Fanfic: FELICIDADE COMPARTILHADA | Tema: reescrita de felicidade clandestina
Eu era magrinha, baixa, tinha cabelos vermelhos e cacheados e um rosto salpicado de pintas vermelhas que se tornaram motivo de tristeza para mim. Eu não era como as outras meninas da minha sala então sofria constantemente com apelidos maldosos, vivia calada e amedrontada pelos corredores. Mas eu possuia o que todas elas não tinham, um pai escritor que sempre me presenteava com grandes clássicos da literatura.
Eu sabia que para aquelas meninas isso não era nada, pois elas não eram devoradoras de livros como eu. Elas jamais sentiriam o que eu sinto ao folhear um livro novinho, sentindo o toque leve e despretencioso das páginas nas minhas digitais, ou aspirando o cheiro forte e inconfundível do papel recém produzido.
As meninas na escola não gostavam de mim, isso era um fato, mas uma em especial era a mais interessada em me fazer sofrer, ela tinha um certo talento para a maldade. Se chamava Betty e vivia rindo da minha "cara pintada", como ela mesmo gostava de chamar.
Meu único lugar de paz naquela escola era a biblioteca, lá era como um refúgio para mim, um lugar seguro. Certo dia no recreio, eu estava no meu "refúgio" procurando um bom lugar para começar a ler um livro que tinha ganhado de presente do meu pai, mas não era um simples livro, era o livro dos meus sonhos, As reinações de Narizinho, de Monteio Lobato. Há tempos aquele livro tinha se tornado meu sonho de consumo então resolvi levá-lo à escola sem que meu pai visse, ele não gostava que eu levasse meus livros comigo para a escola pois já tive vários roubados. Mas aquele livro eu não podia perder de jeito nenhum, era um livro grosso, meu Deus, era o tipo de livro para se ficar vivendo com ele, morando em cada página, comendo-o, dormindo-o. Eu no auge da felicidade por ter aquele livro em mãos, jamais imaginei o que aconteceria naquele dia.
Eu sentei em uma das mesas mais ao fundo da biblioteca e comecei a ler, estava feliz, eu lia com um sorriso no rosto, parava um pouco, cantarolava, abraçava o livro, olhava a capa. Estava tão distraída que nem percebi que Betty se aproximava com duas outras garotas, ela disse rispidamente que a professora estava a me chamar e que eu tinha que regressar a sala de aula. Fechei o livro e frustrada por ter sido interrompida do meu "transe" segui as meninas até a sala. Chegando lá dei uma olhada pela sala e nada, a professora não estava, então Betty falou que talvez a professora estivesse me procurando também. Eu pensei que talvez ela estivesse certa então guardei o livro da mochila e saí. Encontrei a professora depois de uns minutos e ela me jurou que não estva me chamando coisíssima nenhuma. "Nossa que estranho, deve ter sido mais uma brincadeira boba da Betty", pensei.
Ao voltar do recreio Betty e suas amigas riam e sussuravam olhando para mim. Ao fim da aula, já voltando para casa eu notei que minha mochila estava mais leve, arregalei os olhos e abri minha mochila, e para minha desgraça o livro havia sumido. Mas eu sabia que não havia perdido, ele foi roubado, e eu sabia quem tinha feito isso, Betty. Eu não podia falar para a professora, ela ligaria para meu pai e ele não ficaria nada feliz, sem contar que eu não tinhas provas contra Betty. Então no dia seguinte eu fui falar com Betty, pedindo que me devolvesse o livro pois ele no momento era minha única felicidade e que como ela não gostava de ler, ele de nada lhe serviria. Betty ouviu aquilo e com um sorrisinho maldoso nos lábios disse que não sabia do que eu estava falando. A partir daquele dia começou meu tormento, todos os dias eu ia até Betty e lhe implorava que me devolvesse As reinações de Narizinho e todos os dias ela dizia que não tinha pego livro nenhum.
Até que comecei a ficar adoentada, não queria comer, nem ir à escola. Meus pais chamaram um médico, que garantiu que eu não estava com doença nenhuma, mas eu sabia bem que eu sofria de um grave caso de felicidade roubada. Já estava de cama havia uma semana quando em uma tarde ouvi a campainha da minha casa tocar e minha mãe conversar com alguém na porta. Logo a porta do meu quarto se abriu e fiquei surpresa ao perceber quem estava com minha mãe, era Betty. Ela carregava no rosto um sorriso meio culpado, quase envergonhado e nas mãos ela tinha o meu livro. Minha mãe estava feliz pois eu nunca recebia visitas de amigas, então ela saiu do quarto dizendo que ia preparar um lanche para nós, me deixando ali, sozinha com Betty. Eu não consegui falar nada então ela falou, e eu que já estava surpresa, fiquei mais ainda ao ouvir o que ela disse. Betty me pediu perdão e confessara que tinha começado a ler o livro e que finalmente tinha entendido a razão de eu estar tão feliz naquele dia, ela disse que conheceu a magia da leitura e que tinha se arrependido do que que fez, então resolveu que era melhor devolver o livro. Ela realmente parecia sincera, eu peguei o livro, disse que a perdoava e que estava feliz por ela e que se ela quisesse eu poderia lhe emprestar outros livros. Betty então sorriu e disse "Então acho que vamos ser amigas agora, te vejo na escola", sorriu e saiu do meu quarto. Eu fiquei ali sorrindo e imaginando o quão bom é quando de alguma forma compartilhamos nossa felicidade com as pessoas e o quanto isso as transforma.
Autor(a): denise_neto
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