Fanfic: O melhor de mim mesmo | Tema: É preciso aceitar as pessoas como elas são

Ele era gordo, alto, cabelos castanhos, olhos azuis e usava óculos fundo de garrafa. Era quieto, envergonhado, enquanto nós todos éramos bagunceiros e fazíamos bullying com ele. Como se não bastasse, era inteligente e pertencia a uma família de classe média alta.

Era dono de um sorriso lindo e contagiante. Não ligava para as brincadeiras de mau gosto que fazíamos com ele. Mas possuía o que qualquer criança gostaria de ter: uma mãe dona de uma loja de brinquedos.

Nas festas de final de ano da escola, fazia questão de nos presentear com os melhores brinquedos da loja da sua mãe.

Quanta generosidade em uma só pessoa! Ele todo era pura simplicidade. Como esse menino poderia gostar de nós que fomos tão egoístas e cruéis?!

Na minha ânsia de saber qual seria o brinquedo que iria ganhar naquele dia, acabei esquecendo as humilhações que fiz ele passar durante o ano, e mesmo assim, ele continuava a distribuir os presentes a turma, com muito amor e carinho.

No dia seguinte, fui à sua casa. Ele morava numa mansão, e não numa casa simples de madeira como eu. Muito educado, convidou-me para entrar. Pedi desculpas pelos constrangimentos, e olhando nos meus olhos, disse-me o seguinte: corpo, dinheiro e beleza não são tudo nessa vida, mas caráter, honestidade e dignidade sempre. Surpresa pela humildade dele e envergonhada pelos meus atos, voltei para casa refletindo sobre o que ele havia dito.

Mas não ficou simplesmente nisso. No dia seguinte, a professora resolveu fazer um trabalho em dupla, e por ironia do destino, tive que me juntar a ele. Depois de ter refletido sobre as minhas atitudes, aproveitei o momento oportuno para me aproximar e me desculpar novamente. E desde então, nos tornamos amigos.

Passou-se alguns dias, o menino ficou muito doente. E então procurou ajuda de um médico que diagnosticou hipotireoidismo (uma disfunção na tireoide, glândula que regula importantes órgãos do organismo).

Na escola, os colegas continuavam fazendo bullying, chamando-o de “gorducho” sem saber que o menino estava passando por problemas sérios de saúde.

Então, o menino precisou afastar-se da escola por um período, e eu aproveitei o momento para conversar com os colegas a respeito do que estava acontecendo. Todos ficaram em estado de choque e sentindo-se culpados. Foi aí que decidimos preparar uma festa surpresa para quando ele retornasse.

Nesse meio tempo, ele iniciou o tratamento com uma nutricionista que o ajudou a mudar seus hábitos alimentares e a perder peso. Ele não se importava em ser gordo, nem com o que os outros falavam a seu respeito, pois ele aceitava-se do jeito que era.

Passaram-se os dias, ele retornou a escola. Muito abalado com a situação e sem desconfiar de nada, chegou à sala de aula e se deparou com uma grande festa organizada pelos colegas.

Muito emocionado pelo gesto de solidariedade e de carinho dos colegas, o menino começou a chorar e disse: obrigado por me aceitarem do jeito que sou.

“Não era mais um menino fazendo-se aceitar, e sim um homem mostrando ao mundo o melhor da vida”.