Fanfics Brasil - Começo, meio e fim Felicidade Clandestina 2.0

Fanfic: Felicidade Clandestina 2.0 | Tema: Letras, Português, Arlequina, Trabalho


Capítulo: Começo, meio e fim

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Ela era alta, loira, de olhos azuis e com sardinhas na pele, de longe se via que era meio maluquinha, todas as meninas da escola a temiam, os professores faziam pouco caso dela e seus pais nem se quer sei onde estavam (ela morava com a avó que aparentemente era muito bem de vida.) O nome dela era esquisito, tava mais para apelido, Arlequina, gozado, não? Mas aparentemente ela amava esse nome. Numa aula de português, descobri algo sobre ela que mudaria toda a minha visão, a vó dela era dona de uma livraria. Não posso dizer o quão feliz fiquei em saber disso, já que eu era uma devoradora de histórias assumida. Desde o dia dessa imensa surpresa tentei faze amizade com ela, pensei, "Ah, não deve ser tão difícil de ser amiga dessa menina, ela é doidinha, mas não deve ser tanto". Como me enganei ao pensar isso, a menina não queria amizade com ninguém, fui a casa dela para conversarmos, a sua avó ficou boquiaberta quando falei que queria visitar a sua neta, e quando entrei me arrependi instantaneamente, a menina dormia em um quarto escuro, apenas uma cama e uma janela coberta, quando comecei a falar dos livros da sua avó ela aparentemente não gostou muito da ideia, e entortou mais ainda o nariz quando disse que queria um livro específico, As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Ela me perguntou porque ela deveria me emprestar esse livro, eu disse que queria muito lê-lo e que sabia que ela não gostava de ler tanto quanto eu, ela me disse que eu estava errada, que ela gostava sim de ler e estava lendo exatamente o livro que eu havia pedido, fiquei decepcionada ao saber que ela estava lendo, "que desperdício de tempo" pensei comigo mesma, mas não desistiria tão fácil de tentar ler aquela obra, então perguntei a ela se eu poderia lê-lo depois que ela terminasse sua leitura, ela disse que sim, mas que estava na primeira página, e que lia uma página por dia. Quando ela me disse isso perdi minhas esperanças, quanto tempo ela levaria para ler um livro daqueles, meses, muitos meses. Mas ai ela me disse algo que reacendeu meu coração, "Mas volte aqui algumas vezes na semana, quem sabe eu consiga ler mais rápido para lhe emprestar". Concordei com ela e naquela semana eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. Alguns dias depois fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia esquecido do que me prometerá dois dias atrás, e que tinha ficado cansada nessa semana e que não tinha lido nem uma página sequer do livro, disse que eu voltasse na semana seguinte para pegar pois iria ler todo o livro rapidamente para me emprestar. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da neta da dona da livraria era tranquilo e diabólico. Na semana seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: ela não terminara de ler o livro ainda e que voltasse na semana seguinte para pegá-lo. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama da “semana seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Eu ia semanalmente à sua casa, sem faltar uma semana sequer. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua vó. Ela devia estar estranhando a aparição muda daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa avó boa entendeu. Voltou-se para a neta e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu da livraria, nem mesmo esta no seu quarto, você nunca quis ler! Foi ai que a avó percebeu o quanto sua neta era pervertida, então, após alguns segundos sem falarmos nada ela disse: "Entre querida, vou pegar o livro pra você e fazer um chá para tomarmos juntas enquanto conversamos." E foi o que ela fez, tomamos um chá, conversamos as três e descobri que aquela menina não era tão maluquinha quanto eu pensava ser, era até legal, peguei o livro e quando ia saindo a senhora me disse: "Você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. As semanas foram passando, comecei a fazer trabalhos e tarefas com aquela menina que pra mim, não era mais maluquinha e sim uma amiga, começamos a nos dar muito bem e viramos melhores amigas rapidinho, hoje, depois de se passado 25 anos daqueles dias recebi uma mensagem quase impossível de acreditar, aquela menina que se tornou minha amiga estava em um hospício, aparentemente eu não estava tão errada em achar ela maluqinha. Ah, e se você quer saber o que aconteceu com o livro, eu o tenho até hoje, Arlequina me deu de presente no nosso último dia de aulas juntas, eu leio e releio esse livro até hoje e sinto como se tivesse de novo meus 10 anos, com aquela felicidade clandestina. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.



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Autor(a): ats98

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