Fanfic: Felicidade compartilhada | Tema: Felicidade

Onde foi parar o livro? Eu vivia a inventar desculpas para achá-lo e novamente viver aquela felicidade clandestina, felicidade somente minha.

No dia seguinte cheguei radiante na escola e ela de longe me observava com um olhar disparador de quem transpirava ódio.

Por um tempo eu me sentia amedrontada, porém quando me lembrava do livro uma força estranha tomava posse do meu corpo.

Quando as outras meninas souberam do acontecido, ficaram estritamente felizes. Fizeram ainda mais alvoroço.

Aquela menina que antes usava o que tinha para nos maltratar, agora estava no seu canto quieta como quem planejava algo maquiavélico.

Por um estante me passou pela cabeça que aquele livro, e me lembrei que aquela garota usava-o para que alguém estivesse atrás dela o tempo todo. E imaginei como seria triste a vida dela, uma garota sem amigas, sozinha, rodeada de coisas, mas sem felicidade.

Voltei para casa e finalmente abri o livro, aquele livro grande que tanto sonhei ler. Na primeira estrofe li: “NUMA CASINHA BRANCA, lá no Sítio do Picapau Amarelo, mora uma velha de mais de 60 anos. Chama-se Dona Benta.
Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando:

– Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto…”

Parei a leitura e novamente lembrei-me da dona do livro, pensei como ela seria triste por viver tão sozinha.

Fechei o livro e fui a casa dela. Chegando lá ela estava sentada a beira da varanda com um olhar longe, como se estivesse em outro mundo. Talvez estivesse pensando em um plano contra mim e as outras meninas da escola. Mas eu teria que mudar aquela situação.

Encostei perto dela, coloquei uma de minhas mãos no seu obro e contei que ela deveria ver algo comigo. Levei-a até minha casa, peguei o livro, abri em sua frente e comecei a ler em voz alta.

Ela, espantada, parecia que nunca ouvira uma história antes. E cada trecho que eu lia ela arregalava mais os olhos como num gesto de prazer, uma felicidade que antes era clandestina a mim, e agora tão íntima a nós duas...