Fanfic: Felicidade em cada página | Tema: Reescrita “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector (Letras)
Eu sempre fui a garota popular da escola, me destacava na multidão por simplesmente ser considerada bonita, já Betina não, era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer garota devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Todas as meninas da escola gostavam de ficar ao meu redor e faziam de tudo para serem minhas amigas, mas Betina como sempre, não fazia a menor questão. Isso sempre me instigou, o que será que tinha por trás daquela cara emburrada?! Certa dia, descobri que Betina possuía o livro Cidades de papel, um romance de John Green. Meu Deus, era o livro dos meus sonhos, o livro que eu pedia todo santo dia para minha mãe e recebia sempre um: Calma Ana! No momento não posso comprar, espere até o Natal. Eu não podia esperar o dia de Natal, precisava fazer com que Betina me emprestasse.Criei coragem e fui falar com ela, expliquei todos os desejos do meu ser em ler aquele livro. Para minha surpresa, Betina foi gentil e disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Bati na porta, ela abriu, não me mandou entrar, mas pude ver uma linda estante de livros na sala de estar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que me daria uma páginaa do livro por dia, fiquei em choque com tamanha crueldade, mas uma página a cada dia era melhor que esperar até o Natal. Não entendi porque ela estava fazendo aquilo, mas aceitei sem questionar. Li aquela folha devagar, eternizando aquelas linhas escritas em minha memória. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. E foi assim por muitos dias, cada vez que eu tinha acesso a uma única página do livro, minha esperança era renovada e eu sabia que chegaria o dia da última página. Era um sofrimento ir todos os dias caminhando até lá, mas a volta era sempre uma alegria, tinha uma página inteira para ser devorada. O livro ficava cada vez melhor, entusiasmada eu não tinha percebido até aquele dia, que não havia nada danificado nas folhas, nenhum rasgo onde deveria ter. No outro dia, fui pisando tão fundo até a casa dela, que minhas pernas doíam. Estava enfurecida. Quando eu estava à porta de sua casa, Betina abriu a porta com um sorriso lindo, ela já me esperava todos dias. Questionei o porquê das páginas estarem perfeitas, ela ficou vermelha, suava de nervoso. Betina me olhou bem no fundo dos meus olhos e disse: Ana, sempre soube que você era perfeitamente bonita, divertida e que todos estão sempre aos teus pés, mas não conhecia seu amor pela leitura. Quando veio até mim, era a oportunidade que eu tinha para ter um pouco da atenção de quem sempre foi o centro das atenções. Vi ali uma oportunidade de te controlar e de ter minha primeira leitora, alguém que realmente sabe apreciar um bom livro. Me desculpe. Todos os dias te escrevo uma página, você está lendo um livro escrito por mim. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. Fiquei um pouco assustada, surpresa com toda aquela confusão. Foi então que, finalmente me refazendo disse: você é incrível Betina! Eu nunca estive no seu lugar até que você me colocou, te agradeço por isso, mas preciso que continue escrevendo página por página desse livro maravilhoso! Betina sorriu, me abraçou e disse que escreveria todo o livro, levaria à escola e me entregaria. Sem que pudéssemos perceber, nascia ali uma linda amizade… Betina me ensinou muito naquele dia e quanto ao livro Cidades de Papel, bom, eu poderia esperar até o Natal.
Autor(a): leidiane_do_nascimento_souza
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