Fanfics Brasil - Te conhecendo Felicidade Clandestina

Fanfic: Felicidade Clandestina | Tema: Felicidade


Capítulo: Te conhecendo

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FELICIDADE CLANDESTINA


Lucy era a filha do dono da padaria que adorava se abarrotar com as guloseimas da loja do pai. Ela adorava ser a “diferentona” dos amigos da mesma idade, mantinha um estilo exótico e desprendido, com seu corpo esguio e madeixas onduladas. As outras meninas morriam de inveja de Lucy, que aparentemente buscava sempre mudar a aparência e chamar a atenção.


Nas festas, ela provocava com seus inúmeros pratos que levava da padaria, porém, estava sempre magrinha e causava estranheza. Todos moravam num bairro de classe popular e a família da Lucy, possuía melhor condição financeira, com isso, a menina sempre sobressaía nas reuniões e grupos. Apesar dela participar de todos os eventos do bairro por conta da popularidade da família, Lucy não tinha amigos e fazia questão de se manter longe de todos, alfinetando com o que podia usar, no caso, as delícias da padaria.


Claro, que na infância e adolescência todos adoravam curtir uma alimentação a base de doces e quitutes, porém, além de não ser uma prática saudável, essas famílias não disponibilizavam esse consumo o tempo inteiro, apenas em festinhas ou encontros. Na verdade, a padaria vendia suas tortas e doces mais externamente da região, do que propriamente no bairro, mas como o atendimento deles sempre estava bem agradável, os pãezinhos do dia a dia tornavam o vínculo bastante afetuoso.


E assim, a vida continuava em seus hábitos locais, como a ida para as escolas, frequência na igreja, barzinhos, cada um em suas relações sociais e pessoais. E a jovem Lucy, a cada dia mais soberba e distante daquele grupo. Fato que chateava os seus pais, pois ali era uma comunidade em que os recebiam muito bem e a família cresceu no bairro. E não por ser dono dos negócios que os tornavam ricos e desagradáveis, mas era um espaço que os permitiam manter seus negócios com taxas de impostos reduzidos. Continuavam pobres, mas uns pobres com uma condição melhor, sem tanta dificuldade.


Enfim, Lucy não fazia a mínima questão de nos conhecer e conversar com a turma que estava sempre unida. A gente até tentava puxar assunto, mas ela nem aí, nos ignorava. Com o tempo a gente passou a ter raiva dela porque ela só aparecia com aquela magreza, cara pintada e comendo. Gente! Ela comia o tempo todo, passava em nossa frente e sumia depois. Tinha o prazer de nos ver e entrar na padaria, pegar alguma coisa e comer.


Certa vez, ela me deixou com água na boca e juro, não resisti e fui ao encontro dela, puxar aquela conversa para me aproximar e quem sabe conseguir um pedaço daquele sonho. Ela simplesmente, me olhou nos olhos e abriu as mãos fazendo o doce cair no chão. Não acreditei. Tudo bem dela ter percebido minha intenção, mas soltar um sonho no chão foi surreal. Preferi acreditar numa nova conversa, a esperança estava no ar e conseguir algum doce de graça estava em meus propósitos. Meus pais estavam desempregados e eu não podia nem pensar em gastar o pouco dinheiro que nos restava à toa. Tive que apelar.


No dia seguinte fui lá na padaria, como sempre, ela catou um doce, uma broinha e ficou comendo na minha frente. Fiquei falando sozinha e ela sem expressão alguma me ouvia, fui contando sobre as dificuldades que estávamos passando e por fim, ela me chamou para lanchar no outro dia. Numa única frase, ela me conquistou e achei que tínhamos implicância com a Lucy sem motivos, pois ela era legal e compreensiva.  


Saí radiante, esperançosa, aquele anseio por um doce misturava a angústia e desejo, me fazendo pular e cantar pelas ruas do bairro. Não comentei com a turma, pensei que deveria ser aos poucos a aproximação, afinal, passamos a odiar ela.


O dia seguinte chegou, Lucy estava serena e tranquila me esperando na porta da padaria, comendo uma palmier, e eu emocionada com um lanche do lugar mais colorido do bairro, a padaria que fazia tortas, trufas, pães e biscoitos. E a emoção foi por água abaixo quando ela disse sobre o forno estar em manutenção. Estranhei porque estava sentindo cheiro de pão assando, mas como não entendo de padaria, respeitei. Continuei a conversar com ela, num monólogo, ela só mexia a sobrancelha e quando mexia. Eu era a única menina que ficava ao lado dela e esses lanches foram remarcados inúmeras vezes. Eu acreditava nela, mesmo que ela não vislumbrasse um afeto por mim, só pelo fato de estar no mesmo local e me ouvir. Criei uma rotina com ela, confundindo com amizade e a expectativa de experimentar os doces, porém, ela realmente sentia desprezo por mim, tinha o prazer de me ver querendo um doce e a condição que minha família estava passando e ela estar numa posição melhor que a minha. Eu fui escolhida como escória dela. Tinha dias que ela falava ter passado mal de tanto comer, outros que alguns doces foram para o lixo e eu acabei tendo obsessão por estes doces de tanto que ela me enrolava.


Até que um dia, quando eu estava à porta da padaria, percebi que ela havia vomitado e a mãe estava socorrendo, mas ao mesmo tempo preocupada e chamando a atenção. Descobri que ela nem gostava de doces e nada da padaria, ela comia forçada só para me diminuir e quando não forçava o próprio vômito.


Ao meu ver, a mãe que nunca entendia as nossas tardes e pelo visto os vômitos recorrentes buscou explicações sobre nossas conversas e o que acontecia para Lucy passar mal. O que foi uma surpresa pra mim.  Eu comecei a entender toda a situação e contei pra mãe dela como era a nossa relação. A mãe pareceu estar muito sentida e exclamou: Você nunca falou que convidaria alguém para lanchar? E que tantas mentiras foram essas? Por que você convidava então?


Nesse instante, senti pena da mãe dela em ser tão boa com uma filha perversa e como me prestei a uma amizade, me seduzindo por comida. Entretanto, a mãe tentou compensar essa crueldade da filha comigo e me ofereceu uma mesa de lanches e que pudesse levar para casa também aos meus pais. Me sentei a mesa, comi e separei alguns quitutes, sem entusiasmo, porque custei a entender o motivo da Lucy ser tão maldosa. Ela não passava necessidades, seus pais eram bons, o negócio da família fazia sucesso e ela não queria ser amiga de ninguém. Não conseguia digerir essa relação, apenas entendi o motivo dela ser magra, na real, ela nem comia nada.


Os dias foram seguindo e o armazenamento das lembranças me fizeram buscar mais alguma coisa para justificar o comportamento da Lucy. Ela não tinha motivos aparentes. Como pode ela ser feliz com a infelicidade dos outros?


Procurei a mãe e conversamos sem a presença dela. A mãe muito carinhosa me contou que o sonho da Lucy era ter irmãos, pois nada daquilo lhe preenchia e na cabeça dela, ela foi castigada em ser filha única. A mãe não podia mais engravidar por complicações no parto dela. E assim, ela criou um desapego das pessoas em geral, querendo que elas também sofram, resumindo sua felicidade clandestina. Questionei sobre adoção e ela disse que estava providenciando isso, mas não sabia da gravidade em que Lucy se encontrava.


A partir daí, retornei ao convívio dos demais amigos e me afastei da família, perdendo interesse nos doces e quitutes, admirando o meu sagrado pãozinho. Quando alguns anos depois, reconheci em uma gordinha, sardenta e cabelos desgrenhados acompanhada de uma outra menina de quase a mesma idade e bustos grandes cheios de bala, um sorriso e uma levantada de sobrancelha que tanto me atormentou. Era Lucy e sua nova irmã. A mãe conseguiu adotar uma menina delicada e alegre que trouxe a felicidade no rosto da filha.


Lucy acabara com a felicidade clandestina diante as suas dificuldades, ela transformara a sua felicidade em algo vivo, incandescente e se rodeou dos amigos, se divertindo com os doces e quitutes que continuava a levar nas festinhas e eventos do bairro.



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Autor(a): ana22

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