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Fanfic: Trabalho Letras Unopar/Felicidade Clandestina | Tema: Desejo realizado


Capítulo: Desejo realizado

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Desejo realizado.


Veridiane guebert.


 


 


Poucas coisas hoje em dia me prendem a atenção, mas quando eu parei em frente a vitrine de uma papelaria da rua onde eu sempre passo voltando do trabalho, uma lembrança fez desacelerar o meu tempo. Assim como hoje, quando criança, eu tinha alguns hábitos diários que pertenciam somente a mim. Andava de bicicleta até cansar as pernas, lavava as minhas loucinhas de brinquedo no tanque da lavanderia e brincava de escolinha, riscando com um giz roubado da escola, a porta do guarda roupa do quarto dos meus irmãos. (Era proibido roubar giz da escola.... Estritamente proibido), mas esse pequeno delito me proporcionou uma forma muito divertida de estudar. Contudo, este não é o fato mais importante da minha infância, mas sim o dia do concurso de pintura das séries do ensino fundamental da minha escola. Sempre que podia, a diretora promovia eventos interessantes. A escola que eu estudava era simples, com diversidade, mas também modelo de educação no estado todo de Santa Catarina e isso era um orgulho para a comunidade. Em meio a tantas crianças, havia chegado a pouco uma menina nova. Não havia nela requisitos interessantes em sua estrutura física, mas muitos alunos descobriram que a garota era rica e isso a fez sim muito interessante para os muitos. Hoje eu sei que ela não era exatamente rica, já que ela estudava no mesmo colégio que eu, apenas a garota se equiparava na parte menos desfavorecida. A verdade é que mesmo tendo pernas de cambito e um cabelo extremamente escorrido, ela conseguiu galgar nada mais nada mesmo que o posto de Mor de fila da banda da escola. Ser Mor de fila era algo muito importante para as meninas. Mas o que foi mais relevante, é que o pai desta menina, tinha uma papelaria bem famosa na cidade. Para todos da escola isso era como ter um parque de diversões às mãos. Isso porque os materiais escolares que haviam nessa papelaria eram os mais diferentes do momento. Eu visitava o lugar com frequência. Sempre que podia aumentava a minha coleção de papéis de carta e quando economizava a minha pequena mesada, eu me dava o luxo de comprar um novo diário de recordações ou apenas caminhava até lá atravessando a cidade, para simplesmente trocar minhas tampas de margarina por adesivos da menininha Claybom. A garota sempre estava no estabelecimento, acompanhada de seu pai. Quando ela me via, gentilmente acenava com um sorriso solícito e amigável, enquanto eu a retribuía com o mesmo gesto. Mas era o máximo que ela podia se aproximar de mim, diante da cara apertada e estreitada de seu pai na minha direção. Eu não tinha posses para ser amiga da filha dele. Quando o dia do concurso de pintura chegou, uma garota da minha classe ficou muito eufórica. Tati dizia que ganharia o concurso por suas extremas habilidades em desenho e levaria o grande prêmio para sua casa, uma bicicleta Caloi vermelha. Francamente Tati era realmente boa em desenhos e eu acreditei mesmo que ela venceria o concurso. Já eu me contentava com o terceiro lugar, que me daria a chance de ter em minhas mãos uma caixa com 36 lápis, com as mais variadas cores e entre elas, o fantástico lápis cor azul piscina. Minha cor favorita.  O que não imaginávamos é que o evento escolar teria a presença de alguns políticos para a entrega dos prêmios. Uniformizados e espalhados pelo pátio, eu e pelo menos 200 alunos, aguardávamos ansiosos pelo resultado. Minha amiga apertava as mãos e sorria nervosamente esperando que seu nome fosse cantado pela diretora da escola. A diretora deu três batidinhas no microfone chamando a atenção de todos, fez um breve discurso sobre a importância da educação artística para aquela escola e logo em seguida iniciou a proclamação dos vencedores chamando o quinto lugar. Saiu do meio da multidão um garotinho franzino da quinta série que foi presenteado com uma pequena cesta com materiais escolares, brindes do governo. O garotinho pareceu muito feliz ao receber o prêmio, mas foi tímido o suficiente para quase arrancá-lo das mãos de uma das professoras e descer para o pátio correndo. Quando as palmas cessaram, veio o anúncio do quarto prêmio. Desta vez uma garota com um cabelo no comprimento das nádegas e uma saia pouco abaixo dos joelhos foi chamada. Ela recebeu o mesmo prêmio do garoto anterior, porém educadamente sorriu e agradeceu antes de se virar e descer vagarosamente do palco improvisado. Respirei fundo enquanto batia as palmas pela segunda vez.   A diretora virou uma das folhas para cima do calhamaço que segurava e demorou um pouco para achar o terceiro o nome, até que o anuncio começou a ser proferido por ela. _“ O terceiro prêmio, vai para uma aluna do 8º ano. O nome dela é..... O meu nome ecoou no microfone segurado por ela, ao mesmo tempo em que um grito saiu do fundo da minha garganta. Era o meu nome que ela estava falando. Eu corri me aproximando e parei repentinamente antes de subir os três degraus do palco onde estavam os professores e políticos, enquanto eu olhava ansiosa para o meu objetivo. Arrumei minha blusa por cima da minha saia escolar e subi devagar. Cada degrau foi desaparecendo como se eu não os tivesse debaixo dos meus pés. Estiquei meus braços trêmulos, enquanto meus olhos alcançavam nada mais nada menos que a desejada caixa de lápis com 36 cores da Faber Castel. Era um sonho realizado. As pessoas em cima do palco batiam palmas e sorriam na minha direção ao mesmo tempo em que minha voz abafada agradeceu ao microfone. Voltei de encontro da Tati, que batia palmas feliz pela minha conquista. Porém sua alegria durou pouco quando ambas distraídas olhando os prêmios dentro da minha cesta, ouvimos o nome do segundo lugar. Foi o dela dessa vez.  Ela girou o pescoço para os cidadãos do palco e seu sorriso fechou automaticamente. O prêmio não seria mais a bicicleta tão sonhada, seria o mesmo que o meu. Ela então foi buscar o prêmio tão desanimada que senti pena por ela. Depois voltou até à mim aos prantos, quase batendo-se nervosamente entre as pessoas, enquanto carregava sua cesta cheia de quinquilharias. Foi o que ela disse. De cabeça baixa ela ouviu o próximo nome dito bem alto ao microfone pelo secretário da educação da cidade. _“O prêmio de primeiro lugar vai para... Foi quando Tati deixou sua cesta cair espalhando alguns dos seus presentes, no chão. A vencedora havia sido a filha do dono da papelaria. Tati ficou tão indignada que sapateou batendo os pés com força no piso trincado da quadra. _Isso é um absurdo. Ela comentou alto apontando o braço na direção do palco. _Como vamos competir com uma garota que tem os lápis de giz de cera mais caros da cidade? Depois Tati se virou para mim e me disse com os dentes apertados uns aos outros. _A garota já é rica, para que ela quer uma bicicleta? Eu sinceramente não ligava. Tentei esconder a minha alegria na frente da Tati, mas estava difícil de segurar. Tati se abaixou rapidamente e juntou suas coisas com certa raiva, as jogando novamente para sua cesta de prêmios, logo depois se levantou, empurrou algumas crianças que estavam atrás de nós as afastando e saiu sem se despedir de mim, enquanto eu não via a hora de chegar em casa para usar os meus tão sonhados lápis de cor. Meu pensamento voltado para os materiais postados na vitrine me deram uma nova perspectiva. Não é o quanto custa algo, mas o quanto ele te realiza.


 


 


GUEBERT, Veridiane - Desejo realizado. Rio Negro PR



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Autor(a): veridiane

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