Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Clarice Lispector
Era uma vez uma menina chamada Dora. Era uma garota gorda, baixa, sardenta, de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados e que adorava devorar balas. O que era uma pena, pois, Dora tinha um pai dono de livraria. Ela bem poderia ser devoradora de livros que tanto alimentam nossa alma e nos proporcionam viagens incríveis, sem sair do lugar. Já, devorar balas e doces prejudica nossa saúde, trazendo doenças como diabetes que pode nos deixar cegos, perder membros por amputação e até morrer por causa de mal funcionamento dos órgãos que compõem o nosso organismo.
Dora costumava presentear as colegas em seus aniversários, com um postal da cidade do Recife. Não oferecia um livro por mais barato que fosse e nem sequer os emprestava-os. E ela sabia que uma de suas colegas gostava muito de livros. E ela decidiu armar um plano mirabolante para se vingar do bullying que sofria. Casualmente Dora informou a sua colega que possuía o livro As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Sua colega enlouqueceu com a notícia e, logo se esqueceu das pirraças que fazia a Dora, encheu-se de coragem e ousou pedir o livro emprestado. Era tudo o que Dora queria. De imediato disse para a colega ir em sua casa no dia seguinte para pegar o livro. A praticante de bullying não conseguiu dormir direito de tanta ansiedade. Quando o sol nasceu ela já estava a postos na janela e olhando a cada minuto para o relógio, querendo dar um empurrão nos ponteiros para que as horas passassem rapidamente.
O momento chegara e a menina foi à casa de Dora, literalmente correndo, já que não poderia voar. Dora não a convidou a entrar e, de pronto foi dizendo que havia se enganado e o livro estava emprestado a outra colega. Mandou-a que voltasse no dia seguinte. Com o coração partido a menina voltou para casa e foi viver a angústia de querer apressar o dia seguinte. Dora ria por dentro, igual fazem os personagens malvados de telenovelas e filmes. Um risinho no canto da boca, misturado com o veneno que escorria. A cena se repetiu por dias seguidos.
A menina passou uma semana indo até a casa de Dora e, lá chegando sempre ouvia a mesma negativa e saía sem o livro nas mãos. Um dia, ela lembrava-se dele até hoje, pois era 18 de abril, dia de Monteiro Lobato e também dia do livro, ao dobrar a esquina em direção à casa daquela menina gorda e feia, mas que era dona de um tesouro que ela ansiava colocar as mãos, sofreu um tropeção diante de uma mulher. Ao levantar os olhos, ouviu um pedido de desculpas tão doce e sincero que a porrada que levou no nariz por conta do encontrão, magicamente não tinha dor alguma. Logo reconheceu quem era aquela mulher. Era a mãe de Dora. Ela a acolheu com um abraço e perguntou-a para onde ela iria. A menina narrou todo o fato e, enquanto contava para a mãe de Dora, deixou transparecer como sua alma estava ansiosa por aquela leitura. A mãe de Dora mudou de roteiro e a disse que iria lhe acompanhar, pois sabia que o livro se encontrava em casa. O coração da colega de Dora se encheu de alegria, bateu fortemente e chegou primeiro àquela residência recheada de sabedoria. Ao entrarem na casa, Dora se assustou. Parece que percebeu que daquela vez não poderia agir feito a Cuca, aplicando mais uma de suas maldades. Não encontrou saída. Levantou-se do sofá e foi em direção à biblioteca para trazer o livro até a colega. Chegando à biblioteca, com o rabinho entre as pernas, a nossa Dora “Cuca”, enxergou a possibilidade de mais uma maldade. É que lá estava Pesadelo, aquele monstro corcunda que era ajudante da Cuca. Ele falou para Dora que ela poderia jogar o livro no cesto de lixo e insistir na ideia de que o livro não estava lá na prateleira onde ele morava há longos anos. Ela gostou da ideia e logo a pôs em prática. E, com aquela cara de pau imensa, voltou até a sala e continuou afirmando que o livro lá não estava e que, na verdade, ela não se lembrava para quem o havia emprestado. A mãe de Dora já havia percebido o mau caráter que era a filha. Mesmo decepcionada, tentou segurar sua desilusão e disse para a filha:
_ Vamos até a biblioteca filha querida. Vou lhe ajudar a procurar o livro, pois ontem mesmo eu o vi na estante. Dora congelou de medo. Ela sentiu que a mãe havia percebido a mentira e a maldade que ela carregava no coração.
As duas foram para a biblioteca e a coleguinha permaneceu no sofá. Depois, resolveu se aproximar do corredor e deu para ouvir o que estava acontecendo. Parecia que era o Saci lhe empurrando para fazer traquinagem. Logo ao entrar na biblioteca, a mãe de Dora percebeu que o livro não estava na estante, mas viu que Dora estava nervosa, tentando esconder a lixeira com o pé, empurrando-a para dentro da mesa. A mãe de Dora tudo descobriu e uma lágrima de tristeza rolou em sua face. Dora se sentiu envergonhada e também chorou. Após uns minutos, sua mãe se recompôs e perguntou para Dora qual era o motivo dela agir daquela maneira. Dora, mesmo envergonhada falou para a mãe que não gostava de sua colega porque ela parecia Candoca, filha do Coronel Teodorico, do Sítio do Pica-Pau Amarelo: imperdoavelmente bonitinha, esguia, altinha, de cabelos livres e metida a besta porque morava na capital. Que aquela menina vivia fazendo bullying com ela na escola, chamando-a de gorda, baixinha, cara enferrujada, tetas de vaca leiteira e cabelo ruim para pentear. E, que como ela havia percebido que sua colega gostava de livros, resolveu castigá-la, negando o empréstimo. Dora ainda disse que estava sentindo felicidade ao maltratar a colega. Disse que ela poderia ser bonita para um monte de gente, mas que ela não tinha algo que ela, Dora, tinha aos montes: os livros. A mãe de Dora abraçou-a e chamou-a para sentarem-se um pouco para uma conversa séria. Ela explicou que era muito feio o que Dora estava fazendo. Tão feio quanto o bullying que sua colega praticava na escola. Explicou que não devemos nos vingar da pessoa, fazendo maldades e enchendo o coração de ódio. Dora compreendeu tudo, pegou o livro e disse que iria entregá-lo para a colega. Sua mãe sugeriu algo diferente. Disse que, como elas não sabiam da índole da coleguinha, não emprestariam aquele livro. Fariam diferente. Iriam até a livraria do pai de Dora e pegaria um exemplar novo para presenteá-la. Seria um presente de desaniversário, bem mais valioso que os de aniversário e diferente dos repetidos postais distribuídos por Dora todos os anos. A menina quase se denunciava que estava no corredor ouvindo tudo. A felicidade era tanta que parecia ser maior que a de Liesel Meminger, de A Menina que Roubava Livros, quando roubou seu primeiro livro ao retirá-lo da fogueira feita pelos Nazistas.
A menina sentiu que o Saci havia dado um empurrão nela em direção à sala. Ela voltou bem pensativa para o sofá. Ela se deu conta o quanto era feio e fazia a colega sofrer ao se divertir praticando bullying com Dora. Decidiu que nunca mais faria isso e que seria amiga de Dora e a ajudaria a alimentar-se de forma saudável.
A não ser o Saci, ninguém nunca soube que alguém ouviu aquela conversa que aconteceu na biblioteca. Dora e sua colega, aprenderam com os erros a comportarem-se de forma correta, respeitando o próximo.
Autor(a): vitoria_regia_
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Loading...
Autor(a) ainda não publicou o próximo capítulo