Fanfics Brasil - Outro ponto de vista Minha Felicidade Clandestina

Fanfic: Minha Felicidade Clandestina | Tema: Literatura


Capítulo: Outro ponto de vista

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  Eu era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, muito maior do que o das meninas da minha sala, elas sim eram bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelo livres.


  Na hora do intervalo elas sorriam e contavam suas histórias do final de semana umas as outras, elas pareciam ser felizes e não ter problemas, eu queria ser como elas, queria estar lá conversando, sorrindo e feliz. Mas não era essa a realidade, eu tinha apenas a companhia das balas que diariamente carregava nos bolsos da minha blusa, enquanto chupava elas faziam bastante barulho para ver se era notada, mas elas estavam mais interessadas nas histórias dos seus finais de semana animados do que em mim.


  Eu era apenas a menina que era filha do dono da livraria, que às vezes era convidada para um aniversário, e ao invés de comparecer entregava em mãos um cartão-postal da loja do meu pai. Porque ir nestas festas? Porque dar presentes?


  Não, eu preferia assim! Cartão-postal com uma letra bonita, mas como não sabia o que escrever só dizia “data natalícia” e “saudade”.


  Como uma garota como eu faria parte daquele grupo? Estava tentando descobrir! Mas tinha uma menina que sempre vinha a mim em busca de empréstimos de livro, se eu cedesse aos pedidos dela, talvez aquele fosse o único diálogo que teríamos, então eu achava que ela deveria sentir meu desprezo, assim como muitas vezes eu sentia delas.


  Certa vez, disse a ela que tinha o livro As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato vi em seus olhos a alegria e esperança nascer, ela mal podia conter.


  Pela primeira vez, disse que podia emprestar a ela, pedi que passasse em minha casa no dia seguinte. Eu tinha acesso a todos os livros que quisesse, esse era apenas mais um que estava em minha estante sem se quer ter sido aberto. Para aquela menina que não tinha como comprar era o que havia de mais precioso, usei isso para o meu bel prazer.


No dia seguinte avistei-a janela da sala, ela caminhava depressa como se estivesse atrasada para um importante compromisso, ela me chamou ao portão, eu fui. Tinha traçado um plano, frio e cruel, mas meus dias eram assim também.


Abri o portão, olhei bem aos olhos dela e disse: “emprestei o livro a outra menina, volte amanhã”. Não falando se quer uma palavra, saiu sem olhar para trás, agora ao invés de caminhar depressa parecia contar os passos.


Por uma fração de segundos me arrependi do que havia feito, já que o livro estava o tempo todo na estante do meu quarto, mas segui em meu plano.


Como esperado voltou no dia seguinte, com a esperança maior do que no dia anterior, eu novamente dei uma desculpa, e ela foi embora. Permanecemos neste jogo de tortura por duas semanas, fez chuva e fez sol, ela sempre lá com o mesmo sorriso, parecia saber que eu mentia, mas a expectativa de ter o livro em suas mãos era maior.


Em mais um dia da minha cruel vingança estava dando mais uma de minhas desculpas, minha mãe se aproximou, ela havia notado aquela menina por vários dias vindo até a nossa casa sem se quer entrar, já logo ia embora, ficando ela intrigada com a situação foi descobrir o que estava acontecendo.


Quando percebi que minha mãe nos observando levei um susto, rapidamente perguntou o que estava acontecendo.


Gaguejei na hora de responder, tentei arrumar uma desculpa qualquer, mas minha mãe me interrompeu e pediu à menina que a explicasse tudo.


Coitada! Minha mãe ficou pasma com minha atitude, ela era uma pessoa muito boa, e por ser assim tão doce mal imagina a amargura que eu trazia no peito. Me fez pegar o livro, entregou todo o meu plano aquela menina, disse que o livro jamais havia saído do meu quarto. Vi novamente a esperança nascer no olhar daquela menina, entreguei o livro a ela como se estregasse minha felicidade clandestina, felicidade que mantinha em segredo a cada dia em que ela me chamava no portão, a final ninguém me chamava para nada, ela pegou aquele livro grosso em suas mãos pequenas, encostou em seu peito e abraçou igual minha mãe fazia quando tinha pesadelo, ela não disse uma palavra ficou em choque.


Minha mãe disse que ela podia ficar o tempo que quisesse com o livro, naquele momento vi meu jogo virar, sabia que agora era eu que ficaria em uma longa espera até rever minha quase amiga novamente.


Ela seguiu em passos lentos abraçada no meu livro, sem olhar para trás ela se foi, e eu fiquei ali a espera dela.  



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Autor(a): daniele_savedra_

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