Fanfic: Felicidade Desconhecida | Tema: A Menina
Ela era magra, alta, arrumada, cabelos lisos, de cor clara. Tinha um corpo bonito e avançado para a idade dela, enquanto eu ainda era magra, desajeitada e sem vaidade nenhuma. Isso ainda não era suficiente, vestia roupas da moda, era elegante e metida. Participava de festas, ia a diversos lugares, divertia sempre, mas não aproveitava e nem se importava com um lugar em seu quarto repleto de livros. As suas melhores amigas sempre diziam sobre esse quarto “maravilhoso”. Isso era algo que qualquer pessoa gostaria de ter, inclusive eu, amante de histórias.
Pouco desfrutava. E eu menos ainda: até em datas comemorativas, em vez de pelo menos um gibi, ela me dava uma cartinha, cheia de desenhos e corações. Selada ainda por um adesivo do caderno que menos gostava. Atrás escrevia o remetente com letras bastante bonitas.
Mas que talento ela tinha para me esnobar. Ela toda era pura vingança. Acho que ela me odiava, por eu ser gordinha, quieta e inteligente. Na ânsia de ler, eu nem me importava com a maneira que ela me tratava, fria e sem muita atenção: continuava a pedir-lhe os livros que ela não lia.
Para me provocar, e me causar maior desejo, disse que tinha Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust. Meu Deus era meu sonho ler esse livro. Como se não bastasse disse-me que levaria para a escola no dia seguinte.
Até o outro dia, eu estava cheia de esperança e felicidade: era como se fosse um sonho, em que me via voando, me sentindo leve e contente.
No dia seguinte esperei ela no intervalo da aula, sentada em um banco qualquer. Passando por mim, olhou, e me disse que havia sumido. Triste e cabisbaixa, saí devagar, com a esperança de no outro dia ter o livro em mãos. Comecei a saltitar pelo corredor da escola, por imaginar que no outro dia iria dar certo.
Mas não ficou nisso não. O plano da menina, em me sabotar estava dando certo outra vez. No dia seguinte lá estava eu mais uma vez, esperançosa e com os batimentos cardíacos a mil. Tudo isso pra ouvir ela dizer novamente, que não encontrou. Mal sabia eu que isso ia perdurar por muito tempo.
E assim, se passaram os dias. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indeterminado, e que me fazia sofrer e esperar por mais dias. Mas adivinhando, e tendo a certeza, eu sabia que essa era seu plano maligno.
Quanto tempo? Eu perguntava todos os dias, sentada no mesmo banquinho. Às vezes ela me falava, que havia encontrado, mas que no meio da bagunça perdia-o de novo. E eu, sabendo bem, ficava espantada com tanta covardia.
Até que em uma reunião de Pais, quando eu estava sentada no banco, vendo passar por mim, ela e sua mãe, perguntei se tinha achado. A mãe sem entender, perguntou o que era, pelo fato de não estar entendendo. Até que essa gentil mãe, entendeu. Voltou-se para a filha e exclamou: mas esse livro nunca saiu da sua estante, e você nunca teve curiosidade em ler.
E o pior é que a mãe presenciou as atitudes angustiantes de sua filha. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme: Amanhã irei trazer ela no colégio, me espere no portão, trarei pra você. Isso era tudo que mais queria ouvir, durante todo esse tempo.
Na manhã do dia seguinte lá estava a mãe, com uma caixa nas mãos. Assustei. Não era só o livro que queria, lá dentro tinha mais 15. Recebi a caixa, agradeci. Dessa vez não saltei de alegria por ter conseguido muito mais daquilo que eu queria. Me retirei devagar. Sei que segurava a caixa pesada nas mãos. Quanto tempo levei até chegar ao armário, também pouco importa.
Logo que cheguei em casa, não o peguei pra ler. Deixei ele no criado ao lado da cama, passei olhando pra ele incontáveis vezes, só pra depois vivenciar aquilo que eu tanto esperei. Horas se passaram, então achei o momento propício, abri-o, li e reli alguns trechos, fechei-o de novo, passei mais mil vezes olhando pra ele, fiz meu dever de casa. Criava coisas em minha mente, sobre aquela coisa desconhecida que era a felicidade. A felicidade pra mim sempre iria ser algo desconhecido e novo. Parece que já sabia. Como demorei! Eu vivia flutuando, havia sentimentos que transbordavam todo o meu ser. Eu era uma rainha contente.
Ás vezes sentava- me na cama antes de dormir, colocava ele ao meu lado, e deixava ele ali, aberto.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Autor(a): kaic10
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