Fanfic: Felicidade Oculta | Tema: Trabalho Acadêmico
Ele era gordo, alto e tinha o cabelo muito liso, meio loiro. Tinha uma cabeça pequena, enquanto nós todos tinhamos uma cabeça achatada. Mas possuía o que qualquer criança gostaria de ter: um pai dono de uma loja de games.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos dar de presente algum jogo barato fora de linha, ele nos entregava em mãos um jogo grátis que vinha em conjunto ao adquirir um console novo, que normalmente eram horríveis.
Mas que talento ele tinha para a indiferença. Na minha ânsia de querer jogar, eu nem notava as humilhações que ele me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os jogos que ele não jogava. Até que que veio para ele o grande dia de começar a exercer sobre mim uma tortura cruel. Como casualmente, informou-me que possuía God Of War, da Sony Interactive Entertainment.
Era um jogo fantástico, meu Deus, aclamado pela crítica, comentavam da jogabilidade e gráficos fora de série. E, completamente fora das minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de euforia: eu não vivia, estava muito ansioso, olhava insistentemente para o relógio desejando acabar logo o dia.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava numa casa como eu, e sim em um condomínio. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o jogo a outro garoto, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em
breve a esperança de novo me tomava e eu recomeçava na rua a andar sorridente, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas da cidade.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto do filho do dono da loja de games era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o jogo ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” iria se repetir.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ele sabia que era tempo indefinido, até cansar dessa situação. Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ele dizia: pois o jogo esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outro garoto.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menino à porta de sua casa. Pediu explicações a nós dois. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para o filho e com enorme surpresa exclamou: mas este jogo nunca saiu daqui de casa e você nem quis jogar!
Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para o filho: você vai emprestar o jogo agora mesmo. E para mim: “E você fica com o jogo por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o jogo: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava entusiasmado, e assim recebi o jogo na mão. Às vezes sentava-me no sofá com a capa do jogo aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Autor(a): caio_graco
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