Fanfic: Curso Letras 3° Semestre | Tema: Felicidade inebriante

Não era rica, tampouco pobre, sei que sua vida não era aquilo que ela queria, confesso que não queria ter sua aparência também, muito menos ser parente da menina do chocolate, como a chamavam na escola, com sua farda sempre branca. Parecia não aproveitar a dádiva que era ter sempre em mãos aquilo que eu mais amava, mais almejava e sempre sonhava.

            Por algum tempo cheguei a pensar que ela era alérgica, tinha alguma doença ou que simplesmente seu pai a proibia de desfrutar todas aquelas iguarias e guloseimas que sua família fazia, até que um certo dia, nublado, quase no final da aula de geografia, que era a última aula daquela sexta feira, a menina do chocolate foi até minha mesa e deixou um cartão marrom, com dizeres em forma de chocolate na cor branca, "Você está convidado para minha festa". Mal pude ler o restante, estava olhando os chocolates desenhados no cartão, tantos sabores, tantos formatos, me perdi no formato das letras, já podia sentir o sabor, minhas mão sujando, meus bolsos cheios e minha boca mastigando até enjoar, já estava tudo planejado, eu iria com uma blusa de moletom com vários bolsos, escura para poder me sujar sem ser notado, chegaria cedo para poder comer mais, - " Você vem ?! " De repente uma voz sobre minha mesa, não estava prestando atenção, tinha muitos planos para fazer, - "Será amanhã.. " insistia a voz, voltei para a realidade, percebi que ela ainda estava ali, parada, esperando minha resposta, enquanto segurava o cartão com as duas mãos olhei para cima e balancei a cabeça com um sinal de positivo, um sorriso discreto sem mostrar os dentes, disfarçando minha euforia interna, - "Ok, o tema será chocolate, espero que goste." Não pude falar nada, apenas concordei mais uma vez com a cabeça, ela não tinha idéia das minhas aventuras na fábrica da sua família que por tantas vezes imaginei, mas naquele momento não consegui abrir a boca, apenas acenei com a cabeça e sem mostrar entusiasmo, guardei no bolso da frente da minha mochila que já estava no colo, e eu me preparando para sair da sala.

            Naquele dia fui para casa com um sorriso que me acompanhava, visivelmente apaixonado, minha mãe disse, mostrei o convite para ela, e logo ela entendeu, - " Paixão perigosa essa sua, por chocolate ! "  Ela falou. Mas não tinha saída, paixão era paixão, assim, você se apaixona por detalhes sutis, características que sobressaem, uma beleza que você enxerga com outros olhos, tudo que eu enxergava no chocolate, ora, já tinha me apaixonado por garotas algumas vezes, sabia exatamente que aquilo era mais do que paixão, era amor.

            Mal conseguia dormir naquela sexta feira, minha euforia tomava conta dos meus pensamentos, qual chocolate vou comer primeiro, preciso começar com um pequeno, assim poderei provar mais, como saberei qual o melhor se não conseguir provar todos, será se vou poder levar para casa.. Após pensar em todos os planos, consegui acalmar minha mente e dormir tranquilamente.

            Acordei como numa manhã de natal, o dia estava mágico, o tempo nublado da sexta feira se transformou em uma linda manha de sábado, com o céu pouco claro e pouco escuro, como um fim de tarde, frio e perfeito para um chocolate quente, acordei com um sorriso no rosto, sabendo de tudo que estava acontecendo, minha mente me deixou ciente de que aquele sábado seria o meu presente.

            Mas naquele sábado não bebi chocolate quente no café da manhã, não, eu estava ansioso demais com a festa e não poderia me empanturrar de chocolate como faço todas as manhãs de sábado e domingo. - " Mas nem um pouquinho ?" Perguntou minha mão com ar de surpresa. - "Nem um pouquinho !" Respondi prontamente, com a convicção de um viciado que recusa seus vícios no primeiro dia de abstinência. Após me arrumar e testar os bolsos do moletom com bolinhas de gude, fui até a festa, e como combinado fui o primeiro a chegar,  uma senhora  estava terminando de arrumar as últimas mesas, sentei o mais próximo possível de uma mesa que estava recheada de chocolate e doces, estava ávido por um pouco, mal podia controlar minhas mãos, mas fiquei no aguardo da aniversariante, - "Você não quer comer nada ?" Perguntou a senhora que arrumava as mesas, balancei a cabeça com um sinal positivo, ela veio até mim, inclinou-se sobre minha cadeira e perguntou: -"Você gosta de chocolate ?" inclinei o pescoço para cima, e pensei, era esse o momento, ela não pode pensar que eu simplesmente gosto de chocolate, e se ela me der somente alguns de poucos sabores?! E se ela me der salgadinho ao invés de chocolate?! Era essa a hora, olhei fixo nos olhos dela e falei como se estivesse me declarando para minha amada, com os olhos brilhando e o coração palpitando, - " Eu amo chocolate !! " Logo ela voltou para cima com a coluna reta, de um sorriso e falou: - "Então veio no lugar certo !"  E trouxe todos os tipos de chocolate que eu podia imaginar, em uma bandeja, grande o suficiente para caber muitos e pequena o suficiente para ficar na mesa, tinha de todos os tamanhos e cores, alguns nem cabiam no bolso do meu moletom, era exatamente como eu tinha imaginado, estava extasiado com aquele cheiro, hipnotizado, esqueci até o porque estava ali, era aniversário ? Quem era a aniversariante ? Ao colocar a bandeja de chocolates em minha mesa logo chegou com um chocolate quente em um copo de vidro, com chantilly por cima, eu não podia acreditar no que estava na minha mesa, era uma felicidade inebriante.