Fanfic: Felicidade ainda que tardia | Tema: Felicidade
Não era muito bonita, mas pensava ser, com seu corpão de moça grande, toda trabalhada, montada no salão, com suas roupas de grife, gastava todo mês uma pequena fortuna com sua beleza; também, seu pai era o dono da maior e melhor loja da cidade; essas que tem desde fumo de rolo até celular iphone, sem esquecer da roupas de grife, que eram vendidas por sua mãe; mulher mais elegante da cidade, depois da primeira dama.
Enquanto isso, nós todas ainda sonhávamos com o primeiro soutien e a primeira calça jeans. Porém, toda fartura de nada nos servia; quando nos presenteava mandava presentes virtuais ou likes no face, até porque todos tinham celular; eu digo quase, porque eu não, mas facebook sim, minha amiga fez no celular, até aumentou minha idade, fiquei com 18. Só que não!
Estudávamos todas na única escola estadual da pacata cidade do interior da Paraíba.
Certo dia, não sei como, ela ficou sabendo do meu grande sonho; falando com ar superior que iria ganhar um celular novo desses top, estilo iphone e que se eu fosse a sua casa no outro dia ela me daria o celular velho juntamente com uma calça jenas que não estava mais gostando, e logo avisei que amanhã cedo estaria lá; percebi o desdém, mas nem liguei, o prêmio do dia seguinte valeria, seria a recompensa.
À noite quase não dormi, fiz planos, quantas fotos postaria com esse celular, vestindo a mais almejada calça jeans, assim, adormeci, sonhei vestida na calça, fiz uma prece, agradeci.
Acordei, rapidinho estava pronta, a ansiedade era tanta, não alimentei o corpo, só a alma, desejosa em realizar o sonho impossível, dada a carência de vida que sempre tive; pais lavradores, o pouco que ganhava, o sustento da família consumia.
Cheguei à sua casa, bem diferente da minha, era enorme e muito linda; amarela, parecia casa de novela. Toquei a campainha, a empregada atendeu, do quarto ela gritou que eu entrasse, fiquei boque aberta com tanta riqueza – era tudo! Quanta riqueza!
Por fim, me pediu que viesse amanhã, pois a calça estava na lavadeira e o celular ainda estava procurando, havia ganhado o novo, que fez questão de mostrar-me, não sei onde guardei o outro, me disse ela.
O caminho de volta parecia bem mais longo, tamanha minha tristeza, deveria ser proibido rico mostrar ao pobre sua riqueza, acredite, até banheiro tinha dentro do quarto, bastava abrir a porta do guarda-roupas, e estava lá dentro, a coisa mais linda, um luxuoso banheiro, com banheira e tudo. Estava tão distraída, que tropecei, levantei e pensei, assim como caí e já estou de pé, amanhã será um novo dia. Voltarei.
Assim espantei a tristeza, no caminho contemplei as flores da pracinha que parecia ignorar o calor do sertão, que tantas vezes, até o meu peso reduziu, fiquei até mais bonita; morena, cabelos longos, pele bronzeada.
Certo dia quando estava à porta de sua casa após ouvir mais uma resposta negativa; perguntei-lhe o porque de toda essa humilhação. Ela olhou de cima com desdém e disse que tinha muita raiva, pois desejava ser naturalmente linda como eu, grelei os olhos (verdes), não percebi que sua mãe se aproximava, nos convidou a entrar, assustada entrei; expliquei o que estava acontecendo, a mãe envergonhada pela atitude da filha nos conduziu até o quarto, abriu o guarda-roupas, e disse que eu poderia escolher a calça; com movimentos rápidos, como famintos da seca que deseja saciar a fome, provei uma a uma, até esqueci do celular, porém a única que me coube foi a mais velhinha, rasgada em uma das pernas, era de antes, quando ela era magra, parece que foi feita para mim de tão perfeita. Estava à admirar-me no espelho, quando a mãe dela falou: - Filha, achei o celular, entregue-o para sua nova amiga, porque não fazem uma selfie juntas?
E foi assim que saiu minha primeira foto no velho celular novo, ela com a cara de quem comeu e não gostou, eu a mais saciada e bela dos mortais, essa foi a primeira, mas não a única felicidade ainda que clandestina...parece que eu já sabia, difícil aceitar.
Autor(a): ciceraramos
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