrato onde eu tinha vivido nos últimos meses. Numa tarde chuvosa, fui organizar meu quarto, e encontrei um baú, onde minha mãe havia guardado minhas coisas antigas, na esperança de que um dia eu o abrisse e me reencontrasse nas minhas próprias lembranças. E foi o que aconteceu. No meio de tantas coisas, eu me vi novamente feliz.


Eu estava como aquele baú, guardado, empoeirado, esperando para que eu mesma me encontrasse novamente, e para que passasse a ser eu de novo. Minhas fotos com minhas roupas velhas estavam ali, lembrei de como eram tão confortáveis. Meus antigos boletins, provas e cadernos, desde o inicio, estava tudo ali. Como eu era feliz sendo eu. Sendo uma boa menina, tendo boas notas e feliz com meus pais orgulhosos de mim.


Como eu não percebi o quanto eu estava fazendo mal a mim mesma...


Os dias se seguiram, eu não usei mais aquela roupas estranhas, muito menos aquele cabelo de adolescente rebelde, que nem combinava comigo. Eu ajudei meus pais nos serviços de casa, coisa que sempre fiz, mas que nos últimos tempos, não estava nos meus planos. E como eu fui feliz nesses dias. Muito mais feliz em poucos dias, do que pensava ter sido nos meses que haviam passado.


As férias acabaram. E eu voltei para a escola. Mas não daquele jeito de antes. Voltei com as minhas roupas confortáveis, com o meu cabelo, com meu sotaque, com o meu jeito NERD da “caipira de mente brilhante”. Voltei como no meu primeiro dia na escola. Mas não querendo me enturmar de todo jeito. Voltei querendo ser eu mesma.


Se eu fui alvo de chacotas? Sim, durante muito tempo. Mas aquilo era tão pequeno diante de tudo. Eu era feliz, não era uma felicidade forçada, por um padrão que nos é imposto, e que na verdade não existe. Eu era feliz sendo eu, simples assim. Uma felicidade, que para os outros parecia que não existia, que poderia ser clandestina vista de fora, mas que era tão satisfatória e alegre vivida de dentro.


 



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Autor(a): luciana.bertoldo

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




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