Fanfic: Clandestinamente, tive que roubar minha Felicidade | Tema: Felicidade Clandestina da Clarisse Lispector
Clandestinamente, tive que roubar minha Felicidade
Em suas características pouco mostrava quem realmente era, com os cabelos arruivados pelos processos de alisamento, as pinturas da mãe já estavam na sua cara, a menor em altura, porém a maior em seios, desproporcionais a princípio pelas balas que estavam no bolso do lado direito, mas desproporcionais também com todas as meninas de bustos escondidos que da mesma idade partilhavam o tempo da pré-adolescência. Possuía o que toda garota apaixonada por livros gostaria de ter: uma mãe dona de livraria.
Pouco se importava, e com nós, menos ainda sentia, que até de aniversário, preferia a entrega de uma efêmera caixa de BIS, do um atemporal best-seller em edição de bolso e baratinho. E ainda por cima, faltava na caixa, vezes uma ou duas unidades, que ela entregava o 'presente' aberto, rindo ao falar sempre quatro palavras decoradíssimas, "Very Sorry, Feliz Aniversario!".
Mas que talento tinha para canalhice, em seus atos de cobrança má, sempre se pondo a mostrar o que tinha, e o que os outros não podiam usar. Devia ser ódio, aquilo que ela sentia pelo grupo, o nosso grupo de meninas, inocentes, na época não sabíamos, livres, com a idade em que uma criança só poderia em ler ou brincar. Mas deixou marcado, tal como uma memória marcada a ferro, de que mesmo crianças, humanas eram, e ali daquela criança de onde poderia sair qualquer adulto, aquela menina me tratou com calma a psicopatia que despertava em seu ser, ao ver minha ânsia de ler, nem notava como me fazia de fantoche, onde me alfinetava como um boneco de vodu, em fazer-me subsequentemente pedir seus livros emprestados em desolado desespero.
Até que veio o magno dia, de exercer sobre mim uma submersão psicológica e sádica. Onde me apresentará a edição de luxo, do livro que a muito estava apaixonada, depois de ter visto em sua capa, a minha vontade em seu título me expressava, nas mãos daquela menina má, O livro “A menina que roubava livro” cintilante brilhava.
Era um livro de capa bordada, onde o título se destacava em um branco neve, como de fato me dava a vontade de abraçá-lo, tomá-lo com meu, tal como o título em vermelho me expressava. Mais a garota cobri-o em seu abraço cheio, atrás agora de seus cabelos vermelhos que escondiam qualquer chance de roubá-lo ou emprestá-lo. Disse-me que eu passasse em sua casa no dia seguinte, que ela ainda terminaria de ler, e poderia assim me emprestar.
No dia seguinte, conforme hora combinada, fui ansiosamente pela curiosidade que mentalmente gritava aquele livro, aquelas páginas e aquele título. Bati palmas, e fui recebida da porta, mesmo eu estando no portão. Gritou que tinha emprestado para outra menina, e que voltasse na segunda seguinte para buscá-lo. Saí devagar, desapaixonada pelas horas, ter que esperar mais uma semana, para ter aquilo que queria ao exato tempo. Mas breve foi a sensação de desanimo, ate que fiquei me supondo ser a protagonista do livro, rindo em silêncio, ao decorrer que na minha imaginação de leitora, eu estava pegando o livro a força da menina vermelha.
Mas não ficou simplesmente nisto, Na Segunda-feira estava eu lá, novamente na esperança de ter o livro para uma leitura paradisíaca, sem saber que o plano da menina era de fato diabólico. Em uma resposta calma, ela destoava as sílabas puxando cada palavra quase como se fosse risco.
Quantas vezes tive esperança por todas estas semanas, até que meio ano se passou, sempre na infantilidade de minha aceitação, de ter sido negado o empréstimo prometido, até que meus olhos viram um caminhão de mudança, todo preenchido, vários móveis, tal como livros em uma estante cheia. Meu peito gritou, ao sentir perder a chance do empréstimo do livro, onde minha esperança voltaria, perguntava-me só com o caminhão já roncando o motor, com o portão aberto aceitei o desafio, lembrando do título do livro. Dei de cara com a menina, porém mais velha, e vi se tratar de sua mãe, sua expressão saiu de um hã, rapidamente para um oi sorrindo, dizendo que a filha estava no final do corredor em seu quarto, arrumando as últimas coisas. Falei a ela, que ela tinha prometido emprestar um livro, ao término me disse que o livro sempre esteve sempre ali, inelegível ainda para qualquer leitura, preso no plástico que veio da livraria. Sorri e disse que falaria com a menina, ao tempo que sua mãe estava indo conversar com um rapaz que carregava as mudanças, andei na calma, pelo corredor por onde pude ver no quarto, uma caixa de livros por onde a combinação da luz do sol e minha admiração, estonteante o título desejado brilhava. Parei com a mão no bolso, segurando duas unidades de BIS, andei o mais discretamente possível, na sensação personificada da menina na capa, vi que a menina que me negava o empréstimo estava na suíte, recolhendo as maquiagens que escondiam de certo uma cara feia, passei em esguio, fugindo meu reflexo do espelho, troquei o livro, deixando os dois BIS, saindo despercebida, sendo agora, eu, A menina do título.
Feliz, na rua em direção a minha casa, pensei: “Devo ler esse livro antes”, antecipando qualquer atitude que a mãe de lúcifer poderia fazer. Corri para a praça, livre, sentindo a felicidade clandestina que abraçava, com um sorriso que refletia o sol, e o branco da capa.
Cheguei abri e fechei o livro, inúmeras vezes, li as primeiras linhas todas vezes, finalmente poderia desfrutar da leitura que tanto tinha vontade, sentada embaixo da sombra de uma árvore, o livro além de meu desejo de menina, era também a forma de como criança me tornei mulher.
Autor(a): Rafael V M Messias
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