Fanfic: fanfic felicidade clandestina | Tema: felicidade distante
FELICIDADE DISTANTE
Coitada daquela menina! Gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Todas as outras meninas caçoavam, mas paravam de rir quando notavam seu busto grande enquanto elas eram achatadas. E ela ainda apelava usando sutiãs com bojos enormes. Era humilhante, mas havia ainda um motivo maior que fazia com que houvesse mais inveja dela: seu pai tinha uma sorveteria.
Todos (pelo menos eu) invejavam aquele lugar cheio de freezers e geladeiras com aqueles potes enormes de sorvetes de todos os sabores. Mas ela quase não aproveitava, pois apenas bebia água com gás e saia pelas ruas de recife com suas garrafinhas na bolsa. E com isso até nós padecíamos, pois nos aniversários era o que ela levava de bebida, e para não fazer desfeita um pouquinho bebíamos.
Mas no fundo ela sofria. Não por ser feinha ou gordinha, ou porque era motivo de risos para alguns e sim porque lá no fundo de sua alma a tristeza a corrompia. Então um dia quando fui a sua casa emprestar um livro “As reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato que ela disse que tinha e a vi lá, olhar longe e preocupado. Mas, mesmo assim não perdeu a oportunidade de me dizer não ao empréstimo com a desculpa de que estava na casa de uma amiga.
Como ela não disse nem que sim e nem que não, em minha ânsia de ler nem notei a mentira, e muito menos me importei com seu estado de espírito. Ela sempre foi assim estranha, então acreditei estar em seu estado normal. Assim começou meu suplicio de humilhações na ânsia desesperada de ler aquele livro maravilhoso. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses.
Fiquei indo e vindo por aquelas ruas de recife peregrinando de minha casa até a dela cheia de alegria e esperança, a qual desvanecia com o costumeiro: emprestei de novo, você demorou pra vir! Há, meu pai emprestou pra fulano!
Mas, mal sabia eu que aquilo era seu plano diabólico e ao mesmo tempo desesperado de ter alguém pra descarregar sua tristeza amiga. E isso descobri um dia quando ouvi de uma prima que sobre a história do gato amarelo dela. Ela o amava, e enquanto brincavam o bichano correu pra rua e foi atropelado. Ela se achou culpada e nunca mais se recuperou. Por isso vivia sempre triste e cabisbaixa, com aquele olhar lá longe.
Depois desse dia fui a sua casa e levei uma caixinha pequena. Quando ela abriu a porta e me olhou pronta a dizer que o livro estava na casa de fulano ou cicrano, abri a caixinha. Ela riu e chorou, mas as lágrimas não eram de tristeza e sim de alegria. Arrumei um gatinho amarelo e trouxe na caixa de presente para aquela garota baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados.
A partir desse dia tudo mudou. Ela começou a ter um sorriso mais largo e o ar de tristeza em seu sorriso mudou. Só não mudou minha vontade de ler o livro do monteiro lobato, pois ela não o tinha coisa nenhuma. Menina mentirosa. Se eu soubesse que era assim to cruel tinha-a deixado lá sofrendo por causa do gato.
Hoje me sento na rede e a balanço pensando naquele livro que até agora não li. Hoje não mais sou uma menina esperançosa e sim uma mulher triste e com o olhar vazio de saudades do livro que nunca li.
Autor(a): karimy
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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