Fanfic: PAIXÃO POR LIVROS | Tema: LIVROS
PAIXÃO POR LIVROS
Eu sempre fui alguém de paixões efêmeras, me entediando rapidamente daquilo que amava, ou que apenas acreditava amar, mas então apaixonei-me pela leitura, por aqueles mundos distintos de palavras contadas, que pela primeira vez, acreditei ter encontrado algo permanente em uma vida de paixões passageiras. Eu me debruçava sobre livros por horas a fio, completamente extasiada por aqueles mundos.
Os livros que lia geralmente eram emprestados, ou livros antigos que alguém tinha me dado. Minha família não podia se dar ao luxo de me dar livros. Meu pai trabalhava longas horas por dia para alimentar a mim, aos meus dois irmãos mais novos e a minha mãe, que lavava roupas para fora para ajudar com as contas. Contudo, eu constantemente frequentava a única livraria da cidade, apenas para ter o prazer de ver aquelas maravilhas, perfeitamente organizados em suas respectivas estantes. Vez ou outra pegava um, o folheava para sentir aquele cheiro tão familiar que fazia-me sentir a mesma sensação que um viajante sente ao retornar para casa, a nostalgia que o faz recordar dos bons momentos que passou ali e a certeza de que poderia descansar em paz, até sua próxima viagem que era quando ele partia para a incerteza de um mundo cruel. Crueldade a qual, eu também era exposta, quando saia de lá sem um único exemplar que me servisse de vulva de escape.
Em uma dessas visitas constantes, deparei-me com um exemplar do livro "Reinações de Narizinho". Era um dos livros que tinha chegado a pouco na livraria, minhas mãos soavam e estavam um pouco tremulas quando as ergui para toca-lo, mas antes que isso acontecesse ouvi uma irritante voz vinda do fim do corredor. “O que pensa que está fazendo?” ela questionou, eu baixei as mãos e me virei assustada para a dona da voz. Reconheci Ana Alicia rapidamente, ela era a filha do dono da livraria. Estavam com os braços cruzados sob o peito e seu olhar era inquisidor, como se me acusasse de algum crime. “Eu estou apenas vendo os livros que acabaram de chegar”, me justifiquei. Ela meneou a cabeça e um pequeno sorriso malévolo surgiu em seus lábios. “Para que? Se você não vai comprá-los." Analisou-me por alguns instantes e pareceu se dar conta de algo. "Espere… Você estava tentando roubá-lo, Cris?", eu balancei a cabeça negativamente. "Não, eu juro. Apenas olhando os livros. Eu nunca roubaria nada de ninguém." Me defendi. Ela não pareceu acreditar, mas disse calmamente: "É melhor você ir embora daqui, antes que eu chame meu pai." Eu me virei e comecei a caminhar para fora da livraria, mas antes que cruzasse a porta lance um olhar tristonho para o livro. Então eu fui para casa com o pequeno coração em pedaços. Quando cheguei minha mãe passava algumas roupas, ela logo me pediu que a ajudasse, tive de engolir toda minha tristeza de uma vez só, para que ela não notasse. Ao fim de todo o trabalho ela me deu algumas moedas e beijou minha bochecha. E naquele momento me dei conta de que poderia ter o livro minhas mãos, se eu trabalhasse arduamente, eu teria o suficiente para comprá-lo.
Na mesma noite anunciei a minha mãe que a ajudaria em troca de algumas moedas e ela me disse sim. Nas semanas seguintes depois da aula, eu ia para casa e ajudava a minha mãe com o que fosse necessário, algumas vezes eu ia sozinha entregar as roupas e passava na frente da livraria. Acabei descobrindo que o livro que almejava agora estava na vitrine, parava por alguns minutos na frente da livraria e sorria para ele, como um apaixonado sorri para sua amada. E continuava o meu caminho. A noite eu me imaginava indo à livraria e o comprando, passando pelas ruas com ele completamente feliz e realizada, deixando uma Ana Alicia totalmente surpresa para trás, imaginei-me chegando em casa abrindo o livro e me entregando a ele completamente. Assim foi por noites e noites, alimentando a cada dia aquela felicidade clandestina, a qual me fazia trabalhar mais e mais no dia seguinte. Apenas para tê-lo logo em meus braços.
Um dia contando as moedas, me dei conta de que finalmente tinha a quantidade necessária para comprá-lo. Junte-as todas rapidamente em um pote, com a felicidade quente correndo em minhas veias, fui a livraria o mais depressa que pude. Estava suando e com a respiração similar a de um cachorrinho, me recompus e adentrei a livraria como um soldado que retorna vitorioso da guerra, de cabeça erguida fui ou caixa onde o pai de Ana Alicia se encontrava, o senhor Vítor. Coloquei o pote sobre a mesa e disse: "Eu quero aquele livro", apontei para o livro que se encontrava na estante. Ele olhou um pouco surpreso para o pote de moedas, depois para mim. "É um livro bem caro, mas vamos ver se você tem o suficiente. "Ele começou a conta as moedas, devagar e com muita atenção, meu coração pulsava em uma mistura de medo e expectativa, nunca antes experimentada. Sem dizer uma palavra ele levantou pegou o livro e o estendeu para mim. "Pegue, é seu agora." Eu não consegui me mexer, depois de tantas noites sonhando com aquele momento, depois de tanto trabalho ele estava ali, a centímetros e ele era meu. Seria só mais um sonho?
O senhor franziu o cenho, por eu não ter sequer me mexido. "Vamos, pegue ele é seu." Disse mais uma vez, então eu estendi os braços um pouco trêmula. Peguei o livro, passando a mão cuidadosamente em sua capa e depois o abracei forte. O primeiro soluço fez com que meu pequeno corpo magro estremece, então chorei, entre risos e lágrimas soltei um obrigada, mas não sei a quem realmente estava agradecendo ao senhor Vítor, a mim mesma, ou a um ser superior. O que sei é que saí de lá abraçada ao livro do mesmo modo que uma mulher abraça a um amante
Autor(a): hiagoferreira
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