Fanfic: DIFICULDADES TAMBÉM ENSINAM A AVANÇAR | Tema: FELICIDADE CLANDESTINA

DIFICULDADES TAMBÉM ENSINAM A AVANÇAR

   Alguns adultos pensam que crianças objetivam apenas brincar, comer e dormir. Lhes asseguro que não é bem assim, evidente, que existem crianças menos sonhadoras que outras, porém todas tem seus objetivos e desejos a serem alcançados. Anseios diferentes dos adultos, porém, não menos importantes. Me lembro com muita clareza de um desejo que tive em minha infância, poderia descrevê-lo como avassalador, para que assim tenham uma leve ideia do quão importante foi para mim.

  Foi por volta de 1931, quando o sr. Monteiro Lobato, meu escritor favorito, lançou sua nova obra “As Reinações de Narizinho”. Minha saga começou aí.

  Os jornais, nessa época eram apenas jornais impressos, anunciavam em suas colunas de anúncios, o lançamento do livro. Na única livraria da cidade, por onde eu passava ao ir para a escola, haviam cartazes anunciando que o livro já estava disponível para a venda. Meu coração de tanto desejo de possuir um exemplar daqueles, chegava a doer. Não encontrei coragem para pedir ao meu pai que comprasse; meu pobre pai, trabalhava o dia inteiro e o que conseguia era apenas suficiente para as necessidades básicas da família; eu não poderia incomodá-lo com esse assunto. Mas sabia que precisava ler aquele maravilhoso escrito, e impotente diante da situação a minha angustia apenas aumentava.

  Uma semana já havia se passado e mesmo assim eu continuava na minha rotina, todos os dia na volta da escola parava frente a livraria e ficava por um tempo observando e torcendo que um milagre acontecesse.

  E aconteceu. Enfim, alguém me notou. A Gabriela me notou.

  Gabriela era a filha do dono da livraria e, também aluna na mesma escola que eu; duas turmas a minha frente. Ao me ver ali parada admirando o cartaz, perguntou se eu queria ler, imediatamente disse que era o que eu mais queria. Então, me disse que tinha um exemplar ofertado como brinde pela editora. Minha mente vagou, e quando retornei ouvi a frase: te empresto! Aceitei de imediato. Em seguida Gabriela se retirou e logo após retornou com o livro e me entregou.

  Saí da livraria realizada, enfim havia acontecido algo maravilhoso para mim, naquele momento eu era uma privilegiada por ter uma rara oportunidade de alcançar algo inacessível para alguém com baixo poder aquisitivo.

  Era meio dia de sexta-feira quando recebi de Gabriela o livro. Embora, fosse um livro com muitas páginas, concluí minha leitura ou meu “deleite” no fim de semana, aliás, li duas vezes inteirinho me deliciando com cada palavra ali escrita, não saberia explicar em palavras o tamanho da emoção que senti.

   Na segunda-feira ao chegar na escola, fui descobrir que anterior a frase “te empresto”, dita na sexta-feira havia algumas condições as quais não ouvi no momento, pois conforme disse, minha mente vagava. Passei o mês inteiro servindo de serviçal para a Gabriela, fazia suas tarefas, carregava sua mochila, entregava todo meu lanche para ela e ainda servia de fantoche para ela e suas amigas malvadas.

   Asseguro que valeu a pena. Valeu muito a pena, porque foi ali, ou, a partir dali que comecei escrever minha própria obra, a qual chamei de “Resiliência”, nela, faço relatos bem humorados sobre as dificuldades diárias enfrentadas por pessoas menos favorecidas economicamente. Encorajo meus leitores a viverem felizes mesmo em situações adversas; falo, também da importância de não guardar amarguras no coração e que aprendam a tirar proveito de cada oportunidade que a vida trás, assim....de repente. Como se Deus de repente abrisse uma porta e dissesse: Vai lá, tua hora chegou! Vai e brilha! A luz é você.

  Conforme disse, meu desejo de criança, talvez, bobo aos olhos de alguns adultos, pois consistia apenas no desejo de uma criança de ler uma obra literária recém lançada, para mim, portanto, era muito importante e mudou o curso da minha vida.