Fanfic: UMA DIFÍCIL LIÇÃO | Tema: ESCOLA

Eron era um menino lindo, no alto de seus 9 anos, com cabelos cor de ouro, olhos pequenos, verdes e levemente puxados, sorriso largo e contagiante. Era muito amado por todos que o conheciam, sempre amoroso e educado, dedicado nos estudos, adorava conversar com as pessoas mais velhas, principalmente os “velhinhos” como gostava de enfatizar. Tinha uma vocabulário diferente, sem gírias nem palavras rudes, sabia como cativar todos a sua volta. Mas algo havia em seu semblante nos últimos dias, estava menos “conversador”, respondia somente quando provocado, não era o seu normal.

Sempre que retornava da escola e questionado sobre como havia sido seu dia, respondia “tudo bem”, sem detalhes, tão pouco empolgação. Vez ou outra fazia perguntas aos pais sobre seu comportamento e se os mesmos o amavam, parecia procurar aceitação. Mas o que teria acontecido com aquele menino  alegre, amoroso e falante ao qual todos elogiavam?

Aos poucos foi-se percebendo que o círculo de amigos havia diminuído. Que as referências à professora eram raivosas, e a dedicação que anteriormente tinha aos estudos, estava em algum lugar lá longe.

Logo revelaram-se os fatos que possivelmente mudaram o comportamento de Eron.

Certo dia em conversa com alguns colegas, surgiu o comentário de que a professora não gostava de Eron e que tudo que ele fazia era desmerecido por ela, que eles, não entendiam  o comportamento da professora, pois não viam atitudes de Eron para que ela o tratasse de forma tão diferente  e por vezes grosseira. Os pais tentaram amenizaram as declarações dos colegas, mas estes falaram de que “a professora tinha um discurso para os pais e outro para os alunos”.

Chegada a hora da conversa, Eron relatou tudo o que havia acontecido e consequentemente as palavras proferidas pela professora à ele, na frente de todos os colegas. Ela tinha dois alunos que eram os preferidos, e estes sempre colocados como modelo de perfeição para os demais. Para estes, eram dispensados os mais belos elogios, aos outros ficavam com as reclamações e por vezes apelidos inadequados proferidos por um mestre aos seus alunos.

Diante de toda a história seus pais foram à escola e sugeriram trocar Eron de turma, com o intuito de  neutralizar o desgaste emocional pelo qual o menino estava passando. A escola por sua vez assumiu o problema com a professora, e após toda a argumentação dos pais, sugeriu uma tentativa de “reconciliação” entre os dois, professora x aluno, com auxílio de duas profissionais, psicóloga e psicopedagoga. Foram orientados, aluno e professora por vários meses, as intervenções estavam surtindo efeito positivo, porém vez ou outra aconteciam algumas rusgas entre os dois.

O processo de intervenção evidenciou à escola a necessidade de apoio psicológico aos professores, principalmente os que estão próximos da aposentadoria, já saturados por décadas de trabalho em sala de aula, tentando entender as mudanças culturais e sociais de seu dia a dia no ambiente escolar. Percebeu-se igualmente de que os alunos tinham formas diferentes de lidar com as atitudes da professora, uns não ligavam, outros tinham tanto medo que travavam ao ouvir seus nomes, outros porém se rebelavam e com isso criavam problemas muito mais graves do que a diminuição nas notas.

Eron foi convidado à participar da homenagem ao aniversário da professora, foi ele mesmo escolher uma flor pra lhe presentear, investiu no sucesso da relação, mas não surtia o efeito que ele desejava, ouvir um simples elogio.

Após várias intervenções e acompanhamento psicológico (professora e aluno), Eron passou a entender suas limitações e que não necessitava de elogios para poder “respirar”, que todos os alunos tinham seu valor, suas qualidades e seus fãs, e principalmente o ano iria chegar ao fim, e esta professora seria mais uma que teria passagem em sua vida, não com lembranças boas, mas acabaria este processo.

Chegada a data de entrega do boletim, seus pais só ouviram elogios da professora a respeito de Eron, que era um menino estudioso, educado, muito inteligente. Elogios que deixaram os pais do menino intrigados, pois foram meses de dedicação para a resolução dos problemas de relacionamento entre os dois. Quando perguntada sobre como estava a relação entre eles, a mesma disse:

- Tudo bem, eu nunca tive problemas com Eron.

Foi um soco na boca do estômago, foi como se o tempo tivesse  parado, para que rebobinassem toda a fita para saber se aquilo tudo havia acontecido ou era um pesadelo. A professora colocou-se como não partícipe da história, tão pouco espectadora, todo o trabalho de diversas pessoas parecia nunca ter sido realizado. Um momento que parecia não ter fim, um momento de impotência, de desespero, como se todos aqueles momentos de tensão de intenso desgaste emocional fosse obra da imaginação de todos.

Os pais saíram da escola desolados, porém tranquilizados em relação ao término do ano letivo e de que dificilmente, aluno e professora serão colocados juntos numa mesma sala.  Foi um ano difícil, uma fase difícil, uma luta emocional de Eron contra ele mesmo.

Muitas lições ficam desta fase, e a maior delas é de que não podemos mudar ninguém, mas podemos nos reencontrar com nós mesmos e melhorar, para dar as reais proporções aos problemas do dia a dia.