Fanfic: O reencontro | Tema: Felicidade Clandestina - Clarice Lispector

O ano era 1998, parece que foi ontem, mas já se passaram alguns anos.Olho para o espelho e chega a ser dificil acreditar na mulher incrivel que me tornei, longe de ser aquela menina gorda, sardenta, de cabelos crespos arruivados , fora de todos os padrões para ser considerada uma garota bonita da época.

Corro para o trabalho.A livraria estava relativamente cheia naquela semana, havíamos recebido exemplares inéditos, o que ocasionou uma pequena fila de colecionadores a nossa porta .

Fui abrindo caminho entre os fiéis clientes que se encontram vorazes ali todas as semanas em busca de novas leituras, mas lá na frente, no primeiro lugar da fila me deparei com um rosto estranho.Certamente ela notou minha cara de espanto, quando dei por mim de  quem se tratava.

_Joana?!?Ah, oi !Como você está?

Ela me abraçou.

Estava embaraçada em mais uma daquelas situações nas quais nunca sabemos o que fazer. Haviam se passado exatos 15 anos desde  o dia em que ela saiu com "As reinaçõs de Narizinho" nas mãos, comprimindo-o contra o peito, como quem carregava um grande tesouro.Nunca mais a vi ,quando no dia seguinte após a descoberta da traição do marido sua se mudou, levando Joana e meu livro.

Nosso abraço se desatou, ela me olhou como quem se lembrava  exatamente de tudo o que a fiz.

_Faz tempo, Ana.

Ela me olhou, sem acreditar na minha mudança.

_Não posso demorar, João esta no carro com as crianças, estamos de férias na cidade, e eu precisava de entregar uma coisa.

Cuidadosamente ela retirou da bolsa a caixa dourada,  envolvido a uma plástico bolha, estava meu livro intacto, incrivelmente após anos, como se ele nunca tivesse sido tocado, deixando transparecer todo o zelo que Joana teve com o mesmo.

Era como se o tempo não houvesse passado para ela, linda, como a anos atras .Ao olhar para o carro estacionado do outro lado da rua, para o qual ela apontou minutos antes , vi João Ferreira, meu antigo crush da adolescência, conclui que ele e Joana haviam se casado, tiveram lindos filhos , estavam no banco de tras  buscando a mãe atentamente com os olhos.

Joana se foi, mas naquela manhã o passado ficou.Lembrei- me da garota solitária que fui, e do quão cruel eu havia sido com uma coleguinha de escola que ia todos os dias, incasavelmente, ate  minha casa  em busca do livro por qual estava fascinada.Aquelas foram as únicas vezes que alguém batera na minha porta a minha procura, talvez Joana nunca entendesse, mas ela, era a amizade clandestina que eu tentava manter por perto.

A loja estava aberta aquela altura, a venda de livros a todo vapor. Sentei- me no escritorio, frente a grande janela de vidro que dava vista a toda  livraria, servi- me uma xícara de café, feliz pela garota insegura que eu deixara pra tras, grata pela mulher que havia me tornado.