Fanfics Brasil - Em busca da felicidade Felicidade clandestina

Fanfic: Felicidade clandestina


Capítulo: Em busca da felicidade

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Ele era um menino, baixo, franzino e de cabelo enroladinho. Tinha o corpo magro enquanto nós éramos mais fortes. Mas possuía o que toda criança que amava soltar pipas gostaria de ter: um pai fabricante e colecionador.


Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos uma papinha barata, ele nos entregava um convite dos eventos do pai. Ainda por cima nos eventos só ficávamos olhando sem poder toca-las.



Mas que talento tinha para a crueldade. Ele todo era pura vingança. Falando dos eventos do pai. Como esse menino devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhos, esguios e fortes. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de soltar pipa, eu nem notava as humilhações a que ele me submetia: continuava a implorar-lhe emprestado uma pipa velha q ele não brincava.


Até que veio para ele imagino dia de começar exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou que possuía A magnifica, a pipa que venceu vários campeonatos.


Era uma pipa linda, meu Deus, era uma pipa para soltar até doer os braços e ainda querer brincar mais. E completamente acima das minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ele a emprestaria.


Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu viajava pelo céu em ventos suaves, e o vento me levava e me trazia.


No dia seguinte fui a sua casa, literalmente correndo. Ele não morava em um apartamento como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para os meus olhos, disse-me que havia emprestado a pipa a outro menino, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-la. Boquiaberto, sai devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava todo e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era meu modo estranho de andar pelas ruas do bairro. Dessa vez nem tropecei: guiava-me a promessa da pipa, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelos ventos me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre é não tropecei nenhuma vez.


Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto do filho do colecionador era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta da sua casa, com um sorriso o coração batendo. Para ouvirá resposta calma: a pipa ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ele ia se repetir com meu coração batendo.


É assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ele sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorre e todo do seu corpo fino. Eu começara a imaginar que ele me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinho mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.


Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ele dizia: pois a pipa esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que emprestei a outro menino.


Até que um dia, quando eu estava a porta de sua casa, ouvindo uma de suas desculpas diárias, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando as aparições mudas e frequentes daquele menino a porta de sua casa. Pediu explicações aos dois. Houve uma confusão silenciosa, entrecortadas de palavras pouco elucidativas. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para seu filho e com enorme surpresa exclamou: mas essa pipa nunca saiu daqui de casa e você nem quis brincar com ela!


É o pior para essa mulher não era a descoberta soque acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada do filho que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência da perversidade do filho que tinha e o menino em pé à porta. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para o filho: você vai pegar a pipa agora mesmo. E para mim: " É você pode ficar com a pipa.


Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteado, e assim recebi a pipa na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei a pipa. Não, não sai pulando como sempre. Sai andando bem devagar. Sei que segurava a pipa linda com as duas mãos e comprimia contra o peito.


Chegando em casa, não fui brincar. Fingia que não a tinha, só pra depois ter o susto de ter. Horas depois peguei-a, olhei os detalhes maravilhosos, guardei-a de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais tomando um suco, fingi que não sabia onde guardara a pipa, achava-a, admirava por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. Eu vivia no ar...havia orgulho em mim. Eu era um rei poderoso.


Às vezes sentava-me me no banco, parado com a pipa no colo, sem toca-la, em êxtase puríssimo.


Não era mais um menino com uma pipa: era um homem com seu carro novo.



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Autor(a): patrickmadson

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