Fanfics Brasil - Boa convivência, ou não? "Felicidade Clandestina"

Fanfic: "Felicidade Clandestina" | Tema: Clarice Lispector


Capítulo: Boa convivência, ou não?

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Assim como eu era a menina que ela queria ser, considerada 'bonita' pela maioria dos colegas, mal podia ela imaginar que eu também teria ciúme do que ela representava na sala de aula. A garota que tinha tudo que o dinheiro podia comprar. E eu a garota que tinha tudo que o dinheiro não pode comprar. Opostas. E, ao invés de nos juntarmos como opostos complementares, tivemos vários momentos em que todas essas diferenças bateram de frente.


Logo após a situação que ocorreu com o livro, ela veio me pedir desculpas. Pensei, porque? Senti que aquelas eram lágrimas de crocodilo, mas ao mesmo tempo me passavam muita sinceridade. Ela reforçou que poderia ficar com o livro o quanto tempo quisesse. Será alguém capaz de mudar de atitude da noite para o dia? Eu desconfiei, obviamente. Aceitei suas desculpas da boca para fora. Mas deste momento em diante, passamos a ter uma relação até amigável. Enquanto isso eu ia lentamente lendo/namorando o livro que ela me emprestara.



Começamos a conversar mais frequentemente durante os intervalos da aula. Até que um dia enquanto a professora aplicava uma prova, reparei que ela foi uma das primeiras a terminar, e depois ficou encarando nosso colega que todas as meninas eram apaixonadas. Este garoto não tinha nada de especial, ficava quieto a maior parte do tempo, e nem bonito era na minha opinião. Porém as garotas nesta idade tem uma certa competitividade que nós já conhecemos. No momento que ela percebeu que eu a encarava, virou o rosto para em uma tentativa tosca de disfarçar. Mas eu já havia percebido: ela o fitava com olhos amorosos. A partir disso ela começou a cada dia mais se aproximar de mim, isto em questão de pouquissimos dias, até que ela me fez um pedido.



Pediu que eu conversasse com o menino em seu nome, e pedisse se ele teria algum interesse em trocar mensagens com ela. Explicou-se, dizendo que não teria coragem. E eu, que à essa altura mal me lembrava do acontecimento do livro há pouco tempo atrás, concordei. No final da aula, enquanto todos guardavam seus pertences na mochila, fui falar com o garoto, e no momento que comecei a falar sobre ela, ele me olhou com uma cara de desprezo. Mal me deixou terminar minha frase e falou que não trocaria mensagens com ela. Neste momento, ela, que estava no fundo da sala, passou rapidamente por nós e saiu da sala quase correndo. Não sei se foi chorar lá fora ou o que aconteceu. Sequer sei se ouviu a conversa.
No dia seguinte, a historia da "garota feia tentando conquistar o garoto interessante" havia se espalhado como um vírus. Até que alguém foi confirmar a historia com ela. Ela comentou que em momento algum havia pedido que eu mandasse tal recado. Agiu como se eu fosse uma louca que inventa historias. Lembrei da situação do livro, e automaticamente a verdade me veio à tona. Ela não havia mudado tanto assim. Eu não quis dar ainda mais repercussão à historia, por isso não falei nada com ninguém.



Mas assim como a maldade, a inveja e a vingança também tem sua força. Cheguei em casa de meio dia. Olhei para o livro. Vi nele a imagem da garota. Olhei para as páginas. Rasguei tudo, com vontade, sentimento de fúria aumentava a cada pagina destruída do livro que eu amava. Uma tentativa desesperada de atingi-la. No outro dia levei o livro para a escola, coloquei na frente dela e com uma cara irônica, disse que meu cachorro havia comido, o que era óbvio que era mentira, tanto pela minha cara debochada quanto pelo formato dos rasgos. Ela simplesmente não falou nada.



No final deste mesmo dia, o garoto veio conversar comigo, pedindo desculpas por toda a situação causada, e começou a me mandar várias mensagens pela Whatsapp, aproximando-se de mim. E assim, sem querer, eu machuquei ela onde doía mais: ela não poderia competir com uma das garotas mais bonitas da sala.
Dor, decepção, perdas: eu perdi o livro que amava, e ela o garoto que amava. Criamos feridas umas nas outras. E qual vantagem tivemos?



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Autor(a): eduardawildnerjohner

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