Fanfic: Ilícito Deleite | Tema: Felicidade Clandestina

Desde que “me dei por gente” percebi, que haviam categorias de crianças nos ambientes que me circundavam, tinham as ricas, as problemáticas, as populares, as bonitas, inteligentes, e as neutras, aquelas que não chamam a atenção por nada a não ser que façam algo de diferente, o que é bem improvável, para um perfil geralmente composto por tímidos e era ali que eu me encaixava. A aluna mediana, não era brilhante, mas não reprovava, não era bonita, mas não apavorava. Cresci com o estigma de ser mais ou menos e não ter muitos amigos, então entendi que precisava ter algo para barganhar a admiração dos demais.

Passei de aluna mediana à pupila dos professores, eu era requisitada nos grupos, e consultada para tirar dúvidas, fazer um trabalho ou “passar a cola”. Havia uma aluna, ela era bonita, popular, razoavelmente inteligente e começamos uma amizade aparentemente desprovida de interesses, sim porque aos 15 não somos capazes de enxergar nossos desejos. A amizade se arrastou por alguns anos, durante os últimos do fundamental e todo o ensino médio. Era bem equilibrado, eu a ajudava com as matérias e ela me cedia sua companhia para falar sobre como driblar o encontro com o sexto paquera, no mesmo local que havia marcado com o sétimo, enquanto ouvíamos as músicas preferidas, dela é claro!

Eu queria ser como ela, mas não conseguia, apesar de conviver tanto, queria saber qual a sensação de ser perfeita, de não ter problemas com nada, e ficava impactada com as reclamações por coisas míseras, como o toque do telefone, um artigo de luxo pra minha realidade. Me debruçava sobre cada aspecto da vida dela, como conseguia rapazes bonitos, como dançava a noite toda com aquele salto enquanto eu virava o pé com chinela de dedo, o que me faltava?

A escola se foi, veio a faculdade, uma nova fase da vida, mantivemos contato apesar de estarmos em cursos diferentes, mas a instituição era mesma, tive novas experiências até que entendi quem eu era, ou quem eu deveria vir a ser. Então a partir disso, as coisas se inverteram drasticamente, pois a menina bem sucedida, não decolou na carreira, nem no casamento precoce, já eu, tirei o foco do mundo exterior, olhei pra dentro e me vi alguém incrível, que não precisava mais mendigar a companhia dos outros em troca de favores, pois a minha, me bastava. Não me deliciei com o fracasso alheio, mas havia algo de ilícito massageando meu ego. O pensamento de que eu havia encontrado sozinha, tudo aquilo que muitos, obstinadamente ao longo da vida buscam fora, entretanto, encontra-se dentro. Revelar o segredo, eu não vou, pois cada um tem um caminho a trilhar até que encontre o certo. É satisfatório e chega a beirar o presunçoso, mas hoje me dou o luxo pois por muito tempo neguei o que merecia. Esse capítulo se encerrou.