Fanfic: Balanço Clandestino | Tema: Conto de Clarice Lispector "Felicidade clandestina"

               Éramos quatro amigas em busca de uma aventura para sairmos do tédio que por muitas vezes nos circundavam. Maria e Renata eram as loirinhas magrelas, pálidas e de veias esverdeadas à mostra, minha irmã Helena era a lider, por ser a mais velha do quarteto sempre dizia o que devíamos fazer ou de que brincaríamos. Eu? Eu era a risonha, baixinha, negra e de cabelos eternamente assanhados e as vezes pés cinzentos, não gostava muito de tomar banho (rsrs), mas deixemos isso de lado pois o fato ocorrido nada tem a ver com meus cuidados higiênicos de infância.

                Certo dia, procurando algo interessante para brincarmos, descobrimos um balanço na casa vizinha que era separada apenas por uma cerca de madeira. Ah! Morávamos todas na mesma rua e todas as reuniões aconteciam em minha casa, devido minha mãe trabalhar durante todo o dia no hospital da cidade, aí tinhamos mais privacidade para nossas aventuras e segredos. Quando vimos aquele balanço sozinho, amarrado em uma mangueira alta, logo despertamos o desejo de nos balançarmos, brincamos ali por um bom tempo até que ficou sem graça, mas o que poderia fazer aquelas cordas envoltas em uma madeira voltar a ter graça?

                 Eureca! Tive uma ideia brilhante e arriscada para dar adrenalina e suspense à brincadeira. Havia uns galhos altos na mangueira que daria para pularmos nele depois que o balanço estivesse nas alturas, quanto mais alto fôssemos arremessadas, mais chances teríamos de nos agarrarmos aos galhos e pular no chão. Foi mirabolante minha ideia, a prosposta passou pela lider, minha irmã Helena, que prontamente deu seu aval para que começássemos a brincar. Passaram-se dias nessa algazarra, até os moleques da rua que não gostavam de brincar com as garotas chatas e que riam de tudo, aderiram à brincadeira, só tinha um problema, os pais não faziam noção do que suas filhas aprontavam enquanto eles trabalhavam. A "dona" do balanço era nossa professora da 4º série, atual 5º ano e amissíssima de nossas mães, apenas minha irmã por ser mais velha não estudava com ela, mas já havia estudado no ano anterior e sabia quem era a "fera"

                Era como um pressentimento aquela tarde de sol, tudo parecia trânquilo, quando de repente vejo à porta de sua casa, minha professora Clara, estava olhando pra todas nós, mãos à cintura, ah!aquele olhar, jamais irei me esquecer. Não acredito, o que esssa mulher faz em casa essa hora da tarde? Era para estar em casa, até porque nossa escola era em frente a casa dela, éramos estratégicas, escutávamos tudo, até o antigo apito antes das atuais cirenes.

                 Nosso balanço clandestino estava agora ameaçado por nossa educadora. Iria ela nos denunciar ? Claro! A brincadeira para os adultos era de extrema perigosa, não demorou muito para todos os pais ficarem sabendo da nossa aventura escondida naquele balanço que foi covardemente cortado juntamente com aqueles galhos onde tanto nos fizera feliz em nossa amada criancice. Restou-nos apenas as lembranças destes dias de voos livres.